Dilma bem na foto
Ricardo Noblat
Lembra-se do PT que no passado denunciava a interferência deslavada do poder econômico no resultado das eleições brasileiras? E que, por isso, quando convocado a decidir seu destino, com frequência se exauria em discussões intermináveis? Lembra-se do PT sustentado por dinheiro descontado nos salários dos seus militantes? E do que adotou a eleição direta para a escolha dos seus dirigentes? Então, esqueça!
O MENSALÃO FOI o desfecho natural da escolha feita pelo PT no início dos anos 1990 quando decidiu deixar de ser um partido ideológico acima de tudo para se transformar em um partido de massas. Depois de ter perdido as eleições presidenciais de 1989 e de 1994, Lula chamou José Dirceu para uma conversa e disse o que ele esperava ouvir: vamos usar os meios que os demais partidos usam para chegar ao poder. Pois usaram e abusaram.
FALTOU-LHES, PORÉM, competência para se manter no poder sem se desfigurar. Quem viu Lula subindo a rampa do Palácio do Planalto, em janeiro de 2003, jamais imaginou ver José Dirceu subir na última sexta-feira os degraus do prédio da Polícia Federal, em São Paulo, para receber ordem de prisão. Pouco antes, o mesmo percurso havia sido feito por José Genoino, ex-presidente do PT. No dia seguinte, foi a vez de Delúbio Soares, ex-tesoureiro, entregar-se.
RESTA AO PT insistir com o discurso nada convincente de um partido político perseguido pelas elites e vítima de uma conspiração midiática. As elites nunca enriqueceram tanto como no governo Lula. Detestam o de Dilma, que não as trata com tanto mimo. Um Supremo tribunal Federal com folgada maioria de ministros nomeada por Lula e Dilma mandou para o xilindró alguns ícones de PT. Lula escapou porque não sabia o que se passava ao seu lado.
FICARÁ PARA A História que o caso do mensalão, obra de um bando de amadores, começou no primeiro governo Lula para terminar no primeiro governo Dilma. Se haverá um segundo governo Dilma ainda é cedo para dizer. Nada teve de inocente a mensagem postada por Dilma no Twitter a poucas horas de o ministro Joaquim Barbosa assinar ordens de prisão contra petistas coroados. Ela não falou em mensalão. E precisava?
DILMA ESCREVEU: “Hoje comemoramos o 124º aniversário da Proclamação da República. A origem da palavra República nos ensina muito. A palavra República vem do latim e significa “coisa pública”.Ser a presidente da República significa exatamente zelar e proteger a “coisa pública”, cuidar do bem comum, prevenir e combater a corrupção. Significa governar para todos, num governo do povo, pelo povo e para o povo”.
DIRCEU DEVE ter ficado furioso quando leu a mensagem de Dilma. Ele não a perdoa por tê-lo tratado sempre com frieza, evitado ser fotografada a seu lado, e se recusado a pressionar ministros do STF para que votassem pela absolvição dos petistas mensaleiros. Foi a maneira que Dilma encontrou de passar a ideia de que nada teve a ver com o escândalo. E que o resultado do julgamento não lhe dizia respeito.
A CONDENAÇÃO DOS mensaleiros há mais de um ano não afetou sua popularidade. A prisão, se afetar, será a favor. Capitalizar a prisão dos culpados, ela não poderá fazer, sob pena de empurrar o PT de vez para o colo da candidatura de Lula a presidente. Mas se beneficiar não depende de nenhuma iniciativa sua. Basta manter o comportamento discreto que sustentou até aqui. E lembrar, vez por outra, que é sua tarefa o combate à corrupção.
DILMA ESTÁ bem na foto.