O ranking do analfabetismo
EDITORIAL ZERO HORA
São mais de 10 milhões de adultos que não sabem ler e escrever, um contingente que torna sem sentido o objetivo de universalizar a alfabetização até o ano que vem, assumida em 2000. A própria Unesco admite, ao divulgar o documento, que o Brasil não conseguiu superar os desafios por ser uma nação populosa e heterogênea. É uma constatação que exige a renovação dos compromissos, até porque os países à frente em números de analfabetos _ Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia, Egito _ poderão recorrer aos mesmos argumentos. Apesar do tamanho do país, das diferenças regionais e das disparidades de renda, o Brasil já conseguiu superar ou amenizar outros obstáculos, como os da área econômica, mas continua fracassando na educação.
Nesse contexto, merece reflexão a observação da coordenadora de Educação da Unesco no Brasil, segundo a qual a alfabetização de adultos tem efeitos em cadeia, a começar pelo mais imediato, que é o da melhoria de renda. Um adulto alfabetizado, se continuar estudando, aumentará seu ganho médio em 10% a cada ano de escolaridade. O mais importante é o ganho social. Adultos que dominam a leitura e a escrita têm melhora de autoestima. Pais alfabetizados afirmam ainda mais sua autoridade diante dos filhos e se fortalecem como referência e inspiração. Especialistas têm apontado uma relação evidente: o êxito do aprendizado de crianças e adolescentes é facilitado por familiares que tenham um histórico escolar capaz de servir de exemplo.
Considerada parte essencial de programas de transferência de renda, a educação continua desafiando as políticas públicas. Mesmo com o Bolsa Família, adultos analfabetos tendem a se conformar com o mau rendimento dos filhos, até porque são incapazes de uma avaliação, e até mesmo a mantê-los fora da escola. Atacar o analfabetismo dos adultos significa, diretamente, melhorar as condições de vida das crianças que deles dependem.