Mudanças na Beira-Rio

Por Rubens Nóbrega

Do Jornal da Paraíba

Graças a uma excelente dica visitei ontem lugar de excelência no condomínio cibernético. Refiro-me ao sítio Ecojus (ecojus.com) criado por dois jovens advogados de João Pessoa, ambos especialistas em Direito Ambiental e especialmente preocupados com a sustentabilidade ambiental da cidade em que vivemos. Um deles, Christian Hluchan, também atua na área de Direito Minerário. O outro, Pedro Nóbrega, também membro do Conselho e da Comissão de Direito Ambiental da OAB, é autor de artigo que me chamou a atenção pelo tema e qualidade do texto.


Sob o título ‘Mudanças na Beira-Rio: Melhor X Pior?”, o escrito publicado na página do Ecojus analisa os principais aspectos e impactos do projeto da Prefeitura de João Pessoa que vai, em tese, desafogar o trânsito e melhorar a mobilidade humana na movimentadíssima avenida, por onde trafegam diariamente mais de 35.500 veículos, segundo o autor levantou na própria Superintendência de Mobilidade Urbana (Semob) da Capital. Vou me aproveitar do talento do Doutor Pedro, e por ele autorizado, para servir hoje aos leitores a análise mais consistente e consequente que encontrei sobre as mudanças que o governo do município pretende fazer naquele que é, de longe, o corredor viário mais bonito e mais arborizado de toda a Paraíba.
É justamente esse diferencial, além de um tremendo patrimônio natural, que estaria ameaçado por uma obra ao estilo da maioria das intervenções que pegam carona na onda da mobilidade. No meu entender, esse tipo de iniciativa parte quase sempre da ideia de que os problemas do trânsito são resolvíveis com o alargamento de avenidas para caber mais carros. Mas o que acontecerá daqui a alguns anos é perfeitamente previsível: mais carros vão desfilar pela avenida e atravessar esse samba, porque sua inspiração é o velho estrangulamento que paliativos do gênero jamais resolvem. Mas deixo vocês com quem estudou em profundidade a questão e tem, portanto, moral e conhecimentos acumulados para dissertar com segurança e convicção sobre as mudanças na Beira-Rio. É com Pedro Nóbrega, em excertos, a partir deste ponto.


Do ponto de vista ambiental

Vamos afastar primeiramente o tom poético de se proteger as árvores antigas daquela avenida. Pois através dela, o replantio em local apropriado poderia suprimir este problema. Vamos nos focar na questão prática mesmo. O que acontece se removermos as árvores e, no lugar delas, acrescentarmos asfalto/pavimento (seja de piche ou concreto)? IMPERMEABILIZA-SE o solo! Isto é, a água que naturalmente virá com as chuvas NÃO escoará através da terra onde as plantas estão postas. Lembre-se que as árvores são esponjas naturais, ou seja, absorvem a água sem necessidade de interferência humana. Veja a profundidade que uma extração equivocada pode causar!

Qual seria a solução, então?
A solução – e é bom que isto fique claro – poderia ser a construção de galerias pluviais na lateral do asfalto para que a água pudesse escorrer. Só que nós pessoenses sabemos muito bem como funcionam nossas galerias (…). Quer dizer, elas mal funcionam. Primeiro porque o lixo que descartamos irresponsavelmente no meio da rua é levado pela ação da chuva ou vento para dentro dessas galerias. E essas galerias, que seriam responsáveis para absorver as águas da chuva, viram lixeiros subterrâneos devido a atitudes “tolas” que tomamos no cotidiano. Imaginar, portanto, que as galerias de águas pluviais (chuva) será a solução para o escoamento da água é o mesmo que imaginar que de uma hora para outra a cidade irá mudar seus hábitos quanto ao lixo que descarta a céu aberto. Eis por que troca
r nossa esponja natural (composto de terra + árvore) por esponja humana (pavimento + galerias) é uma péssima escolha e, pior, cara e de eficiência duvidosa.

Do ponto de vista estrutural
O volume de carros que circula nesta avenida está entre os três maiores do Estado (sentido bairro/centro, 18.268 mil veículos; sentido centro/bairro, 17.306). Perde apenas para as avenidas Epitácio Pessoa e Pedro II. É muito carro. E você, amigo/amiga leitor (a), acha que vai acontecer o quê quando a cidade souber que houve um “alargamento” na Beira-Rio? Vai OPTAR por usá-la. Afinal, pela lógica, se alargou terá menos trânsito, menos congestionamento, menos estresse e maior fluxo, certo? ERRADO. Se aumentarmos em uma faixa TODA – eu disse TODA! – a Beira-Rio, teremos um aumento na capacidade de carga para 33%. A avenida, porém, não se alargará de duas para três faixas em vários trechos. Sendo assim, se por um lado teremos trechos de afunilamento de três para novamente duas e posteriormente três faixas, teremos um congestionamento que só mudará de lugar, mas pouco alterará a realidade.

Projeto está todo errado?
NÃO! Mas apenas isto não resolverá. O investimento precisa abraçar uma solução e não um paliativo. A iniciativa é ótima, principalmente na elevação (ponte) sobre o rio Jaguaribe, o que de fato mudará o cenário de alagamentos. Mas trata-se de um projeto de Mobilidade Urbana e para que isto ocorra de fato é p
reciso pensar além de um simples alargamento. Lembrando, como dito no início, que o alargamento das faixas apenas mudará o alagamento de lugar. Ao invés de ser no final da Beira-Rio (sentido centro-praia), poderá ocorrer em diversos outros pontos da mesma avenida. Afinal, perder-se-á a esponja natural da mistura árvore + terra.