O presidente Jair Bolsonaro sacramentou ontem a escolha do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para comandar a Casa Civil e, com isso, alçou um dos principais líderes do Centrão ao espaço mais nobre já ocupado por esse bloco partidário nesta e em outras gestões no Planalto. Nas palavras do próprio Bolsonaro, ele está entregando a “alma do governo” a Ciro Nogueira.
Embora as siglas do Centrão tenham ocupado cadeiras de destaque nas gestões dos últimos três ex-presidentes da República — Michel Temer, Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva — jamais haviam indicado um nome para um ministério com o prestígio da Casa Civil. A pasta é considerada a mais importante do Executivo e concentra todas as nomeações da máquina pública, por exemplo.
Ao optar por Nogueira, parlamentar experiente e com bom trânsito nas mais variadas matizes ideológicas, Bolsonaro olha para o presente e o futuro próximo. Caberá ao novo ministro azeitar a relação com o Congresso e, no primeiro momento, sobretudo, tentar mitigar os danos provocados pela CPI da Covid no Senado. Nogueira integrava a tropa bolsonarista da comissão, que retomará os trabalhos na semana que vem.
A entrega de um ministério central à parcela de seus aliados com fama de tratar a relação com o governo à base do fisiologismo ocorre em um dos momentos de maior enfraquecimento de Bolsonaro desde que chegou ao Palácio do Planalto. A pouco menos de um ano e meio das eleições de 2022, o presidente aparece atrás de Lula nas pesquisas de intenção de voto. Além disso, ainda não conseguiu definir o partido a que se filiará para disputar a reeleição e, com frequência, tem de explicar as suspeitas de irregularidades em sua gestão, investigada pela CPI.
Bolsonaro e o PP
A chegada de Ciro Nogueira reaquece as negociações entre Bolsonaro e o PP, partido presidido pelo agora titular da Casa Civil, com vistas à disputa eleitoral do ano que vem. A sigla também está flertando com ministros do governo, como Fábio Faria (Comunicações), cuja filiação está praticamente certa, e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), o que faria aumentar ainda mais seu espaço no governo.
A maior aproximação com Nogueira pode dar ao presidente capilaridade em busca de votos, embora parte da legenda esteja fechada com Lula, principalmente no Nordeste, onde o petista tem mais apoio. Aliados de Bolsonaro e Nogueira dizem, porém, que o futuro partidário do presidente será definido pela relação que eles construirão no governo a partir de agora.
De um lado, Bolsonaro ainda não desistiu de ter o comando de uma legenda que o garanta na disputa em 2022, o que não lhe seria concedido no PP. De outro, Nogueira precisa administrar internamente os interesses regionais de seus correligionários. Entre deputados e senadores, o PP tem 29 parlamentares eleitos por estados do Nordeste. Em 2020, o partido comandado por Nogueira elegeu 685 prefeitos e alcançou o segundo melhor desempenho do pleito, só atrás do MDB. Há mais resistência em estados como Bahia, Maranhão, Pernambuco e Paraíba, onde os caciques já negociam dividir o palanque com o PT.
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Ao confirmar que passaria a integrar a equipe de Bolsonaro, Nogueira se disse honrado. “Acabo de aceitar o honroso convite para assumir a chefia da Casa Civil, feito pelo presidente Jair Bolsonaro. Peço a proteção de Deus para cumprir esse desafio da melhor forma que eu puder, com empenho e dedicação em busca do equilíbrio e dos avanços de que nosso país necessita” escreveu no Twitter.
O senador passou cerca de duas horas e meia no Planalto, e posou para fotos ao lado de Bolsonaro, do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e dos ministros Luiz Eduardo Ramos (atual titular da Casa Civil), Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Fábio Faria. A chegada do novo componente provoca uma dança das cadeiras nos ministros do Planalto. Ramos será deslocado para a Secretaria-Geral, ocupada por Onx Lorenzoni. Este, por sua vez vai assumir, o Ministério do Emprego e Previdência. A pasta, extinta quando Bolsonaro chegou ao governo, será recriada para abrigar o aliado.
—Coloquei o Ciro porque preciso melhorar a interlocução com o Congresso. O general Ramos é uma excepcional pessoa, é meu irmão. Agora, com o linguajar do Parlamento, ele tinha dificuldade. É a mesma coisa que pegar o Ciro Nogueira e botar ele para conversar com generais do Exército. O Ciro não saberá falar com eles por melhor boa vontade que tenha — justificou Bolsonaro, na entrevista concedida ontem à noite, que foi transmitida para 400 emissoras nos nove estados do Nordeste e para Tocantins, no Norte.
Fonte: O Globo
Créditos: O Globo