NERO, A NOVA ROMA E RC

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Gilvan Freire

                        É assustador. Devemos está todos preparados para coisas ainda piores do que já vem acontecendo na Paraíba, nesses últimos anos. Não é nada de destino ou da sina de um Estado muito pobre da Federação brasileira, e nem algo que não se possa ver a olhos nus, ou que não possa ser identificado com antecedência.

Ainda não se trata da seca, do clima e seus efeitos devastadores. Essa também é uma tragédia anunciada, mas é decorrente de fenômenos naturais que poderiam ser amenizados pela ação do homem e pelos esforços das instituições públicas. Pouca gente está se preocupando com o que pode acontecer. Se não chover até janeiro ou fevereiro, a situação ficará catastrófica, e as populações interioranas mais afetadas serão socorridas pela solidariedade dos que sofrem menos e podem mais um pouco. Não agir antes para mitigar esses danos humanos assombrosos e previsíveis não é apenas uma omissão criminosa dos agentes políticos, é uma covardia inqualificável que deixa a classe dirigente nivelada à porcaria. É revoltante saber que essas classes comem, vestem bem e luxam em cima desses desvalidos que gritam à compaixão do clamor social.

    Quando os dramas se agravarem pelos cariris e sertões segregados pela falta d’água, muitos líderes farão protestos e discursos inflamados, transferindo responsabilidades e acusações. Será a repetição do obvio ululante e a sacanagem de sempre. Mas isso não resolve em nada a crise, que é um castigo da natureza misturado com o descompromisso e desavergonhice dos governantes e seus súditos políticos: servis, esbanjadores, exploradores, aproveitadores e silentes. É a seca dos homens públicos que deve ser combatida com maior urgência, para que a seca d’água não continue matando animais e gente, desertificando as regiões atingidas e expulsando seus moradores. Mas, como e quando a sociedade vai debelar essa monstruosa calamidade política?

 

Não é a seca, porém, o tema central dessa abordagem, embora seja parte dela. A questão crucial, por causa de seus múltiplos efeitos sobre a população, é a desgovernabilidade da gestão de Ricardo Coutinho. O homem está encurralado por uma opinião pública hostil que não sabe como se defender de suas excentricidades e dos desmandos e caos que imperam diante de uma máquina estatal emperrada que desconhece as demandas da população e o grito dos oprimidos. O governante brinca de governar e não tá nem ai. É um terror. Um horror.

 

É de se cogitar que as enfermidades psíquicas de RC e suas manias de grandeza e de poder sejam os traços prevalentes de sua personalidade como gestor e líder. A História já testemunhou isso milhares de vezes nos quatro cantos do Planeta, em todas as épocas. É uma virose mental perigosa, não contagiante, mas destrutiva. RC tem muito a ver com Nero, o Imperador tirano (37 a 68 d. C), que governou Roma de 54 até a sua morte. Nero ficou historicamente notável porque mandou incendiar a cidade enquanto se deliciava compondo sua lira. Nero era atinado e extravagante. Via de regra, o bom tino e as excentricidades são comuns aos sociopatas. Somente eles conseguem transitar por esses extremos opostos. Mas por que Nero teria incendiado Roma?

 

O imperador aloprado tinha apreço pela diplomacia e pela cultura. Não era um despreparado e chegou a ser considerado um grande líder popular. Mas tinha, por outro lado, propensões tirânicas. Comandou uma série de execuções e assassinou a própria mãe, Agripinila, irmã do Imperador Calígula, a quem, a partir de certo tempo, passou a ver como inimiga. Coisa de anormais. Na medida em que foi ficando mais poderoso, Nero foi se liberando de seus principais assessores e aliados e perseguindo e eliminando os rivais. Acumularam-se os problemas e os desgastes, rebeliões, tramas, malversações, perseguições aos cristãos, o tempo passou a conspirar contra Nero, até que ele se suicidou, não antes de perder a última mulher, Popeia Sabina, a quem deu “honras divinas” e queimou em seu funeral o equivalente a dez anos de produção de incenso árabe.

 

Vítima do que plantou, das revoltas, conspirações e do abandono popular, Nero caminhou para o ocaso, mas, em 64, quatro anos antes de sua morte, mandou incendiar Roma, que ardeu em chamas durante cinco dias. Segundo alguns historiadores, Nero queria apenas destruir a cidade para construir outra, desapontado com o seu povo. Tudo para se vingar e demonstrar poder. Quando morreu, o povo de Roma comemorou.

 

Ninguém despreze Ricardo Coutinho e suas insanas extravagâncias, como essa de fechar delegacias e negar segurança e apoio à população. Ele pode está querendo se vingar do povo que o rejeita. E pode colocar a Paraíba em chamas. Mas o povo vai comemorar seu fim.