Nilvan Ferreira
Escrevo neste momento, completamente indignado com os últimos acontecimentos, envolvendo os “bombados”, pagos com o dinheiro público, colocados a serviço de um processo de humilhação de cidadãos, e os camelôs, mais uma vez vítimas da truculência na nossa capital, na tarde desta terça-feira.
Meu Deus. Esses homens que hoje governam a nossa capital perderam literalmente o limite do bom senso. Esqueceram os ditames básicos que regem uma sociedade realmente democrática e partiram pro vale tudo, o salve-se quem puder.
É a tese do “eu posso”, “eu mando”, “eu esfolo”, “eu destruo”, “eu esgano”. Tudo para ficar bem claro quem manda no pedaço. Tudo para dizer que quem está no poder pode tudo e ninguém pode discordar.
Acho que chegamos ao limite. E alguém precisa dizer umas verdades para os atuais mandatários dessa estrutura carcomida, ultrapassada de mente e de atos, incapaz de resolver problemas e impasses na base do diálogo.
E é como diz o velho ditado: alguns políticos posam de “bonzinhos”, de “santinhos” até o dia da eleição. Após eleitos, consagrados nas urnas, usam as armas e as artimanhas do poder, que pertence ao povo, para trucidar dignidades, sonhos e, acima de tudo, a honra do cidadão.
Aniquilam a vontade de pais de famílias, que deixam suas casas logo cedo, na ânsia de conseguir, no final da tarde, o pão de cada dia, de forma honesta, pacata, única forma, num país de tantos desempregados e crises constantes, para conseguir sobreviver nessa selva de leões ferozes.
Camelô não é bandido, senhor prefeito. Eles têm dignidade. São homens e mulheres de bem. Foram jogados à condição de vendedores ambulantes por culpa de vocês, políticos, inertes, incapazes de oferecer condições dignas para que o cidadão possa ter um emprego digno e não seja obrigado a viver vendendo óculos, calçados, celulares do Paraguai e outras “bugigangas” que todos nós já adquirimos pelas ruas da nossa capital.
Agora, a dor maior para aquele ambulante que perdeu parte da orelha, durante o confronto desta terça-feira, não foi a física. Foi sim a dor de saber que ele é apenas mais um espancado, vilipendiado, agredido, sem que ninguém e nenhuma autoridade irá levantar a voz para fazer sua defesa.
A verdade é que grande parte de nós é covarde. Conseguimos assistir a tudo isso, e por paixões políticas, pensando nos nossos próprios interesses, preferimos fazer de conta que nada de grave está acontecendo e que são apenas simples camelôs, levando uma surra dos “bombados” e pronto.
Como somos covardes, levianos e cúmplices das atrocidades do poder e dos seus “reizinhos”. Hoje a pancadaria é com o camelô. Arrancam-lhe a orelha, talvez para que ele não escute os protestos das ruas. Amanhã, meu caro amigo, tentarão arrancar nossas línguas, na tentativa de evitar nossos protestos e nossos gritos de rebeldia em busca de dias melhores.
O prefeito Agra peca pela truculência. Ricardo Coutinho também cometeu esse pecado. E olha que o próprio ex-prefeito, hoje no comando do governo do estado, já levantou muitas vezes a bandeira com o slogan: “lugar de camelô é na rua”, na época em que defendia os direitos dos mais fracos, dos mais humildes.
Hoje o prefeito pode até arrancar a orelha de um trabalhador, de um cidadão, de um pai de família. Amanhã, esse mesmo camelô, sem parte da orelha, mas com os punhos firmes e a dignidade ferida, pode lhe tirar o mandato através do voto e jogá-lo apenas no esgoto da história.