Jamil Chade e o abandono de Temer na festa do Maracanã
Jamil Chade, correspondente do Estadão na Europa – a quem todos, menos Ricardo Teixeira, ex-CBF, de quem ele mostrou os podres em Andorra – o consideram um magnífico repórter. Ele teve acesso à área das autoridades na festa de ontem e relata o clima de esvaziamento quase total da presença (melhor dizer: da ausência) de governantes estrangeiros.
E os poucos que foram, prudentemente, escolheram sentar longe de Temer na tribuna de honra (!?) do estádio.
Dos países considerados “grandes”, apenas França e Itália, mas por uma simples razão: Paris e Roma disputam a chance de sediar a Olimpíada de 2024, a mesma razão que explica a presença do presidente da Hungria, Janos Áder, poque Budapeste é candidata a sediar o evento.
Dispensam-se os adjetivos: é o retrato do isolamento político do governo golpista do Brasil.
A palavra de ordem entre os estrangeiros é o “sai fora de Temer”.
Leia o relato de Chade:
O Itamaraty havia anunciado que 45 chefes-de-estado e de governo estariam na abertura dos Jogos Olímpicos, na noite desta sexta-feira. Mas uma lista obtida pelo Estado revela que o número total foi de apenas 18, sendo que os demais eram apenas vice-primeiros ministros, governadores e autoridades de segundo escalão.
A reportagem do Estado foi a única a entrar nos camarotes presidenciais e constatou como muitos dos locais VIPs permaneceram vazios, enquanto ministros e autoridades circulavam sem qualquer compromisso. Alguns deles ainda tiveram tempo para abrir freezers para escolher sorvetes ou conversar sobre as apostas de medalhas.
Depois de Londres em 2012 receber mais de 90 chefes-de-estado, de Pequim ter mais de 70, Atenas com 48 e Sidnei com 24, a Rio-2016 acabou sendo prejudicada pelo caráter interino do governo brasileiro, da crise e, segundo o Itamaraty, pela “distância” que representa uma viagem até o País.
Estavam no Maracanã apenas os líderes máximos de Andorra, Argentina, Bélgica, Eslováquia, Fiji, França, Geórgia, Holanda, Hungria, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Monaco, Paraguai, Portugal, República Tcheca Servia e Suíça. Na lista do governo, o Planalto incluiu ainda os dignitários que, no fundo, eram membros do COI, como os de Luxemburgo e Monaco, e que tinham obrigação de estar em seu próprio evento.
Ainda estavam presentes vice-primeiros ministros, vice-presidentes ou príncipes da China, Jordânia, Guiné Equatorial, San Marino ou Uzbequistão. Alguns chefes de diplomacia também estavam na lista, como o americano John Kerry. A lista se contrasta com o que o governo anunciava ainda em maio de que tinha mais de 50 pessoas confirmadas e que esperava chegar a 70 convidados VIP.
A ausência era nitidamente notada nos corredores internos do estádio, vazios e com comida, funcionários e seguranças sobrando. A falta de líderes internacionais ainda permitia tempo para que ministros e políticos brasileiros usassem o tempo para conversar, sem ter de recepcionar os estrangeiros.
Enquanto as delegações desfilavam, o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, conversava numa das mesas com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Em outro canto, o chanceler José Serra falava ao telefone. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, circulava ainda tranquilamente, buscando algo para beber nos balcões vazios dos bares montados no local.
O governo brasileiro tentou convidar os poucos líderes a ficar no principal camarote, ao lado de Michel Temer, presidente interino. Sem sucesso, o local foi preenchido por diversos ministros do governo e autoridades municipais e do governo do estado. Antes mesmo de terminar o evento e logo depois do desfile da delegação da França, o presidente François Hollande deixou o Maracanã, à francesa.
Fonte: http://www.tijolaco.com.br/
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