O contraponto de Mário

Rubens Nóbrega

Tenho o privilégio de oferecer hoje aos leitores o qualificado contraponto do administrador, economista e articulista Mário Tourinho à coluna de ontem (‘A cidade do carro’), na qual defendi que em João Pessoa, atualmente, é mais barato andar de carro do que de ônibus.

Secretário executivo da AETC-JP (Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de João Pessoa), Tourinho mostra que essa possibilidade ou economia só alcançaria, no máximo, 20% da população da Capital que dispõe de automóvel particular.

Elegante e inteligente como sempre, o representante do empresariado que detém a concessão do transporte público de passageiros também comenta outras nuances da questão, a exemplo do investimento em metrô e as restrições à livre circulação de carros, que ainda não foram adotadas em João Pessoa.

Vamos, então, a essa importante contribuição a um debate que o colunista gostaria de ver ampliado e aprofundado. Afinal, o que está em jogo e discussão é a mobilidade urbana, essencial para a qualidade de vida que queremos na vida daqueles que ainda estão por aqui e, sobretudo, daqueles que ainda virão.

Deixo vocês com o Doutor Mário Tourinho, a partir deste ponto.

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Prezado Rubens Nóbrega, sempre é difícil questionar-se um texto seu, obviamente publicado em sua coluna do Jornal da Paraíba, a exemplo do da edição desta terça-feira, 8 de novembro, de título “A cidade do carro”.

Não há como discordar das intenções (que são de muita gente – e minhas também) em andar a pé para inclusive reduzir a “circunferência abdominal”.

Não há como discordar da “conta simples” entre a passagem do transporte coletivo (R$ 2,10) e o litro de gasolina (R$ 2,28) para concluir ser “extremamente mais confortável usar o carro em vez do ônibus”… Óbvio que para quem tem carro.

Não há como discordar que, para quem tenha carro (e só 20% da população pessoense o têm), a opção pelo ônibus para determinados percursos e destinos não representa economia estimuladora.

Não há como discordar de que tem sido praticada pelo Governo Federal uma política de “segurar a inflação segurando os preços da gasolina”, sem adotar o mesmo critério em relação ao óleo diesel, que é o combustível dos ônibus e do transporte de cargas.

Não há como discordar da colocação expressa em seu texto de que as empresas operadoras não podem adotar um “segurar a tarifa” diante do aumento de seus custos operacionais, como o “reajuste do salário dos empregados”, neste ano já implantado desde julho em um percentual de 9% sem ainda, já passados quatro meses, ter-se repassado para o preço da tarifa.

Quanto aos investimentos em metrô, entretanto, estes, em todas as cidades do mundo, são próprios e feitos pelo setor público, tendo em vista seu grande volume de recursos, só assumido por grandes metrópoles quando não mais viável outra opção.

Registre-se, por exemplo, que o custo médio do quilômetro do metrô de São Paulo está em R$ 100 milhões, mas há cidades em que esse custo alcança até R$ 200 milhões, sendo que R$ 200 milhões (por um só quilômetro de metrô) é o custo total do projeto “Caminhos Livres” da cidade de João Pessoa, compreendendo 50 quilômetros de vias e 4 novos terminais de Integração.

Outro aspecto, caro Rubens, que precisa ser evidenciado, é o de que em nenhuma cidade do mundo há registro de que as pessoas tenham deixado seus carros particulares nas garagens e optado pelo transporte público simplesmente por este transporte público oferecer qualidade atrativa.

Não! As pessoas deixam seus carros em suas garagens em face das restrições existentes para essa utilização, seja por altas taxas de cobranças de pedágios urbanos, seja pelo elevado preço de estacionamento, seja pela própria proibição de circulação de automóveis em determinadas vias, principalmente nas áreas centrais.

Atenciosamente, abraça-o Mário Tourinho.

SÓ UM REPARO

O prazo de validade do investimento em metrô é coisa pra um século, enquanto os benefícios reais de obras tipo ‘Caminhos livres’ esgotam-se em menos de um lustre. E aí seriam necessários mais R$ 200 milhões, adiante mais outros R$ 200 milhões…

Cássio: uma missão

Se quiser, o agora senador de fato e por direito Cássio Cunha Lima pode investir o peso de sua liderança para fazer da representação da Paraíba no Congresso uma bancada federal digna desse nome, algo que o Estado perdeu por picuinhas e mesquinharias desde a morte de Humberto Lucena.

Torço para que ele trabalhe nessa direção e vejo facilidade para união dos nossos senadores quando em jogo estiver o interesse maior da Paraíba. E rezo para que a união no Senado sugestione positivamente nossos deputados federais, incluindo alguns que se deixam guiar por questões paroquiais e divisões intestinas em seus partidos.