Nem só de tablet vive o professor

Rubens Nóbrega

Li com redobrada satisfação que o governador Ricardo Coutinho entregou ontem 700 netbooks a professores que concluíram o curso de Educador Digital. Significa que o governo deu o peixe (o curso), a rede (o computador) e ensinou a pescar, ou seja, como usar o equipamento e tecnologias agregadas no processo educativo.

Muito bem. Para melhorar a escola estadual serão sempre bem-vindos os esforços governamentais. Mesmo os pontuais, feito cursos como aquele e a entrega de nets como a realizada ontem no Colégio Sesquicentenário, em João Pessoa. Mas tenho certeza de que tanto o governador quanto a sua secretária de Educação, a Professora Márcia Lucena, sabem que precisam fazer bem mais para dar e universalizar qualidade no ensino público.

Se não sabem, peço que leiam a carta que um professor do Estado dirigiu à secretária Márcia no dia 10 de maio último. Nessa carta, ele cuida justamente de inclusão digital, das novas tecnologias da informação e da comunicação no cotidiano de ensino-aprendizagem e, principalmente, da necessária complementação de ações, providências, medidas e investimentos na melhoria da educação pública.

Para além e muito além, evidentemente, da distribuição de tablets e computadores.

O texto do professor (seu nome não revelo por enquanto) é de uma clareza fantástica, didático por excelência. Ao mesmo tempo, contundente na crítica que faz às condições de trabalho do magistério estadual. Todavia, sabe ser duro sem perder a ternura, como é próprio dos grandes mestres. Sua carta é, na verdade, uma lição que Ricardo Coutinho e Márcia Lucena deveriam receber de bom grado e por ela agradecer.

Se eu fosse o governador ou a secretária, em vez de torcer o nariz para o que diz o professor, chamaria o homem pr’uma conversa. Se quiserem, e se o missivista consentir, encaminho a carta inteira ao Palácio da Redenção.

Farei na certeza de que governador e secretários em geral têm muito a aprender em matéria de educação pública, sobretudo no que tange à gerência e operacionalização do sistema educacional que dirigem. Nesse contexto, seria muito bom se, pelo menos, lessem o que vai a seguir. É parte final da carta do professor, dirigida à secretária Márcia.

Senhora Secretária

O que de fato me preocupa é a realidade das nossas escolas. Elas estão longe do necessário para termos uma educação de qualidade. Vejo a falta de estrutura de trabalho, a violência e o tráfico de drogas, dentro ou em volta das escolas.

Nossos professores estão insatisfeitos porque são vilipendiados por salários vergonhosos e sem perspectivas de mudança. Muitos deles já poderiam estar aposentados, mas não o fazem para não diminuir ainda mais a parca remuneração que recebem.

Como poderemos falar de modernizar a educação quando o agente principal dela está velho, cansado, desestimulado? Os ainda jovens iguais a mim não pensam em terminar os seus dias na decadência atual dessa nobre