O coro veio para ficar

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Nonato Guedes

O analista Antônio Augusto de Queiroz, em artigo no site “Congresso Em Foco”, avalia que os protestos populares no país tendem a ganhar intensidade em 2014, especialmente por ocasião da Copa do Mundo e das eleições presidenciais. Segundo ele, a resposta das instituições, aí incluindo governo, Parlamento e partidos, dificilmente terá o condão de atender a todas as aspirações, anseios e reivindicações dos manifestantes. É que mesmo não tendo havido piora nos indicadores econômicos, sociais e éticos, na amplitude alardeada pela mídia do Triângulo das Bermudas (São Paulo, Rio e Minas) os cidadãos que foram às ruas se sentiram ameaçados/indignados em suas quatro dimensões.

Na dimensão do eleitor, por não estarem satisfeitos e, consequentemente, por não se sentirem representados pelas instituições. Na dimensão de contribuinte, por desconfiarem de má aplicação dos recursos públicos, como eventos da Copa das Confederações, denúncia de desvios, incentivos e renúncias para as empresas “X” da vida, além do uso inadequado de bens públicos por autoridades dos três poderes. Na dimensão de usuários de serviços públicos, pela insuficiência e/ou má qualidade desses serviços, especialmente de transporte coletivo, de saúde, de educação e de segurança. Enfim, na dimensão de consumidor, por temerem o retorno da inflação e dos juros altos, da desvalorização do real frente ao dólar, do aumento dos preços de produtos e serviços administrados pelo governo, como transportes coletivos, planos de saúde, telefonia, conta de água e luz, entre outros.
Queiroz observa que embora ninguém esteja pedindo a destituição do governo nem a substituição da política macroeconômica, a insatisfação também está presente no mercado que questiona o controle do governo sobre as margens de lucros das empresas concessionárias de serviços públicos ou daquelas que concorrem com estatais, e no Parlamento, onde o clima não está bom, inclusive dentro da base, e existe a ameaça de adoção do orçamento impositivo. No seu ponto de vista, quem melhor sintetizou a crise foi o governador Eduardo Campos, que na reunião dos governadores e prefeitos com a presidente, disse que há três crises em curso: uma de representatividade, outra de valores, e uma terceira de má qualidade dos serviços públicos. “A presidente Dilma – ninguém nega isto – tem feito um esforço sincero para controlar a inflação, eliminar a miséria e combater a corrupção, além de tentar melhorar os serviços públicos”.
Por isso, apesar da queda de popularidade, Dilma ainda goza de credibilidade política e pessoal para reverter esse quadro, mas não o fará sem mudar seu estilo centralizador, sem reforma ministerial e sem diálogo com a sociedade, com o Parlamento e com o mercado. Queiroz conclui: “Resta saber se ela (Dilma) está disposta a esse “sacrifício”. A leitura que ele faz é pertinente quanto ao perigo de continuidade das manifestações. Perigo, naturalmente, para os que estão no poder, que usufruem de privilégios e sabem que a voz das ruas é dirigida, também, contra os acintes costumeiros disparados no encalço da opinião pública. Convém lembrar que, mesmo depois das primeiras rodadas de protestos, presidentes de Casas do Congresso foram pilhados usando jatinhos oficiais até para passear com a namorada no Rio de Janeiro, assistindo a um jogo de futebol.
São essas atitudes que contribuem para fazer avançar o sentimento de insatisfação generalizada. A moçada que está nas ruas protestando não está para brincadeira. Políticos que adotam a carapuça de avestruz, como Renan Calheiros e Henrique Alves, estão insultando as massas atraídas para a praça pública. Tornam-se alvos da fúria porque estão desdenhando da indignação com a impunidade reinante e a sucessão de escândalos em marcha no país. Quando se esperava que fossem dar exemplo de austeridade, eis que apelam para a esbórnia ou a ostentação com o suado dinheirinho do contribuinte. Essa conta o cidadão comum não quer pagar de jeito nenhum. E está absolutamente certo.
A conjuntura continua pedindo mea-culpa de representantes de instituições. Os manifestantes não estão gastando energias movidos pelo único interesse de aparecer. Eles têm bandeiras concretas a exigir, e seu pronunciamento deveria merecer consideração maior por parte dos que estão encastelados no Olimpo. Quem quiser ignorar o simbolismo da primavera brasileira, será tragado pela correnteza das urnas, estuário legítimo do inconformismo popular. Quem viver, verá!