Nonato, a imprensa, o governo e a democracia!!

Nilvan Ferreira

Sempre discordei da metodologia adotada pelo jornalista Nonato Bandeira, quando exercia a função de Secretário de Comunicação, no tocante a determinação de proibir que os secretários do governo concedessem entrevistas em determinados veículos de comunicação. Eu tinha até pena de alguns assessores do governador. Quando surgia uma denúncia contra a gestão, os secretários ficavam privados de ofertar a versão oficial, muitas vezes até com argumentos que poderiam ser convincentes, mas, a orientação era de só falar naquelas emissoras que agradassem ao titular da comunicação do governo.

Um erro grosseiro. Uma “mancada” das grandes e que trouxe um prejuízo que pode ser irreparável do ponto de vista político para o governador Ricardo Coutinho. O governo perdeu espaços, foi atolado num verdadeiro mar de lama, privou-se de explicar as acusações, não vendeu o seu lado bom e, atraiu para si, uma enxurrada de antipatias, de impopularidades.

A receita de Nonato falhou. O perfil que ele adotou na comunicação do governo perdeu a validade, foi vencido pela história, pelos acontecimentos. Esse negócio de governo interferir na imprensa não é de hoje. Nunca deu certo. Sempre terminou em derrotas para quem estava no poder. A imprensa não pode servir de fantoche para seu ninguém. Não tem que ser pedestal do governante de plantão.

A imprensa deve noticiar os fatos, criticar, elogiar, denunciar. Este é o nosso papel diário. Ao governo, cabe divulgar suas ações, convencendo a população do seu lado bom, além de rebater as críticas. E “zé finí”. É só isso e ponto final. Fazer o que Nonato tentou na SECOM do estado beirou a atentado contra a liberdade de imprensa que me recordou os tempos sombrios da ditadura militar, de supressão das liberdades democráticas.

Nonato tentou atrelar a imprensa ao seu modo, ao seu projeto, aos seus ditames. A imprensa seria uma espécie de apêndice do que o sexto andar de um dos blocos do Centro Administrativo queria e desejava. Todos tinham que “bater continência” para o secretário, sob pena de serem tratados como inimigos da república, verdadeiros desertores.

A impressão que fica é a de que o governo perdeu quase dois anos. Ou seja, se a meta era 40 em 4, o governo já perdeu quase 20. É o mesmo que dizer que o governo passou quase a metade da gestão sem falar, brigando com a imprensa, perseguindo veículos, criando arestas, acumulando desgastes. Um erro primário. Qualquer habitante da “selva” já perceberia cedo que o projeto não teria vida longa.

Nonato saiu, o governo ainda “sangra”, a SECOM tem novo comando e o tempo passa. A vantagem nesse enredo todo é que pelo menos agora o governo se dispõe a falar com todos. Graças a Deus.