Cuidado com a fadiga dos metais
Carlos Chagas
Há tempos que duas concepções se chocam: “os números não provam nada” e “os números não mentem”. Melhor ficar entre elas, aceitando os números mas desconfiando deles.
O Ibope acaba de anunciar sua nova pesquisa sobre a sucessão presidencial, deduzindo-se que Dilma se reelegerá no primeiro turno caso seus adversários sejam Aécio Neves e Eduardo Campos. Na hipótese de enfrentar Marina Silva ou José Serra, a presidente se submeterá à segunda votação, mas vencerá cada um deles.
A leitura desses números é de que caso não sobrevenham inusitados o segundo mandato parece garantido e, em consequência, o Lula ficará fora da disputa.
Claro que será diferente se a economia desandar, se a rebelião nas ruas se multiplicar e se os projetos do governo fracassarem, entre outras hipóteses imprevistas. De qualquer forma, o quadro é esse, hoje.
A consequência revelará 16 anos de governo do PT. Tanto em política quanto em mecânica, registra-se um fenômeno implacável: a fadiga dos metais e dos partidos. Ainda mais quando, em se falando dos companheiros, sente-se não ter havido renovação. Houve debandada, quando em grande parte a intelectualidade petista pulou fora, desiludida precisamente com a performance dos líderes fundadores. Obviamente que não se inclui o Lula entre eles, mas o ex-presidente parece não estar sendo atendido quando prega a renovação. Com raras exceções, os governadores, os prefeitos e as bancadas parlamentares do PT são os mesmos. Não há maiores sinais de novas lideranças emergirem das eleições do próximo ano. Bem ou mal, os metais estão em plena movimentação. Cuidado com eles.
PRESENÇAS REVELADORAS
Outro dia foi o ex-presidente José Sarney. Ontem, o senador Renan Calheiros. Como presenças permanentes citam-se Roberto Requião, Pedro Simon, Cristóvan Buarque, Paulo Paim, Aloísio Nunes Ferreira, Álvaro Dias e outros de igual peso e importância.
Falamos das sessões não deliberativas que o Senado realiza às sextas-feiras pela manhã. Quando a maioria de seus colegas viaja às quintas-feiras para seus estados, esse aguerrido grupo permanece em Brasília. Sem projetos para votar, esmeram-se nos pronunciamentos, muitas vezes candentes, sempre de importância.
Renan fez ontem uma espécie de prestação de contas de sua gestão na presidência do Senado. Sarney havia feito profunda radiografia da realidade nacional. Seria bom outros líderes prestarem atenção, porque aparecer na televisão sem limitações de tempo costuma dar audiência…
O GRANDE MUDO
Houve tempo em que o Exército era chamado de “o grande mudo”, ainda que jamais deixasse de interferir na política e nas instituições. Com o regime imposto em 1964, por sinal completando agora 50 anos, generais e coronéis, às vezes até majores e capitães, passaram a falar demais. Com a redemocratização e a saída dos militares do palco, assiste-se o refluxo, só que com nova característica: além de mudo, o Exército não interfere mais. Seus chefes cuidam de suas obrigações profissionais, podem não estar satisfeitos com as restrições orçamentárias para a renovação de seu equipamento mas não atuam sequer com críticas a respeito da política. Que continuem assim.