Apesar do frisson entre os aliados com a reforma ministerial que será feita entre meados de janeiro e o carnaval, a presidente Dilma Rousseff ainda não abriu negociação com os partidos. A presidente pretende aproveitar a saída de dez ministros que disputarão as eleições do ano que vem para amarrar apoios à sua campanha de reeleição.
O desprendimento do PMDB em relação ao Ministério da Integração Nacional facilitaria a acomodação de Ciro Gomes (PROS). Ele será recompensado por ter deixado o PSB — que lançará a candidatura à Presidência da República do governador de Pernambuco, Eduardo Campos — para apoiar a reeleição de Dilma.
O PROS tenta emplacar Ciro no Ministério da Saúde, mas o PT e o atual titular da pasta, Alexandre Padilha, que disputará o governo de São Paulo, resistem. Eles trabalham pelo nome de Mozart Sales, atual secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do ministério. Sales ficaria responsável por dar continuidade ao programa Mais Médicos, carro-chefe não só da campanha à reeleição de Dilma como do próprio Padilha, que tenta esticar sua permanência no cargo o máximo possível, garantindo assim mais visibilidade na pré-campanha.
O PT também tenta emplacar o deputado Ricardo Berzoini (SP) na Secretaria de Relações Institucionais, responsável pela articulação política do governo. Hoje, essa secretaria, que tem status de ministério, é comandada pela petista Ideli Salvatti. Ainda que ela desista de disputar uma vaga no Senado por Santa Catarina, seu desempenho é considerado ruim pelo próprio partido.
Ideli fechou o ano criando uma crise desnecessária com o PMDB, ao anunciar que Dilma vetaria, na Lei de Diretrizes Orçamentárias, as regras do orçamento impositivo, que torna obrigatório o pagamento de uma parte das emendas parlamentares. Para amenizar a crise, a presidente se comprometeu a sancionar esse item.
Berzoini tem dito que não pretende ir para a Esplanada dos Ministérios porque não abrirá mão de disputar a reeleição para a Câmara. Dirigentes do PT, no entanto, minimizam a atitude do deputado, afirmando que ele diz isso porque ainda não recebeu um convite formal de Dilma para assumir a função.
Apesar de o governo Dilma possuir 39 ministérios, o cobertor é curto para acomodar todos os partidos aliados. Se, por exemplo, nomear Ciro na Integração Nacional e o PMDB na pasta das Cidades, a presidente terá que compensar o PP. Atualmente, o Ministério das Cidades é comandado por Aguinaldo Ribeiro, que disputará o governo da Paraíba.
Nas eleições de 2010, o PP ficou neutro, apesar de fazer parte do governo Lula. O partido ainda não garantiu apoio à reeleição de Dilma, mesmo assim, quer manter a pasta das Cidades e ainda ocupar a da Integração Nacional, já que se tornou a terceira maior bancada da Câmara, depois de formar um bloco com o PROS.
O PMDB, que ocupa cinco ministérios, mas passou os últimos três anos reclamando de estar sub-representado por considerá-los fracos, agora não aceita abrir mão de nenhum deles, mesmo que receba as cobiçadas pastas de Integração Nacional ou Cidades, que sempre reivindicou.
O partido reagiu mal quando foi levantada a possibilidade de ser desalojado do Ministério do Turismo, um dos que eram desprezados pela sigla. O ministro do Turismo, Gastão Vieira, que é do PMDB, deixará o cargo para disputar a reeleição para a Câmara.
Além de ganhar Integração Nacional ou Cidades, o PMDB ainda deve ganhar, de quebra, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, atualmente comandado pelo petista Fernando Pimentel, que disputará o governo de Minas Gerais. Para o seu lugar está cotado Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice presidente José Alencar e recém-filiado ao partido. Peemedebistas afirmam, no entanto, que Josué seria da cota do ex-presidente Lula, e não do partido.
Mantega fica na Fazenda
Josué é presidente da Coteminas e integra a diretoria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ele seria uma peça importante para tentar resolver um dos principais problemas do governo Dilma: a má relação com o empresariado. O setor reclama de falta de diálogo e do intervencionismo por parte do governo federal.
No xadrez da reforma ministerial, as únicas definições até agora são a manutenção do ministro Guido Mantega na Fazenda e a ida de Aloizio Mercadante do Ministério da Educação para o comando da Casa Civil. Havia dúvida se Mercadante, em vez da Casa Civil, seria escolhido para coordenar a campanha à reeleição de Dilma. A atual ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, reassumirá seu mandato de senadora e disputará o governo do Paraná.