Nonato Bandeira, Agra e a viabilidade da terceira via na Paraíba

Flávio Lúcio

O jornalista e agora Vice-Prefeito de João Pessoa, Nonato Bandeira, notabilizou-se como um grande estrategista. Para quem acompanhou de perto o crescimento político do ex-Vereador, ex-Deputado Estadual, ex-Prefeito de João Pessoa e hoje Governador, Ricardo Coutinho, sabe bem o papel central que teve Nonato na ascensão ricardista. Para o também jornalista e professor da UFPB, Derval Golzio, um dos primeiros membros do chamado Coletivo Ricardo Coutinho, Bandeira foi decisivo nessa trajetória, e não apenas para pensar as estratégias, mas também como articulador, organizadordas campanhas e, em especial, na inserção de RC na imprensa, o que sempre rendeu generosos espaços para o atual governador divulgar as ações que marcaram sua carreira.

Para Golzio, RC sabe elaborar estratégias e articular, mas nunca teve jogo de cintura e, muitas vezes, paciência, para executá-las, coisa que Bandeira tem de sobra.Nonato Bandeira também foi extremamente eficiente na administração da imagem de RC, principalmente quando este se tornou Prefeito, e um dos principais fiadores da aproximação, e depois da aliança, de Coutinho com o ex-Governador Cássio Cunha Lima, sem a qual é improvável que RC estivesse no lugar onde se encontra hoje. Como todo bom estrategista, Bandeira sabe ousar, medindo sempre os riscos.

Homem forte do atual governo até os primeiros anos de 2012, Nonato Bandeira queria mais. Queria, principalmente, deixar a sombra de RC. Mas, inconformado com a ultracentralizarão do chefe e com a pouca disposição deste para estimular novas lideranças no seio do seu grupo, Bandeira partiu em faixa própria e desautorizado por RC para uma candidatura a Prefeito que era um aparente suicídio, pois ela o afastaria, como realmente aconteceu, do governo e do governador. Mas foi a manutenção da candidatura de Bandeira que serviu para abrir e preservar o espaço, que se tornou uma fenda por meio da qual o então Prefeito Luciano Agra, que desejava ser candidato à reeleição, rompeu com o ricardismo e abriu caminho para a aliança com o PT, que levou à vitória de Luciano Cartaxo, e do próprio Bandeira, numa composição que, meses antes, era considerada improvável. Visto pelo resultado, um lance de mestre.

Bandeira já olha para 2014

Assim sendo, é bom prestar atenção nas opiniões de Bandeira sobre o futuro político da Paraíba. No domingo à noite, liguei para o Vice-Prefeito de João Pessoa para diversas inquirições. Dessa conversa, nasceu esta coluna.

O primeiro ponto da estratégia de Bandeira se assenta na análise da viabilidade de uma terceira via na Paraíba em 2014. Para ele, RC é candidato à reeleição e o PMDB, que desde 1982 lança candidatos a governador, terá também um candidato. Segundo Bandeira, as eleições de 2012 mostraram que essa polarização que move a política paraibana há muito parece estar se esgotando. Em João Pessoa, nós tivemos quatro candidaturas em condições de disputa. Em Campina, também, se considerarmos o peso inicial de Guilherme Almeida.

O quadro político atual e a diversidade de candidatos a cargos majoritários em vários outros partidos, mostram que há espaço para mais uma articulação em condições de disputar o Governo do Estado e uma vaga para o Senado. Seriam forças emergentes, outras lideranças que almejam mais espaço na vida política paraibana, a exemplo de Aguinaldo Ribeiro, do PP, Tarciso Marcelo, do PEN, Welington Roberto, do PR, que são potenciais candidatos a cargos majoritários e que terão dificuldade de encontrar espaço nas articulações tradicionais, com as chapas praticamente fechadas.

O segundo ponto da estratégia de Nonato repousa na candidatura de Luciano Agra em 2014, “ou a governador ou a senador”. A dupla opção pode deixar dúvidas sobre a disposição de Agra de ser, por exemplo, candidato a governador, mas o primeiro desafio é agregar aliados, o que dificultaria se a chapa fosse formada já com essa definição. Bandeira acha que Luciano Agra desempenhará importante papel em 2014, assim como já teve em 2012 ao fazer um movimento de aproximação com o PT que foi muito importante para a vitória do outro Luciano, o Cartaxo. Tendo deixado uma administração bem avaliada, o apelo da candidatura de Agra ao governo ou ao Senado se torna irresistível, agregada ao componente político mais importante que foi a vitória de um aliado em João Pessoa, a maior cidade da Paraíba.
Relação com o PT

Perguntei a Bandeira sobre o PT e uma possível filiação de Luciano Agra ao partido. Ele disse que essa é, claro, uma decisão que pertence ao grupo do ex-Prefeito, ao qual pertence, mas que, qualquer decisão sobre o futuro partidário de Agra só será decidida em setembro. Até lá, haverá muito o que conversar. “O grupo vai avaliar todas as possibilidades”.

Por fim, diante da pergunta se ele considerava o peso do PT na administração pessoense desproporcional à força do partido, Nonato justificou: “Deve ser uma engenharia muito difícil acomodar todas as tendências internas do PT, e parece ser um pressuposto importante que o partido comece a administração unido”, e ressaltou, para não deixar dúvidas que possam levar a mal-entendidos: “O PT indicou grandes quadros, isso é o que importa”. E Agra, ficou satisfeito porque suas indicações foram, majoritariamente, “técnicos”? “Foi uma opção dele (Agra).”