O Futebol e suas Excrescências

Bruno Filho

Vivendo em um País cheio de problemas e desordens sociais, deparamos mais uma vez com atos e atitudes tomadas com a conivência do Governo e dos Parlamentares que servem apenas como “trampolim eleitoreiro” e desrespeitam o mínimo de bom senso que deveria existir em relação ao povo.

Dentre muitas, essa que vou citar é mais uma ação desnecessária, nem tanto pela maioria dos envolvidos, porém pela falta de equidade no tratamento dos “iguais”. Refiro-me a Lei de número 12.663, sancionada pela Presidente da República e que leva o nome de ” Lei Geral da Copa”.

Ela trata sobre tudo o que é relativo à Copa das Confederações e à Copa do Mundo, o que todos na maioria já sabem, incluindo as bebidas nos Estádios, preço de ingressos, e muitas outras coisas que não vêm ao caso citar neste comentário. O foco é outro e vou relatar.

Reporto-me ao item que trata de um prêmio pago a ex-jogadores de futebol, acrescidos de um benefício vitalício aos mesmos, na minha opinião sem motivos para que existissem. Transforma o futebol em algo acima do bem e do mal, o que não é verdade. Trata de paixões, é verdade, mas nem por isso pode sobrepujar o restante.

O futebol ou os jogadores de futebol tem uma profissão como qualquer outra e assim deveriam ser tratados. Pelo contrário é a unica que dá chance a seres humanos de enriquecer rapidamente, trabalhar por poucos anos, não exige estudo nem tampouco conhecimento cultural. Nem um simples “nome limpo” ela exige.

Então por quê jogadores serem beneficiados com 100 mil reais de prêmio e mais uma pensão vitalícia ? Seres humanos comuns precisam trabalhar por 35 anos para receber um pequeno salário mínimo, quando não, têm que atingir 65 anos de idade. Um sufoco inominável para receber aumentos irrisórios uma vez por ano e olhe lá.

No que os ex-jogadores seriam diferentes ? Aqueles que por infortúnio não fizeram o seu pé-de-meia, todos tiveram essa chance, que paguem as penas da malversação de seus recursos. O que Zito, só um exemplo, é melhor do que o “seo” Antonio meu vizinho que madrugou décadas trabalhando ?

São 51 nomes. Os vivos: Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Nilton Santos, Zito, Pelé, Zagallo, Dino, Moacir, Mazzola, Pepe, Amarildo, Jair Marinho, Altair, Mengálvio, Jair da Costa, Coutinho, Carlos Alberto, Brito, Piazza, Clodoaldo, Gerson, Rivelino, Jairzinho, Tostão, Ado, Leão, Zé Maria, Marco Antonio, Baldochi, Joel Camargo, Dario, Roberto, Paulo Cesar e Edu.

Os falecidos: Castilho, De Sordi, Mauro, Orlando, Oreco, Didi, Garrincha, Joel, Vavá, Dida, Zózimo, Jurandir, Zequinha, Felix, Everaldo e Fontana. Não vou julgar quem merece ou não merece o benefício vitalício, pois é subjetivo. O que é pouco para Rivelino pode ser muito para Jair Marinho.

É o ato que contesto. Outro detalhe, na suposição de que é correto por quê então não pagar nada aos campeões de 94 e de 2002 ? Talvez Viola, precise muito mais de ajuda do que Gerson. Junior, ex-lateral do Palmeiras, esteja mais necessitado do que Tostão. Todos foram Campeões do Mundo.

Serão inicialmente 5,1 milhões saindo dos combalidos cofres públicos e mais as eternas aposentadorias, premiando aqueles que não agiram corretamente, ou seja, não pensaram no futuro, gastaram desbragadamente e não souberam se planejar. É um direito ou foi um direito deles. Desde que com o seu dinheiro e não o nosso.

Sou um homem do futebol, sempre fui e sempre serei. Mas não posso compactuar com isso nunca. No contato com o povo e na minha própria vida sei como é difícil chegar a uma sofrida aposentadoria. Nada contra os craques que me deram as maiores alegrias futebolísticas que tive, mas não é justo.

Concluindo. No passado criticaram Paulo Maluf, então da Ditadura Militar por ter dado de presente um “Fusca” a cada Campeão do Mundo no México, e agora fazem a mesma coisa, ou pior, gastam muito mais do que os 750 mil que custariam hoje os simpáticos e já aposentados carrinhos alemães.

Bruno Filho, jornalista e radialista, numa típica prova dada pelo Governo: ” o roto falando do rasgado…”