Polêmicas

Nas redes sociais, mídia convencional faz oposição sistemática ao governo Dilma

A hostilidade da imprensa convencional ao governo Dilma Rousseff independe do tema em debate, afirma o professor Fábio Goveia, do Labic.

Najla Passos

Divulgação

Brasília – Estudos sobre o conteúdo publicado pelos brasileiros nas redes sociais mostram que, a despeito da diversidade de posições expressas na rede, a velha mídia acompanha sempre o que é ditado pelos opositores ao governo petista.

“A hostilidade da imprensa convencional ao governo Dilma Rousseff independe do tema em debate”, afirma o professor Fábio Goveia, do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), referência neste tipo de análise.

O vídeo abaixo, produzido pelo Labic para ilustrar os resultados de um estudo sobre a corrida presidencial no twitter, mostra claramente o fenômeno. A mídia independente, incluída na representação de cor verde, reverbera conteúdos mais próximos ao da presidenta, enquanto a mídia convencional, representada pelos grandes pontos amarelos, está umbilicalmente ligada ao que é pautado pela oposição. Ver vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=4tghhEvk2OE#t=62

O fenômeno pode ser verificado em várias outras pautas, como no processo de tramitação do Marco Civil da Internet e na crise da Petrobrás, por exemplo. De um lado está o grupo de blogueiros e personalidades que apoiam o governo. Do outro, o da oposição. E a velha mídia sempre aparece imbricada com o último.

No caso específico da tramitação do Marco Civil da Inernet, o perfil pessoal da presidenta Dilma Rousseff revela seu peso, ao mudar o comportamento da rede, após anunciar que iria encaminhar o projeto ao Congresso em regime de urgência, em função das denúncias de espionagem.

A imagem abaixo mostra como o assunto estava presente na rede até a entrada da Dilma no debate. O perfil dela é retratado pelo ponto amarelo que irradia a informação que chega ao grupo de apoio ao governo em larga escala, à mídia, em percentual bem menor e não atinge a oposição:

Com o projeto já tramitando no Congresso, as redes se fortaleceram: tanto a de oposição que condena o projeto do governo (representada pela cor azul), quanto a de apoio ao marco civil (representada pelo vermelho)

Manifestações de junho

Outro tema analisado pelo Labic que mostra o estranho comportamento da mídia brasileira foram as manifestações de junho, quando vários dos teóricos dela se arvoraram em dizer, não sem alguma ironia ou preconceito, que o Brasil havia se transformado na Venezuela, tamanha a polaridade de posições expressadas pela população. Os estudos de mídia apontam que não poderiam estar mais errados.
Medições das redes sociais durante as manifestações mostram que havia, no ambiente virtual, pelo menos três grandes grupos diversos: o da oposição, o que defende o governo Dilma, e um terceiro que questiona posturas específicas do executivo federal, mas também não admite se aliar a posições conservadoras ou oportunistas da oposição.

Juntos, os três grupos formam a grande rede Dilma, com enorme densidade. Nos dias 16 e 17 de junho, por exemplo, somava 48.481 grupos fortemente conectados, e apenas  5.475 fracamente conectados, conforme o estudo “Dilma nas redes sociais: o fim da bipolaridade política e o desejo de radicalizar mudanças” da Labic (ver imagem).

Na rede de oposição à Dilma (representada pela cor azul), eram fortes os conteúdos veiculados pelos twitters de @robertofreire, @faxinanopoder, @joapaulom, @blogdonoblat, mirandasa_, blogolhonamira, @lidpsdbsenado, @rede45, que reúne líderes e partidos de oposição, além de ideólogos de direita.

Já a rede de defesa da presidenta (de cor vermelha, na imagem) apresenta teóricos de esquerda e líderes partidários que agregam um número enorme de seguidores, como @zedeabreu, @stanleyburburin, @ptnacional, @blogdilmabr, @emirsader, @rogeriocorrea. Segundo o estudo, “é uma rede política consolidada, que segura o rojão da presidenta na rede”.

O terceiro grupo (representado pela cor verde) questiona políticas públicas e investimentos do governo sem maniqueísmos e sem falsas soluções. É puxado por personagens diversos, como @iavelar, @helenapalm, @teclologoexisto, @semfimlucrativo, @matheusrg, @personalescrito, @tsavkko, @cadulorena e tem perfil mais independente.

Na contramão deste movimento, está a mídia convencional, representada pelos pontos brancos de grande irradiação de conteúdo próximos à oposição: a despeito da diversidade de posições encontradas na rede, reflexo do conjunto social, seus conteúdos estão sempre refletindo o pensamento de apenas uma parcela da população.

O Estado de S. Paulo, por exemplo, é o ponto forte próximo ao grupo da oposição. Outros pontos de destaque são a revista Veja e o jornal O Globo. Os demais pontos brancos distribuídos em outras regiões do gráfico, ou seja, com posições diversas, próximas do governo ou não, mostram veículos da imprensa alternativa.