Não chore ainda, Cabedelo!

Tem algo de muito podre nessa história do suposto shopping de Cabedelo que oito vereadores resolveram barrar em noturna e nebulosa sessão realizada anteontem à noite, mas a lama de onde exala o mau cheiro pode não vir exatamente do mangue sobre o qual se expandiu o concorrente de Manaíra, na Capital.

Fonte da coluna garante que na verdade os vereadores agiram daquela forma, ou seja, em tese emendando uma lei antiga para inviabilizar o empreendimento, porque o prefeito Zé Régis “quis resolver a parada sozinho, sem dividir com mais ninguém” a ‘responsabilidade’ pela liberação do empreendimento.

Não dá pra ser mais explícito que isso. A minha sorte é ter leitores inteligentíssimos que sabem exatamente a que estou me referindo ou aonde quero chegar. Não preciso me alongar em explicações ou dicas sobre o que teria acontecido nos bastidores dessa novela, reveladora de comportamentos nada edificantes de alguns de seus protagonistas.

Mas dá pra dizer, de outro lado, que existem outros pontos carentes de explicação nessa trama. Um deles, por exemplo, a localização do ‘Shopping Intermares’, que estaria para ser erguido em local impróprio para esse tipo de conjunto comercial. Segundo me disseram, o terreno é cortado pela linha do trem, fica por trás de uma faculdade particular, espremido entre o asfalto da BR 230 e a Praia de Jacaré, imprensado por casas avulsas e condomínios horizontais.

Como se não bastasse, a área pertenceria a quatro herdeiras, uma das quais teria falecido recentemente. Sequer o primeiro inventário teria sido aberto e nessa situação seria legalmente impossível escriturar o imóvel, mesmo que as herdeiras sobreviventes tenham sido convidadas para entrarem de sócias do novo shopping.

A versão de Roberto Santiago

Roberto Santiago, dono do Manaíra Shopping, a quem acusam de ter patrocinado o veto legislativo ao investimento do Grupo Marquise, jura de pés juntos que nada tem a ver com a história porque, simplesmente, nada precisaria fazer para evitar a construção do que chamam de “o maior shopping da Paraíba”.

“Existe uma lei municipal, antiga, anterior à construção do Manaíra, que não permite construir esse tipo de estabelecimento naquela área. Estão me pegando pra Cristo, mas eu não preciso fazer nada para impedir shopping algum porque a lei diz que não pode e pronto”, afirmou, em conversa por telefone com o colunista.

Disse ainda que se fosse preciso agir, “dentro da legalidade”, agiria porque julga ser seu direito fazê-lo para proteger o seu investimento que, admite, perderia parte da clientela para o novo shopping, assim como o Mag Shopping também perderia e nem por isso acusam Manoel Gaudêncio de subornar vereadores ou coisa semelhante.

“Além do mais, se não existisse lei para proteger uma área de proteção ambiental ou tipicamente residencial como essa onde pretenderiam construir esse shopping, eu também iria querer fazer um em Areia Vermelha. Por que não?”, questiona o empresário.
Quando lhe disse que apesar desses argumentos é bastante compreensível a desconfiança de que ele estaria por trás do boicote ao novo shopping, inclusive por que esse desbancaria o Manaíra por ser maior e muito provavelmente mais atraente, Roberto Santiago reagiu brabo, entre irônico e desafiador:

– Maior que o Manaíra que nada, Rubens! Isso é conversa. Prove. Estão falando em 48 mil metros quadrados de lojas? Eu tenho 63 mil e estou construindo mais 17 mil. Estão falando em R$ 220 milhões de investimentos? Só no Mangabeira Shopping vou investir R$ 300 milhões. E aí?

O importante é ter o shopping

Independentemente de Roberto Santiago ter ‘influenciado’ ou não os vereadores, de Zé Régis ter se comportado ou não feito ferida braba, de os vereadores terem melado ou não o negócio porque teriam ficado “de fora”, importa agora é mobilizar a população contra todo e qualquer obstáculo à concretização de um investimento desse porte.

Não se pode assistir passivamente a qualquer ato de sabotagem a uma iniciativa com tamanho potencial de fazer o bem a milhares de pessoas não apenas de Cabedelo, mas de toda a Grande João Pessoa. Logo, a primeira providência é marcar bem marcado na memória os nomes dos vereadores que votaram contra o interesse da comunidade e puni-los exemplarmente nas urnas de outubro próximo.

É o mínimo que os eleitores de Cabedelo poderão fazer todos e todas que até anteontem à tarde festejavam a perspectiva de ocupar 4,5 mil postos de trabalho prometidos para quando o novo shopping começasse a funcionar. Não é possível que os eleitores conscientes deixem impunes quem votou também contra a possibilidade de 1.500 empregos iniciais para os operários da construção do ‘Shopping Intermares’.

Devo dizer, por fim, que toda essa mobilização e providências sugeridas ancoram-se na premissa de que o Grupo Marquise quer realmente construir esse shopping. Dele a gente espera no mínimo gestões imediatas e intensas junto às autoridades que possam mudar o rumo dessa história. Ou uma ação forte na Justiça para revogar uma lei ou uma decisão nefasta que priva Cabedelo de outro instrumento, além do porto, capaz de gerar emprego, renda, bem estar humano e progresso material.

É possível reverter o quadro e as lágrimas. Deixem pra chorar depois, mas de alegria. Ou de indignação, se esse shopping repetir a história da montadora.