O fiasco da missão Cuba

Gilvan Freire

á estava previsto. Provavelmente ninguém seria capaz de achar que a visita do governador da Paraíba a Cuba pudesse trazer algo concretamente vantajoso ao Estado. Daí por que surgiram logo no início as suspeitas de que RC objetivava apenas emprestar verniz político a essa missão esquisita e desproposital.

No princípio sobrou a especulação de que RC, caído em desgraça com seu próprio coletivo, por causa do projeto neoliberal da privatização do Trauma, levado a efeito de forma ilegal e clandestina baseado na experiência malsucedida de José Serra em São Paulo, queria limpar a cara com esse e outros setores socialistas do Estado. Ir a Cuba significava vestir a máscara de Fidel e Guevara e passar a ideia de que, apesar da operação neoliberal do Trauma, mais nada havia mudado nos compromissos ideológicos de RC. Tanto que estava indo a Cuba reverenciar Fidel e seu irmão Raul Castro e prestar continência ao comandante das selvas sulamericanas, o chefe guerrilheiro Guevara, mais vivo do que muitos, passados esses anos todos de seu martírio em mãos militares assassinas. Quem sabe, de lá pudesse trazer uma foto ao lado de Fidel, envelhecido e trêfego. Ir a Cuba e não ver Fidel é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa.

RC, a rigor, estaria dispensado desse sacrifício. Todos os socialistas do Estado, afora os que são empregados do governo e auferem salários públicos para fazer o culto à personalidade de RC, desencataram-se com o Fidel paraibano. Ele poderia fazer mal a muita gente, como faz hoje no governo, no melhor estilo do Fidel de lá, mas não poderia passar a imagem de entreguista associando-se às políticas neoliberais de FHC. Houvesse um ‘paredon’ local, RC já estaria com o corpo crivado de balas pelos cubanistas da Paraíba, porque traiu a categoria.

NA VOLTA, A TRISTEZA E AS MÃOS ABANANDO

Chegado de Cuba e evitando falar sobre a missão desastrosa, RC não pôde contar vantagens. Que país do mundo hoje iria a Cuba para sair de lá contando vantagens? RC retornou apenas encabulado.

O governador ausentou-se do Estado, o Erário fez despesas e a Paraíba nada ganhou. Nem poderia ganhar mesmo. Cuba tem uma economia estatal tão pobre quanto pobre é a sua população. Tudo que há na sociedade cubana que possa ser entendido como solução para os problemas do povo tem resultado nivelado por baixo. Ou seja, é atendimento básico das demandas da população.

Da missão Cuba sobra apenas a desconfiança fundada de que, sem ganhos políticos ou econômicos, RC quis tramar contra os médicos de seu Estado, ameaçando trazer e contratar (pela Cruz Vermelha, certamente), os profissionais de fora. Pode haver idiotice maior do que essa?

Talvez fosse o caso (e claramente o é)de RC cuidar da administração e dos projetos estruturantes da economia paraibana. Até mesmo colocar o nosso Estado na dependência do surto de desenvolvimento do vizinho Pernambuco pode ser uma solução para quem perdeu a noção de que governar é ousar com atos de grandeza, fazer o bem, construir a paz, ser leal aos princípios da moralidade e da legalidade públicas, e não se deixar mover pela vaidade doentia, pelo sentimento da perseguição e pela pequenez das picuinhas que ocupam a mente dos que não medem o tamanho de suas responsabilidades.