Morte e descaso na Paraíba

Rubens Nóbrega

Um bebê de 45 dias morreu anteontem à tarde no Trauminha de Mangabeira, em João Pessoa. Tinha problemas cardíacos que possivelmente seriam resolvidos com atendimento adequado e a tempo.
Mas faltou leito para acolher o menino. Faltou UTI para salvar essa vida. Devem ter faltado também consciência e humanidade nos hospitais onde toda e qualquer assistência lhe foi recusada.
A criança morreu por volta das cinco da tarde, justo a hora em que me preparava para escrever sobre ‘Marasmo e calamidades na Paraíba’, título e tema da coluna publicada ontem neste Jornal.
Escrevi sobre a situação dramática ou caótica por que passam serviços públicos essenciais de Estado, entre eles a saúde, direito de todos, bem maior ou de primeira necessidade da maioria.
O hospital mais apetrechado para socorrer aquele bebê seria o Arlinda Marques, da Capital, talvez o único do Estado, no Estado, referenciado para casos assim. Mas lá não havia médico nem vaga.
Deve ter faltado médico porque a Justiça proibiu o Estado de renovar contrato com cooperativas de profissionais da área. Deve ter faltado vaga porque o Arlinda só tem dez leitos em sua UTI.
Médico não havia também porque o governo não cuidou de fazer concurso atraente para médico com salário decente e condições de trabalho dignas de uma medicina pública de qualidade.
Vaga não havia no Arlinda ou em outro hospital da Grande João Pessoa também porque o número de leitos em UTI pediátrica é absolutamente insuficiente e o governo pouco ou nada faz para ampliar.
Temos apenas 23 leitos do tipo: 18 na rede pública (10 do Arlinda + 4 do HU + 4 do Trauma) e 5 do Amip. 49 em todo o Estado, total que precisa dos leitos de Campina para a conta de chegar.
O mínimo necessário seria de 93 leitos, nas contas da Doutora Kátia Laureano, presidente da Sociedade Paraibana de Pediatria. Atenderia pelo menos a 10% da população potencialmente usuária.
Os usuários são quase um milhão de crianças que a tragédia continuada da Paraíba não conseguiu matar, mas que ainda pode se não forem levados em conta os apelos e alertas da Doutora Kátia.
Ela vem alertando desde o ano passado, embora em maio tenha chamado a atenção com mais ênfase para o problema em carta dirigida a autoridades, entidades, Ministério Público e imprensa.
O Conselho Regional de Medicina, as Secretarias de Saúde do Estado e do Município da Capital conhecem os dados e os temores da presidente da SPP. A Promotoria de Saúde do MP, também.
Meio caminho andado para suprir tanta carência seria transferir para unidades semi-intensivas crianças portadoras de doenças crônicas que têm permanência prolongada nas UTIs pediátricas.
Mas não fazem uma coisa nem outra. Restaria, então, rezar pelas vidas já perdidas e por aquelas que ainda à mercê da inércia, omissão ou incompetência do poder público em todas as esferas.

Creches ao Deus dará

No dia 14 de janeiro de 2009, Dona Glória Cunha Lima, primeira-dama do Estado de 1991 a 94, foi até Mangabeira IV reinaugurar a Creche Karina Zagel, construída na gestão do marido Ronaldo e reformada no governo do filho Cássio, que na unidade investira cerca de R$ 80 mil, metade em obras, metade em equipamentos.
A creche ficou com capacidade para 100 crianças de 2 a 5 anos. Sua restauração fez parte de um programa que tinha como meta botar pra funcionar em boas condições pelo menos 50 creches mantidas pelo Estado. Hoje, parte delas, sobretudo na Capital, só funciona se pessoas que lá trabalham trouxerem de casa ou comprarem com o próprio dinheiro materiais de limpeza, higiene e até alimentos.
Pelo menos na Karina Zagel tem sido assim, onde a precariedade seria tão grande quanto o medo de funcionárias e funcionários de denunciarem o absurdo em que se transformou a manutenção da creche. Temem com razão. Sabem que pelo menos até 2014 viverão sob domínio e possível vigilância arapongaica do império da arrogância, do autoritarismo e do arbítrio.
Alerta à Justiça Eleitoral

Sei que os fiscais e policiais recrutados para a tarefa estão positivos e operantes, mas não custa avisar que na madrugada desse sábado, e possivelmente na de domingo também, algumas das mais populosas favelas da Capital podem sofrer a invasão de pessoas tocadas por um súbito e incontrolável desejo de ajudar eleitores pobres.
Segundo me passou fonte da melhor qualidade, sem muita esperança de reverter, mas ao menos reduzir substancialmente certa votação que se prenuncia consagradora, estaria em curso uma grande e desesperada operação para evitar resultado extremamente danoso ao ego e ao projeto de futuro de determinado poderoso.
Como conheço a peça e sei que ele capaz de tudo e mais um pouco, faço o alerta de bom grado e com renovada crença de que as urnas nos farão justiça. Agora e daqui a mais dois anos.