O Governo, a CPI e o futuro

Gilvan Freire

Walter Santos, semana passada, chamou a atenção da população para o significado que tem a CPI da Cagepa, cujo requerimento parlamentar já possui mais de 15 assinaturas, quando só precisa de 12, e que vai ser apresentada ou não nesta quarta-feira.

De fato, antes mesmo de ser oficialmente instalada, a CPI da Cagepa já levou o governo a abrandar o tom conflituoso de seu persistente discurso contra o Poder Legislativo e seus membros, porque RC sabe que essa CPI devassará o governo que anda bem de bolso mas não anda nada bem das pernas ( e nem do juízo).

Esse seria o primeiro tiro certeiro dos deputados no fígado do governador, que vem fazendo de tudo para incompatibilizar a Assembleia com a opinião pública, a fim de, uma vez fragilizada, submetê-la a seus caprichos, ira e dominação.

Em princípio, o sentimento predominante no Parlamento era de aprovar o empréstimo e criar uma Comissão Parlamentar Especial para acompanhar as operações financeiras e auditar a Cagepa, através de uma empresa nacional de auditoria independente, que seria contratada pelo poder. Depois de aberta a caixa preta da Cagepa, dependendo dos problemas encontrados, viria em seguida a CPI, com o fato já determinado.

Tudo mudou de repente por dois motivos imprevistos, o insulto acachapante de um auxiliar palaciano do governador aos deputados, qualificando-os de ‘bandidos’, sem qualquer reprovação mínima de RC, e a mobilização dos servidores da Cagepa para sitiar a Assembleia e pressionar os deputados na aprovação do empréstimo de R$ 156 milhões, até hoje pouco explicado, a não ser com relação a sua suspeita urgência.

A sessão de quarta esteve tensa, pois os servidores tomaram as galerias e a frente da AL, inclusive com o uso de carro de som. E os discursos parlamentares, que estavam acertados entre todos para abordar os insultos morais desferidos pelo Palácio contra o Parlamento, cedeu lugar a uma manobra de maior poder de fogo e bem maior dimensão: a instalação de uma CPI para por o governo a pique.

Aconteceu, porém, um fato surpreendente que nem os deputados e nem o governo poderiam imaginar: quando o deputado Gervásio Maia apresentou números e dados que desmentiam todas as informações da Cagepa, ponderou que só uma CPI poderia tirar a Cagepa e o governo a limpo. Foi ai que a galeria inteira aprovou. Estava claro a partir daquele instante que os servidores da Cagepa, que pareciam atuar com o mais deplorável peleguismo, defendiam o empréstimo em causa própria, e não a serviço do governo.

Descobriu-se, enfim, que para afrontar e ajoelhar o Legislativo, RC está sozinho, fora e dentro do Parlamento. Foi naquele momento que o governador também percebeu que a Assembleia pode encurralá-lo mais do que ele a Assembleia. Já é um extraordinário equilíbrio e avanço.

Se RC amenizou seus discursos de intolerância de quarta passada para cá é porque já compreendeu que o Poder Legislativo não pode menos do que ele. Além de poder devorá-lo com uma CPI que invada as entranhas do seu governo, onde moram segredos inconfessáveis e perigos insondáveis, a CPI impedirá não apenas o empréstimo da Cagepa, mas todos os demais que RC quer tomar com o fim de endividar o Estado até a quinta geração e pegar dinheiro de agiotas oficiais (a bancos) para tentar montar um esquemão de obras e salvar a própria pele ameaçada de espichamento. Se tudo der errado, ele vai ser hóspede de curtumes. Vai por a pele a outra prova.