Bruno Filho
Depois de 102 anos,2 mêses e 23 dias o Corinthians embarca para o Japão em busca da maior conquista da sua longa história,algo já conseguido por vários de seus maiores adversários e alguns co-irmãos ao longo do tempo e um laurel expressivo dentro do futebol.
Só que este Corinthians que embarca,não é o meu Corinthians…não significa que seja o Corinthians errado, mas definitivamente não é o meu.Dos meus irmãos e filho, não sei se é…o meu explico o por quê de não ser.Talvez seja difícil para a maioria entender o que seja cultuar passado, mas não se trata disso.
O Corinthians é hoje a marca de maior valor do futebol brasileiro,digo isso baseado em pesquisas recentes,tem a camisa mais valorizada de nossa terra e para muitos é a maior torcida da nação,superando até o Flamengo,imbatível Flamengo.Sinal claro de mudanças.
Tem a maior média de público e renda do Brasil, carrega 40 mil espectadores em todos os seus jogos, mesmo que sejam sem importância,faça chuva(quase sempre) ou faça Sol, no lendário Pacaembú.E vai ficar maior ainda, pois com a inauguração da Arena ou Itaquerão terá capacidade de abrigar mais gente e tenham certeza fará isso a partir do ano da Copa do Mundo.
Seus patrocínios de camisa são os mais caros,está sempre no horário nobre da televisão e é o time preferido de candidatos a qualquer cargo público que necessitem de São Paulo principalmente para se elegerem,pois quem está com o Corinthians está com a massa.Mas, não é o meu Corinthians…
Certamente trazendo ou não o título, sua tendência é crescer, crescer sem parar até se tornar o gigante de todas as Américas e começar a disputar espaço com os sagrados adversários europeus de uma força financeira incomensurável.Mas,não é o meu Corinthians…
Em visita recente ao Pacaembú,numa das poucas viagens que faço a São Paulo e a convite de meu filho Leonardo,fui assistir um jogo qualquer desse campeonato brasileiro que já acabou, e o time venceu.Mas, não foi o meu Corinthians…
Então,sem dramas, vou tentar explicar.O meu Corinthians é terrão, o meu Corinthians é Av.Marginal sem número, o meu Corinthians é sentimento,é suor,lágrimas,meu Corinthians não é sinonimo de classe alta e ingressos de 500 reias, só comprados por Internet.
Meu Corinthians é fila na bilherteria, é noite acordada aguardando os guiches abrirem, e não pacotes milionários, que poucos podem pagar, em direção ao Oriente para acompanhar a equipe.O meu Corinthians não tem estilo, e nem classe.É só paixão.
Não me interessa se sou do seculo passado…assim é que eu penso.O meu Corinthians merece a modernidade, é claro, só não merece virar “Sir” Corinthians, não combina, não engulo esta aristocracia repugnante dos dias atuais.Aristocracia é para o São Paulo e o Fluminense.
O meu Corinthians é Elisa,é Vicente Matheus, é Sócrates, é Casagrande, é Rivelino. O meu Corinthians é o Neto,dos tempos em que ele era apenas jogador de futebol e dos bons.O meu Corinthians é o velho Parque São Jorge dos sanduiches de salame frio e das coxinhas do Valdir.
O meu Corinthians é o Bar da Peteca do Poty, é o restaurante do garçon Jacaré, é o Bar da Torre ou então o frango com polenta dos domingos à tarde.Esse é o meu Corinthians, dos barcos empoeirados encostados atrás dos gols da Fazendinha.
O meu Corinthians queria tanto “tirar” o passaporte e conseguiu, só que ao invés de SC Corinthians Paulista, seu nome de batismo, saiu na página um outro escrito… um raro nome inglês ou talvez americano, MarketingMidia Sport Club…
Sei que estou escrevendo o que muitos acharão um absurdo,aceito é claro, como sempre, mas definitivamente não é o meu Corinthians.O meu Corinthians morreu no dia 14 de setembro de 1986, depois de um ultimo suspiro cansado.Aquele era o meu Corinthians,estabanado, ansioso,mas por sua vêz alegre,sorridente e feliz, que sofria e chorava.
Um Corinthians desprovido de interesses escusos e que nem por isso era menor.Era mais pobre,sem dúvida, mas era mais fiel, aliás como se intitulam os torcedores.Essa fidelidade que sempre foi a marca registrada do clube.
Hoje, os que querem continuar a ser fiéis, não conseguem, pois essa fidelidade ganhou preço e um preço alto.Para ser corintiano hoje em dia precisa ser “chique” e ter computador, Ipad, seja lá a nomenclatura que se dá a isso tudo, senão estará arriscado a nunca conseguir comprar um ingresso sequer na vida.
Os estádios hoje em dia não comportam mais do que 60 mil pessoas.O Corinthians já colocou 140 mil num só jogo, e colocava 100 mil em todos os domingos.As praças esportivas diminuiram e o Corinthians cresceu.Mas, o que cresceu não foi o meu Corinthians.O meu desapareceu,como num toque de varinha mágica.
Boa Sorte ! E certamente eu estarei bem acordado na manhã do dia 12 torcendo muito, sózinho como sempre,falando e xingando
à minha maneira.Vai em busca de seu novo mundo Corinthians, que eu ficarei no meu,sempre abraçado à tua bandeira.
Bandeira aliás que me acolheu naquela fria manhã de domingo quando você morreu.Alías,desapareceu pois os imortais,como a própria palavra diz, e os gigantes não morrem jamais.Vai que a tua fé te empurra, e pelo amor de Deus ,me deixe em paz.Não quero viver a sombra de tuas novas glórias.
Bruno Filho,jornalista e radialista,desbafo de um corintiano apaixonado.
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Twitter: BrunoFComenta