O jumento é a salvação

Rubens  Nóbrega

Alguns devem achar que essa é uma idéia de jerico, mas levo a sério e acredito no seu sucesso, principalmente se vier a ser adotada por nosso governador, a quem ouso apresentá-la, mesmo sabendo que o coração republicano de Sua Majestade “é um pote até aqui de mágoa” em relação ao colunista. Mas, como é para o bem da Paraíba…

Começo esclarecendo que pego carona no que escreveu e distribuiu ontem o jornalista Arael Costa (veja abaixo). Dele me aproveito para sugerir que o Governo da Paraíba faça por onde atrair ou instalar no Estado um pólo de criação, engorda, abate, processamento e exportação de carne de jumento para a China.

Agora, se os chineses não quiserem o produto pronto para consumo, que exportemos, então, o bicho vivo, ‘in natura’ mesmo. Talvez eles tenham planos para outras utilidades e habilidades do animal. Se for o que estou pensando, vamos poder enfim bater no peito e dizer que estamos exportando meio de transporte.

Já que não temos e pelo visto jamais teremos carros da Fiat ou de qualquer outra marca para montar e vender pra dentro e pra fora… Já que o sonho da fábrica de helicópteros do Tartaristão depende de Cássio Cunha Lima voltar ao governo… Já que não temos montadora, vamos de montaria, então.


300 MIL POR ANO

A ideia de sugerir tal empreendimento ao governador veio da leitura de notícia divulgada ontem em diversos portais a partir de nota publicado em O Globo sobre o acordo entre Brasil e China que libera o intercâmbio de asnos, “largamente utilizados na indústria de alimentos e na de cosméticos no país asiático”.

O diário carioca informa ainda que os chineses pretendem importar 300 mil jumentos por ano do Nordeste, o que em verdade representa pequeno reforço ao tanto que eles produzem e consomem por lá. Reparem só no que diz o jornal:

– A China abate 1,5 milhão de burros ao ano, criados no país, na Índia e na Zâmbia. O processo envolve tecnologia de ponta, com melhoria genética, cuidados na produção de alimentos específicos e assistência técnica.

No final, sobre o assunto a matéria traz declaração do secretário-adjunto de Agricultura do Rio Grande do Norte, José Simplício Holanda, para quem “o asno hoje só serve para causar acidentes na estrada”.

Pelo visto, graças a esse acordo comercial o burro pode vir a salvar a lavoura, literalmente, em razão da incipiente base agrícola da maior parte do nosso solo. Ou, como gostam de dizer os economistas, o jumento vai “alavancar a economia”, depois de tantos e tão bons serviços prestados aos nordestinos.
O que diz Arael

Por i-meio, o jornalista Arael Costa manifestou ontem sua opinião sobre o acordo para venda de jumentos à potência oriental. Confiram, a seguir.

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Caros amigos, acabo de ler na coluna do Ricardo Noblat, em O Globo de hoje, que está em marcha uma nova “rázia” contra o jumento nordestino, que no século passado quase se tornou extinto, em virtude de sua transformação em charque.

Naquela época, como alguns de vocês podem lembrar, as charqueadas – sediadas na Bahia, em sua grande maioria, quase que dizimaram a “jumentada” nordestina, transformando-a em ração de animais carnívoros e em carne em conserva, exportada em grande volume, talvez, já para países orientais, como a China, que volta à carga.

De certa forma é admissível que se implemente uma cadeia comercial com esse objetivo, mas, como ocorre com o gado bovino, acho que antes se deveria implementar toda uma cadeia produtiva, que se iniciaria pela criação específica desses animais, para o abate, como se sabe que ocorre em países europeus que consomem carne de cavalo, criados de forma intensiva para esse fim.

Passando a notícia a vocês, principalmente àqueles originários de nosso interior, onde em suas infâncias conviveram com esse animal, espero que se faça alguma coisa para evitar a ameaça que se avizinha, que na época de sua primeira manifestação só foi contida pela reação intimorata de um sertanejo brabo, que foi João Agripino, que proibiu, circunstancialmente, a negociação desses animais na Paraíba e o trânsito de lotes adquiridos em outros estados, que seriam transportados para as charqueadas no sertão de Pernambuco e da Bahia.

Vamos ver o que se pode fazer.
O CASO É SÉRIO

É preciso que as autoridades fiquem atentas e tomem providências. Se não for para produzir e vender de forma organizada e proveitosa, que pelo menos protejam os jegues de matança indiscriminada ou de captura e contrabando para Estados vizinhos.

Não é possível que sejamos tão jumentos assim ao ponto de permitir que os outros invadam nosso território para catar nossos animais e com eles ganhar o dinheiro que poderia encher as nossas burras. Não é possível que a nossa economia e a visão dos nossos governantes andem eternamente de carroça. Carroça puxada a burros, diga-se.