MPF monitora programas policiais da TV paraibana

Foi realizado no auditório da OAB, no Centro de João Pessoa, o debate “Jornalismo: ética, sensacionalismo e banalização da notícia”. O evento teve como um dos palestrantes o procurador da República Duciran Farena, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos do Homem e do Cidadão da Paraíba. Durante sua exposição, o representante do Ministério Público Federal falou sobre os programas policiais exibidos no horário do meio dia na televisão paraibana e contou ter ficado perplexo ao assistir, durante a espera em um consultório médico, cenas de um acidente de motocicleta em que uma criança tinha tido uma das pernas praticamente decepada. Segundo ele, em frente à televisão, na mesma sala, estavam algumas crianças que se chocaram com as imagens:

– Há programas que são verdadeiras fábricas de imagens degradantes.

Farena acrescentou que o Ministério Público Federal se aliou ao Estadual para monitorar o nível da produção de alguns programas da televisão paraibana, notadamente aqueles que exibem prisões, operações policiais e tratam de crimes diversos:

– Temos acompanhado isso. Já fizemos duas audiências públicas a respeito e temos uma grande preocupação com a exibição de cenas impróprias em horários impróprios, além da exposição dos presos que já teve uma recomendação com o objetivo de evitar a espetacularização da notícia, mostrando pessoas detidas, mas sob as quais ainda existe a presunção da inocência, como se fossem trofeus. Consideramos que essa prática deve ser banida. Estimula-se que a pessoa detida confesse seu crime, o que viola um direito constitucional, na medida que o repórter instiga o suspeito a confessar algo que ainda será analisado pela Justiça. Vamos tentar conscientizar a imprensa a respeito dos limites que são colocados pela Constituição. Se eles não forem respeitados, partiremos para ações judiciais.

Sindicato critica apologia ao crime e banalização da notícia

O presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba, Land Seixas, fez severas críticas a alguns programas policiais levados ao ar na televisão paraibana. Land disse que este tipo de atração “está deixando a sociedade horrorizada” e acrescentou que alguns apresentadores, além de utilizar palavrões em seu vocabulário, ainda fariam apologia ao crime. Como reação a este fenômeno na mídia paraibana, o sindicato resolveu promover na manhã de hoje o debate: “Jornalismo: sensacionalismo e banalização da notícia”.

Também deverá partir da entidade representativa dos jornalistas da Paraíba a divulgação de uma nota de repúdio aos programas policiais que fazem chacota de detentos e exibem cenas degradantes, como flagrantes de acidentes, facadas e outras agressões.

– Precisamos ter uma reação. Nós convidamos a academia, com esferas da Justiça e OAB para que tenhamos mais força. A reclamação é generalizada e para parar esse processo precisamos do apoio de todos. Tem sido feita apologia ao crime, ridicularização e espetacularização da notícia, a humilhação de pessoas que não têm posses, porque são miseráveis e não tiveram oportunidades na vida… elas não podem ser tratadas com discriminação. O sindicato tem sido cobrado. A sociedade quer uma atitude nossa e nós estamos agindo. Já existe uma ação que não é nossa, mas vamos tentar articular uma ação conjunta que tem muito mais força.

A promotora Ivete Arruda confirmou a informação e disse ter impetrado uma ação civil pública contra os excessos e desrespeitos aos direitos humanos cometidos por “um Sistema de Comunicação”, cujo nome não declinou.

Ao ser questionado sobre um eventual desrespeito à liberdade de expressão dos apresentadores dos programas policiais, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Land Seixas declarou:

– Toda liberdade tem limite. O meu direito termina quando começa o seu. Todos têm o direito de não serem achincalhados.

Participaram da mesa do debate o procurador federal Duciran Farena; o presidente da OAB-PB, Odon Bezerra; a promotora da infância infracional, Ivete Arruda; os jornalistas Walter Galvão (Sistema Correio), Rubens Nóbrega (Rede Paraíba de Comunicação), Patrícia Monteiro (coordenadora do curso de Jornalismo da Faculdade Maurício de Nassau) e Sandra Moura (professora da UFPB).

Cada um no seu quadrado

O Sindicato dos Jornalistas promoveu o debate “Jornalismo: Ética, Sensacionalismo e Banalização da Notícia”, no auditório da OAB/PB, no centro da capital. Um dos debatedores, o jornalista Rubens Nóbrega, registrou a ausência da presidente da API, Marcela Sitônio, e sugeriu que ambos, API e Sindicato, se unissem na promoção de eventos.