“Eu perdi meu pai de forma trágica. Quero que a Justiça seja feita”. O desabafo é do empresário Célio Leitão, filho de um vendedor de tapiocas de 55 anos que morreu atingido por um carro que trafegava na contramão em uma rua do Bairro Joaquim Távora, em Fortaleza, na manhã do dia 7 de abril deste ano. A colisão foi filmada por câmeras de segurança e as imagens foram repassadas pela família para o 4º Distrito Policial, que está investigando o caso.
Segundo o filho da vítima, seu pai estava em uma motocicleta voltando de uma entrega quando foi atingido por um carro modelo Hyundai Azera no cruzamento das ruas Antônio Augusto e Adolfo Siqueira. O G1 não conseguiu contato com o motorista apontado pela família da vítima.
Nas imagens disponibilizadas pela família do motociclista Auricélio Lima Vieira é possível ver o momento em que ele entra na rua e é atingido fortemente pelo carro. Devido à força do impacto, o homem é arremessado. Ele morreu no local. O motorista foge sem prestar socorro.
Célio diz que testemunhas relataram que o suspeito tentava atingir uma travesti que saiu do carro após uma discussão. No vídeo, também é possível ver uma pessoa, aparentemente a suposta travesti, correndo pela rua. Nesse instante, o motorista tenta jogar o carro para cima dela, entra na contramão e acaba atingindo o homem.
“Ele invadiu a contramão e as imagens podem comprovar isso. Eu contratei um perito, que foi ao local e comprovou que o carro estava a mais de 80 km/h. Ou seja, é quase o dobro do limite permitido. Para mim, foi um homicídio doloso. Ele tentou matar a travesti e matou o meu pai”, disse o empresário.
Após atingir o vendedor, o motorista foge com o carro quebrado. Nas imagens de uma outra câmera de segurança, que foram disponibilizadas pela família da vítima, o suspeito aparece abandonando o veículo no estacionamento de um supermercado na Avenida Antônio Sales, na Aldeota. Ele desce do carro, joga para debaixo do carro uma peruca que seria da travesti e depois sai do local.
“Ele não parou para prestar socorro ao meu pai. Meu pai tinha mais de 100 quilos e ele foi arremessado a mais de 20 metros. Daí dá pra perceber a velocidade que ele vinha naquele momento. Duas testemunhas falaram isso também. Temos provas cabais que ele cometeu um assassinato”.
Auricélio Lima Vieira tinha 55 anos e trabalhava fazendo e entregando tapiocas em diversos bairros da capital. Ele tinha quatro filhos de dois casamentos. O empresário Célio Leitão diz que dois dos seus irmãos por parte de pai têm 11 e 13 anos de idade e estão passando por dificuldades financeiras.
A família da vítima registrou um boletim de ocorrência no 4º Distrito Policial, no Joaquim Távora. Um advogado foi contratado para acompanhar o caso. No entanto, o filho da vítima diz que até agora não recebeu respostas da polícia.
“Ele (motorista) já foi identificado. Eu sei quem ele é. Consegui duas testemunhas, imagens da batida, contratei um perito, mas até agora nada. Não quero dinheiro, não quero nada. Só quero que ele seja preso e que a Justiça seja feita, porque estou cansado de acontecer certas coisas nesse país e não acontece nada”, desabafou.
Motorista identificado
O delegado Munguba Neto, responsável pela investigação, disse em entrevista ao G1 que o motorista foi identificado. Ele se apresentou na delegacia dois dias após o ocorrido e alegou que estava fugindo de um assalto.
“Ele apresentou a versão de que estava voltando da Praia de Iracema e quando chegou naquela altura foi abordado por assaltantes. Ele disse que estava fugindo de um assalto e, como é visto nas imagens, avançou a contramão e chegou a colher o motociclista. Por isso, ele não foi preso em flagrante. Estamos finalizando o inquérito para remeter o caso à Justiça”, detalhou o investigador.
O delegado acrescentou que o motorista pode ser autuado por crime de trânsito, previsto no artigo 302 do Código Penal Brasileiro (CTB), ou por homicídio doloso. As travestis que aparecem no vídeo serão ouvidas na próxima semana, quando deverá ser concluído o inquérito policial.
“O carro dele já foi periciado, recebemos os vídeos e estamos finalizando as entrevistas com as testemunhas e com as supostas travestis que aparecem. Vamos finalizar e tudo vai depender se o Ministério Público acate ou não a nossa tese”, informou.
Fonte: G1 Ceará