O estresse de Cássio

Rubens Nóbrega

Convenhamos. Não tem sido fácil a vida do ex-governador Cássio Cunha Lima. O homem está uma pilha e não é pra menos. Também…
É uma grandeza o tanto de dissabores, frustrações e decepções que ele vem colecionando nos últimos dez meses.

À distância e sem o menor acesso à pessoa dele, ouso intuir que a maior parte do aperreio, estresse ou tristeza do ex-governador vem, muito provavelmente, do impasse jurídico-burocrático que impede a sua posse no Senado.
Secundariamente, mas não menos relevante, outro enorme desconforto cassista é a impopularidade do governador que ajudou a eleger.

E do qual não pode se afastar agora ou com o qual não pode romper tão cedo, sob pena de ser acusado de fazer igual a rato de navio durante naufrágio.

De uma coisa tenho certeza: tirando uns poucos mais chegados que se deram bem, premiados com boquinhas das boas na Nova Paraíba, a grande maioria do planeta Cunha Lima está entalada com o Ricardo I.

Só pra vocês terem uma idéia, não fosse a necessidade de tratamento da saúde em São Paulo, se demorasse um pouco mais por aqui o ex-governador Ronaldo Cunha Lima teria problemas sérios no seu ombro amigo. De tanto consolar desconsolados com o Ricardo I que o procuravam.
Arriscar-se-ia ainda a ter problemas de audição, de tanto ouvir lamentações de quem ‘alugava’ o poeta como meio de chegar aos ouvidos de Cássio.

Sinceramente, ainda não vi um cassista que goste dos métodos imperiais e dos modos absolutistas do governante, senhor das aflições de milhares de paraibanos, a maioria dos quais servidores públicos e prestadores de serviço ao Estado.

Mas, por terem sido avalistas do cara nas eleições de 2010, por terem vendido e servido à população como bom e saboroso um prato tão indigesto, Cássio e os cassistas ficam naquela de não poder engolir de vez nem botar pra fora.
Pior: têm que agüentar calados, com aquele ‘bolo’ atravessado na garganta.

 

Cobrança dos decepcionados
Quem mais sofre com tudo isso, seguramente, é o próprio ex-governador. Que não pode sequer desfrutar de sua imensa popularidade no convívio direto com o povo.

Segundo me contam amigos comuns, quando aparece em público a coisa mais difícil do mundo é não ser cobrado, é não ouvir alguém ‘passando em rosto’ o voto dado a Ricardo na conta ou por conta do grande eleitor.

Cobram dele, sobretudo, o fato de ter apoiado alguém que aos olhos e sentidos de parcelas significativa da população vem descumprindo integralmente compromissos assumidos em campanha.

Como se fosse pouco, ainda acusam Sua Majestade de massacrar praticamente todos os segmentos do funcionalismo estadual.

“Cássio já teve que sair correndo do Centro Administrativo e do Detran, porque, onde ele chega, a ladainha é uma só”, disse-me esta semana uma pessoa do povo.

Que completou assim: “O povo corre pra cima dele e já começa a culpá-lo pelos arrochos e desacertos de Ricardo. Afinal, Ricardo só ganhou porque ele (Cássio) mandou votar”.

Verdade ou não, é possível. Além do quê, é gente fina, elegante e sincera, como diria o poeta Lulu, que me traz notícias dos apuros do ex-governador.

Mas Cássio teria uma razão bem particular para ficar desgostoso com o governo que aí está. Seria o desmonte da obra com que reverteu no seu segundo mandato (2007-fevereiro de 2009) o desastre do primeiro (2003-2006).

 

Aliados e liderados no sereno
Como bem disse Gilvan Freire em seu mais recente artigo (‘Secreto não é o encontro, é o interesse’), “os principais programas do governo Cássio e seus principais aliados e liderados foram postos no sereno pelo governo de RC”.
Segundo o nosso mega analista político, o cassismo e os cassistas estão “sucateados ou enferrujando”.

Adverte que esse processo não tem volta, mas tem como vítimas certas o próprio Cássio e programas como Bolsa Escola, Bolsa Atleta, Gol de Placa, Pão e Leite, Ciranda de Serviço e Cheque-moradia.

Sem contar a política para o servidor que Cássio inaugurou produzindo PCCRs em série e adotando medidas de impacto hiper positivo entre os funcionários, a exemplo do meio expediente que Ricardo I acabou sem nenhum agrado compensatório.

Por essas e outras, o ex-governador anda estressado, irritadiço, de um jeito “que ninguém pode chegar perto”.
Até mesmo apelos para que ele desça logo do Coletivo RC e volte para “os braços do povo” o homem entende como provocação e reage com raiva.

Reage porque, como político experiente, sabe que não pode nem deve se afastar do governador neste momento.

Tem mais é que ficar na dele e torcer pelos resultados pretendidos da estratégia ricardista para recuperar o cartaz com os governados.

Uma estratégia – como já disse e está mais do que na cara – baseada em fazer caixa agora para bancar folgada e generosamente os previsíveis benefícios que devem vir em ano eleitoral ou pré.