O Ciclo das Virtudes

Rubens Nóbrega

Trago hoje uma sugestão com o perfil da gente boa da Paraíba: fina, elegante e sincera. A sugestão tanto vai para o governador Ricardo Coutinho como para o prefeito Luciano Agra e os secretários de Educação e Cultura de ambos os governos.
Consiste em trazer para exposição na Paraíba, em lugar apropriado (Espaço Cultural, Estação Ciência, Conjunto São Francisco, Hall da Reitoria da UFPB, novo Museu de Artes da UEPB etc.) a mostra sobre o Ciclo das 7 Virtudes, atualmente em cartaz na Biblioteca Nacional, Centro do Rio.
As virtudes foram relacionadas e organizadas segundo a lista de Prudêncio, que estabeleceu em seu poema épico Psychomachia “uma batalha entre as virtudes e os vícios, obtendo grande popularidade na Idade Média”. Vamos às virtudes e respectivos ‘pecados’ oponentes, do jeito como o poeta a formatou:

• Caridade/Amor x Inveja
• Humildade x Orgulho
• Mansidão x Ira
• Diligência x Preguiça
• Generosidade x Avareza
• Temperança x Gula
• Castidade x Luxúria


A vez da Humildade

A primeira virtude, a Caridade, já teve os seus dias de visitação pública lá no Rio. Agora chegou a vez da Humildade se apresentar, através de 20 obras que a retratam e ficam à disposição dos visitantes até o dia 2 de novembro.
Quem tiver a felicidade de ir ou estar no Rio por esses dias, deve procurar o Salão de Obras Raras da Biblioteca Nacional, onde a Humildade estará aberta aos visitantes. Pelo menos à visão e interesse deles. Entrada franca.
Segundo divulgou a FBN/Ministério da Cultura, “a imagem representativa dessa mostra é o emblema da Humildade, de face simbólica feminina – uma mulher, com a cabeça e olhos baixos, e os braços cruzados sobre o peito, em sinal de contrição; aos seus pés, há uma coroa, simbolizando o menosprezo por toda a glória”.
E complementa: “A imagem, gravada em metal, compõe a obra Iconologia, de Cesare Ripa, publicada em Veneza, 1669, e de grande influência na arte, desde o século XVII, com sucessivas edições”.
As serventias possíveis

Entre outras possibilidades, além do enriquecimento cultural que naturalmente concede a cada apreciador, uma exposição desse porte e nível daria aos paraibanos a oportunidade ímpar de identificar, através da arte e da história, de que virtudes ou vícios os nossos governantes seriam portadores.
Seria possível, por exemplo, encontrar em algum deles a humildade? Ou quem está no poder o exerce com orgulho e soberba? Seriam nossos mandatários diligentes ou preguiçosos? Será que temos na Paraíba, a nos governar, pessoas generosas ou avarentas? Alguém aí acredita na existência da castidade (no sentido de pureza) em nossa classe dirigente ou ela vive mergulhada na luxúria da corrupção, das fortunas erigidas com dinheiro público desviado ou mordomias financiadas pela pobre Viúva cega, surda e muda?
Fica a sugestão, portanto, de trazer essa valiosíssima mostra ao nosso Estado. Acredito que com os devidos compromissos e resguardos, a Biblioteca Nacional não se recusará em ceder as peças ao deleite dos viventes e sobreviventes da Pequenina.

 

“A culpa é dos bancos”

Mais do que slogan, a palavra de ordem da greve dos bancários é uma frase-constatação. Sim, porque não dá pra entender greve de bancários em um país onde são praticados os juros mais escorchantes do mundo, os serviços bancários mais tarifados e mais caros do planeta e onde são obtidos os lucros mais astronômicos do universo.
Com a enormidade que faturam bancos estatais e privados, o cidadão brasileiro jamais deveria enfrentar os transtornos e constrangimentos decorrentes de uma greve de bancários. Simplesmente não haveria paralisação alguma porque o Brasil deveria ter os bancários mais bem pagos da estratosfera e a clientela mais satisfeita do sistema solar.
Em vez disso, o que temos é um absurdo intergaláctico de remunerações aviltantes e condições de trabalho indignas em praticamente toda a categoria, na maioria das funções bancárias e empresas do ramo.
Outra coisa: contrastando com a penosa realidade em que vive a quase totalidade dos trabalhadores do setor, há uma minoria de altos executivos auferindo salários e bonificações que, somados, transformam essa gente em magnatas estelares, alguns deles percebendo de milhão de reais pra cima ao ano.
Por essas e outras, não há como discordar do que dizem líderes do movimento. Os bancários estão em greve, a população sofre, mas a culpa – toda ela – é dos bancos.