Fiquei convencido ontem: esse governo, o governo do Doutor Ricardo Coutinho, está mesmo perdido.
E está perdido não apenas porque importou e pagou a peso de ouro um grupo de médicos do Rio de Janeiro que veio substituir plantonistas no Hospital de Trauma, em mais uma clara tentativa de intimidar, desmobilizar e esfacelar o movimento reivindicatório da prata da casa.
O governo e o governador estariam perdidos não apenas porque sequer tiveram o cuidado de pedir ou conferir a folha corrida – consequentemente, os antecedentes criminais – e até mesmo os diplomas de cada membro do grupo de médicos importados do Rio, vez que pelo menos um deles foi preso e processado por tráfico de drogas.
O governador não estaria perdido apenas porque manda ou permite que se cometam perversidades como descontar faltas de servidores, professores principalmente, que se encontram de licença médica ou em férias e, mesmo assim, tiveram seus salários criminosamente desfalcados.
O governo estaria perdido não apenas porque desrespeita sistematicamente direitos dos servidores públicos, chegando ao absurdo de parcelar o pagamento de terço de férias e incorporar gratificações não para beneficiar, mas, no caso do magistério, para fingir que atingiu e até ultrapassou o valor do piso nacional estipulado em lei de constitucionalidade confirmada pelo Supremo.
O governador estaria perdido não apenas por acreditar que o Estado está voltando à normalidade só porque professores e médicos voltaram a trabalhar, como se essas categorias não tivessem encerrado seus movimentos grevistas ou de paralisação por força de ordens judiciais.
O governo estaria perdido não apenas porque paralisou, descontinuou ou interrompeu obras e serviços públicos os mais diversos, de cursos de capacitação à entrega em domicílio de boletos do Detran, só para dar a impressão de que encontrou um Estado desmantelado e assim poder botar a culpa no antecessor.
O governador estaria perdido não apenas porque insiste em que pegou um Estado quebrado e continua deficitário, para logo em seguida ser desmentido pelos próprios balanços que publica por imperativo legal e demonstram justamente o contrário, inclusive que o governo dispõe hoje de pelo menos R$ 525 milhões, líquidos, em caixa.
O governo estaria perdido não apenas porque suas práticas desmoralizaram seu próprio discurso moralizador, começando pela substituição, por critérios políticos, dos prestadores de serviço que demitiu aos milhares, ao mesmo tempo em que só nomeia concursados quando obrigado pela Justiça.
Esse governo, o governo do Doutor Ricardo Coutinho, está perdido porque agora recorre ao que existe de pior entre os seus chaleiras, ao que existe de mais desqualificado entre os venais a seu serviço, para detratar quem lhe faz oposição ou crítica.
Leia, Excelência
O governador Ricardo Coutinho bem poderia ler esta coluna vez em quando, para sentir um pouco o sentimento dos outros em relação ao governo dele.
Só assim ele saberia da existência de gente como The Doctor, gente que tem inteligência e classe para criticar, como teria para defender, se Sua Excelência desse ouvido a quem realmente quer o bem da Paraíba.
Mas talvez a soberba tenha eliminado a sensibilidade do governador para as coisas do bem e ele, além de achar feio tudo que não é espelho, parece só ter ouvidos para certos pilantras e interesseiros que o cercam.
De qualquer sorte, vou tentando fazer a minha parte, por aqui. The Doctor também, como mostra no suelto de autoria dele que transcrevo adiante, pra fechar a coluna de hoje com a qualidade que os leitores e leitoras deste espaço merecem.
Diga aí, Doutor
Rubens, eu queria ser Bombeiro antes de me decidir pela Medicina lá por volta dos seis ou sete anos de idade. A imagem de um homem todo de vermelho enfrentando o fogo com imensa bravura me fascinava. O espírito dos Bombeiros e dos Médicos é forjado no mesmo fogo do heroísmo. A glória de salvar uma vida é o que os motiva e os impulsiona a viver.
Os Bombeiros mais antigos resgatavam as vítimas de dentro do fogo, da água ou da terra. Atualmente, as ocorrências em acidentes de trânsito lideram a casuística. Eles realizam os primeiros socorros e nós Médicos damos continuidade, empreendendo os últimos.
A cada dia eles atuam mais próximos.
As semelhanças não param por aí. Em ambos, os processos de seleção e de formação são os mais rigorosos que se conhece. Exigências de natureza física, intelectual e moral não encontram semelhança em nenhuma outra profissão. Estão expostos a todos os tipos de riscos: explosões, afogamentos, soterramentos, radiações, infecções e agressões. Lidam com o que existe de mais falível e vulnerável que é a vida do ser humano.
O terceiro adjetivo ao tema da frase anterior (precioso) eu tenho receio de apontar. Eu penso que a vida humana começa a não valer muita coisa neste país. Deduzo isto pela forma como esses profissionais estão sendo vistos, tratados e, principalmente, valorizados por parte da população, da imprensa e dos governos.
No Rio de Janeiro, após inúmeras manifestações realizadas, os Bombeiros daquele Estado (retrato deste País) finalmente invadiram o seu Quartel Central, junto com esposas e filhos, numa atitude de desespero da parte de quem se espera equilíbrio e sangue frio. Foram presos e desonrados por parte do Governador que os chamou de vândalos e irresponsáveis.
Por coincidência (ou não, como diria Caetano), Médicos do Rio de Janeiro vieram passar este final de semana aqui em João Pessoa para dar plantão no Hospital de Trauma, onde outros “vândalos e irresponsáveis” estavam se recusando a trabalhar nos moldes da Medicina Socialista que não aprenderam a praticar.
Este acontecimento, creio eu, traz uma boa idéia para a solução dos problemas de lá e de cá: mandamos nossos Médicos e Bombeiros para o Rio e eles nos mandam os deles. Seria uma boa oportunidade de atualização e reciclagem para ambas as categorias profissionais, pois o Rio já foi governado por um Socialista histórico (Leonel Brizola), além de ficar bem mais perto do que Cuba. Sairia bem mais barato partindo em legiões embarcadas por Cabedelo ou mesmo por Suape. Não é uma boa?
The Doctor.