O CANDIDATO DA IDENTIDADE NORDESTINA

Por Gilvan Freire

CAMPOS / DILMA  Em todos os países do mundo onde há grandes extensões de terra e onde o território tenha sido ocupado, durante sua colonização, por povos de raças ou nacionalidades diferentes, ou tenham sofrido ao longo da história influências de povos estrangeiros de origens diversas, houve ou ainda há conflitos de identidades. Línguas, modos, costumes e religiões canalizam as diferenças e geram conflitos em certos tempos, quando não são perenizados de forma cruenta e trágica como acontece até hoje na Palestina e em quase todo o Oriente Médio.

Não bastassem as questões étnicas e culturais que geram e mantém esses conflitos, os problemas políticos os agravam, porque os papeis do próprio Estado e da governança não ajudam a conciliar as desavenças, muitas desaguando em guerras civis e separatismos.

 

O Nordeste brasileiro, que ocupa mais de 18% do território nacional e possui mais de 28% da população do país, não tem maiores conflitos com outras etnias que colonizaram o Brasil, nem confrontos religiosos traumáticos, embora até pouco tempo tenha passado por grandes dificuldades para assimilar a manifestação de culto dos evangélicos, também denominados crentes, vítimas que foram da intolerância de setores do catolicismo predominante.

 

A região, contudo, vez por outra, ainda sofre o racismo e a descriminação por parte de grupos neonazistas, uma peste humana que não se sente responsável pelo trucidamento de milhões de judeus, na Europa, e surge como erva daninha em várias partes do mundo e no Sul e Sudeste do Brasil.

 

MAS O NORDESTE TEM SIDO VÍTIMA PERMANENTE DA POLÍTICA E DA GOVERNANÇA, vez que seus líderes raramente se levantam em bloco em defesa da região, o que leva as classes dirigentes a não respeitarem a força de conjunto que a população nordestina tem. A indolência do povo do Nordeste, que se submete sem reação ao domínio político da elite dirigente do país, e o descomprometimento dos agentes políticos regionais, que são pusilânimes e submissos diante do poder central, além do apego de quase todos à corrupção, o fisiologismo e o oligarquismo, condena a região ao atraso com relação às regiões mais desenvolvidas.

 

Sarney e Collor, nos últimos tempos, demonstraram o quanto a região perde de chance quando surge a oportunidade de um nordestino governar o país. Lula, entretanto, provou que um grande líder, especialmente vindo da base da pirâmide social, identificado com as carências e mazelas do povo do Nordeste, pode retirar a população da indigência social, elevar sua autoestima e promover a integração nacional.

 

A PEREGRINAÇÃO DE EDUARDO CAMPOS POR CAMPINA GRANDE E JOÃO PESSOA, falando a muitas plateias atentas, é, de certa forma, a reedição de Lula, sob o aspecto do aparecimento de um grande líder regional capaz de sensibilizar o povo brasileiro para a continuidade da obra dele no projeto de reinserção das regiões pobres no desenvolvimento do Brasil. Sua critica fundada ao fracasso do modelo de gestão Dilma/PT, que condena o país todo a suportar a falência do Estado nas áreas cruciais da vida da sociedade, com o objetivo de perpetuar a ditadura partidária de uma esquerda sem ética, espelhada em coalizões políticas conservadoras, contraditórias e sem ideologias, chega num bom instante para se compreender os malefícios que o atual governo faz à região nordestina e para estabelecer um novo marco na reação do povo contra as desatenções de Dilma. Eduardo constrói no imaginário coletivo do Nordeste uma sensação de que a região será capaz de produzir um tipo político híbrido – uma mistura de Juscelino e Lula, descendente da linhagem de Miguel Arraes, um rico exemplo de líder da resistência dos povos oprimidos contra todas as modalidades de opressão. Serve pra se meditar sobre o nosso futuro.