O “campinismo” e a homenagem a Ronaldo

Sérgio Botelho

Para quem não entende o que é “campinismo” bastaria assistir à sessão especial em homenagem ao ex-governador Ronaldo Cunha Lima, nesta segunda-feira, 18, à noite no Senado Federal. Com a presença de todos os filhos, Cássio, Ronaldo e Glauce, da viúva Glória, do irmão Ivandro, cunhadas e cunhados, sobrinhos e netos, a Casa homenageou a memória do poeta falecido em julho do ano passado.

Senadores do PSDB – partido de Ronaldo na última etapa de sua vida -, do PMDB, do PT e do DEM, alguns permanecendo até o final do ato, por volta das 10 horas da noite, se revezaram para prestarem seus tributos ao paraibano. O senador do Rio de Janeiro, paraibano como a ampla maioria dos presentes, Lindbergh Farias, do PT, fez aparte entusiasmado para lembrar a importância de Ronaldo para o estado.

Mas, acima de tudo, foi uma demonstração de unidade campinense – ou, numa ling uagem já consagrada na política paraibana, do “campinismo”. Reparem bem: na Mesa, Cássio Cunha Lima e Vital do Rego, adversários consagrados e personagens de destaque nas últimas disputas em Campina Grande e na Paraíba, sempre em lados opostos. Ambos, por sinal, subscritores da sessão de homenagem, juntamente com o outro paraibano, senador Cícero Lucena.

No plenário, os ex-senadores Milton Cabral e Raimundo Lira. O primeiro, filho do legendário ex-prefeito campinense Severino Cabral, adversário de Ronaldo na década de 60, quando o poeta iniciava sua vida pública. O segundo, concorrente de Ronaldo, na disputa pelo Senado, em 1994, apesar de ter sido aliado em outras disputas políticas. Todos misturados aos amigos e admiradores do ex-governador, a exemplo do jornalista paraibano Nêumanne Pinto.

Ausência sentida, mas, certamente, explicada, apenas da família do ministro Aguinaldo Ribeiro, cujo pai, o ex-deputado federal Enivaldo Ribeiro, migrou de adversário histórico para fortíssimo aliado na última parte da vida de Cunha Lima. Mas, que, na última eleição municipal campinense, teve a filha, a deputada estadual Daniela Ribeiro, encabeçando chapa concorrente à do primo de Cássio, Romero Rodrigues, que tinha na vice justamente Ronaldo Cunha Lima Filho, e que acabaram vencedores do pleito.

Difícil o cidadão encontrar, em outra região da Paraíba, adversários tão figadais demonstrando solidariedade tão inesperada. Isto, logo após uma refrega política tão forte quanto a do ano passado, na cidade, na qual Vital do Rego acabou derrotado na defesa de sua candidata, a médica Tatiana Medeiros, pela tropa de Cássio. E em meio a um tiroteio pré-eleitoral bastante ruidoso que deve colocar outra vez os Cunha Lima e os Vital do Rego em campos opostos, no próximo ano, na disputa pelo governo estadual.

Em outras plagas paraibanas um ato público em louvor a uma figura de tanto destaque, de uma das par tes em que se divide a política local, contaria com a desconfiança, e por decorrência, a antipatia e ausência, da outra parte. E creio que isso até possa ocorrer entre os campinenses. Agora, vá explicar a falta ao povo da Serra?

É isto o que se chama de campinismo: o elevado apego dos campinenses por sua terra. Um bairrismo – pode assim ser chamado – que tem feito de Campina Grande uma cidadela política que se comporta singularmente e com histórico reflexo nos pleitos estaduais.

PS: Para concluir acrescento algo que, em breve visão noturna, me chegou com ares de assombrosa conjetura: e se aquele pessoal todo que lotou o plenário do Senado Federal na noite desta segunda-feira, 18, resolvesse se juntar no próximo ano, o da disputa pelo governo estadual? Eu mesmo procurei afastar a hipótese como sendo de difícil costura. Porém, insistentemente eu era lembrado durante o breve sono: ali, naquele plenário, havia sombras muito fortes de incompatibili dades políticas. Mas, não, de inimizades profundas.

Sei não? Se eu fosse o governador Ricardo Coutinho, que deve a Cássio e a Ronaldo sua vitória em 2010, eu teria feito que nem os deputados federais Manoel Junior, do PMDB, e Damião Feliciano, do PDT, que anteciparam suas vindas a Brasília: largava qualquer pretenso motivo, tomava um avião, e, no Senado de ontem, seria um participante vivo da homenagem a Ronaldo. Dizem que convite não faltou, enquanto Coutinho limitou-se, de forma protocolar, a oferecer, a Ronaldo, o seu programa de rádio de ontem, levado ao ar todas as segundas-feiras. E a designar o vice-governador Rômulo Gouveia, campinense e ronaldista histórico, a representá-lo. Foi como proporcionar mais elemento ao pesadelo “campinista”.

Um perigo, Ricardo, um perigo!
Agora, é cruzar os dedos.