Flávio Lúcio
Teve pouca repercussão na imprensa paraibana as declarações de Maurício Burity, presidente da Funjope, órgão ligado à Prefeitura de João Pessoa, que disse a uma emissora de rádio (98 FM) ter negociado diretamente com a cantora baiana Daniela Mercury sua participação no Bloco Picolé de Manga.
Para quem não sabe, o tal bloco é presidido por Lucélio Cartaxo, irmão de Luciano Cartaxo, Prefeito da Capital, que também é um dos seus fundadores. Cabe-nos, então, fazer a embaraçosa pergunta: sendo o Picolé de Manga uma entidade de direito privado e a Funjope uma entidade de direito público, e sendo o seu presidente designado pelo Prefeito da Capital, não estaria aí havendo um claro conflito de interesses, além de relegado o caráter impessoal da administração pública? Por que um servidor público negociaria diretamente com empresários em nome de uma entidade privada, como afirmou com todas as letras Maurício Burity? Quantos blocos em João Pessoa, à exceção daqueles que, por conta da tradição e não por conta da “atração”, arrastam multidões, tiveram o mesmo tratamento?
Marcus Alves: não foi bem isso…
Diante do fato, o Secretário de Comunicação da Prefeitura de João Pessoa, Marcus Alves, tentou colocar na conta de um equívoco de Maurício Burity a informação de que fora o próprio Presidente da Funjop negociara a contratação da cantora baiana para o Picolé de Manga. Ainda segundo Marcus Alves, em esclarecimento dado ao Parlamentopb.com.br, a vinda de Daniela Mercury “será custeado pela própria agremiação junto com seus patrocinadores, como sempre acontece”, ressaltando, em seguida, que não há qualquer envolvimento da Prefeitura nessa contratação. “Ele (Burity) falava de maneira genérica sobre a forma de contratação dos shows, mas houve um equívoco”, sentenciou.
Depois dos esclarecimentos do Secretário de Comunicação da Prefeitura duas perguntas ainda merecem respostas: primeiro, por que foi Marcus Alves, e não o próprio Maurício Burity, a dar esses esclarecimentos? Segundo, o que o Secretário entende por declaração “genérica”? Vou transcrever aqui as palavras utilizadas pelo Presidente da Funjop: “Foi negociado diretamente, inclusive, com o próprio empresário das artistas. Nós fizemos questão de que todos os cachês fossem negociados com os empresários das artistas”.
Observem que Burity fala como um dos interlocutores das negociações.
O conhecimento de Mauríco Burity sobre elas era tal que ele chegou a divulgar durante a entrevista o valor do cachê que receberia a cantora: “O cachê de Daniela Mercury está exatamente em torno (sic) de 80 mil reais”. Diante da surpresa dos entrevistadores pelo valor considerado baixo, Burity explica que isso se deve ao período que antecede o carnaval da Bahia. Procurei saber o valor do cachê que normalmente cobra Daniela Mercury e compartilho agora da mesma surpresa: em 2011, segundo a imprensa baiana, a cantora cobrou 140 mil reais para cantar na Micareta de Feira de Santana – que acontece em fins de abril, portanto, também fora do período carnavalesco – e 130 mil em 2010 e 2011.
Em 2009, a mesma PMJP pagou 150 mil reais para a mesma Daniela Mercury cantar no “Estação Nordeste”, ocasião em que o atual vereador Fuba rejeitou convite para abrir o show da estrela do axé por considerar um desrespeito o cachê de 3 mil reais que lhe foi oferecido, principalmente levando em consideração a disparidade entre os artistas locais e os de “fora”. O que dirá Fuba dessa vez? Ou seja, Daniela Mercury cobra hoje quase a metade do que ela cobrou em 2009 para cantar no Picolé de Manga. Ou baiana está em desvalorização no mercado do axé ou está fazendo uma promoção especial.
Dinheiro público para o Carnaval?
O Professor Menezes encaminhou mensagem para Rubens Nóbrega, e este para mim, com uma ousada sugestão: o fim do repasse de dinheiro público para os blocos de João Pessoa. A inspiração do professor foi a ação de uma promotora piauiense que fez o prefeito de Teresina, Firmino Filho, cumprir promessa de campanha de “reduzir drasticamente as despesas com publicidade e com eventos festivos”, para investir mais em saúde, educação e transporte.
Depois eu volto para comentar.
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Imiscuindo-me em suas merecidas férias, não posso furtar-me de lhe passar a notícia colhida há pouco no blog de Cláudio Humberto, que registra um gesto por demais elogiável de uma promotora do Piauí, que bloqueou repasses municipais a quaisquer movimentos carnavalescos, na capital daquele estado.
Bem diferente de nossa sofrida João Pessoa, cujo edil, mal tomou posse, apregoou aos quatros ventos o aumento do repasse municipal a essa coisa esdrúxula que é o carnaval antecipado, no qual pontifica um bloco frutal, que naturalmente receberá maiores atenções da municipalidade, pois de apelo tropical…Professor Menezes.
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Não sejamos tão radicais, Professor Menezes. Deixar o povo sem pré-carnaval? Que maldade! Porque seria essa a consequência desse gesto. Como as dezenas de blocos que já existem, e outros que brotam em todo carnaval, iriam ganhar as ruas sem dinheiro público? Aí, seria pedir demais, afinal, quem iria ser corajoso o suficiente para quebrar essa “tradição” bem brasileira, e nordestina em particular, de deixar de investir em festa para investir em saúde, por exemplo?
Prioridades são prioridades, professor Menezes…