Morreu o coletivo, um fantasma criado por RC

Gilvan Freire

O JORNAL DA PARAIBA, edição de domingo, estampou na primeira página noticia sobre uma ‘visagem’ que habitava o mundo ilusionista da Capital, mas que, como ‘assombração’, interferia na vida política local. Os dicionários da língua portuguesa afirmam que esse tipo de fenômeno é também conhecido com ‘visão; suposto aparecimento de defunto sob forma indefinida; espectro; aparição’. Tudo isso quer dizer ‘fantasma’, um substantivo que bem pode ser usado para definir o coletivo, esse agrupamento que RC criou entre o final dos anos 80 e principio dos anos 90, objeto da interessante reportagem trazida pelo JPB.

Segundo o Jornal, o Coletivo, posteriormente chamado de Coletivo Girassol, ‘não existe mais’, porque – diz a competentíssima jornalista Aline Lins, que assina a matéria – o próprio governador Ricardo Coutinho decretou seu fim. Aline ouviu vários membros do que seria esse estamento ideológico e tomou como referência palavras de RC, para quem o coletivo virou partido político – o PSB, e morreu.

Especulando sobre a gênese do grupo, Aline registra ‘apesar de nunca se esclarecer o que isso significa e de onde surgiu’, exatamente a mesma impressão que todo mundo tem quando é para achar o mínimo sentido na pequena corporação que inventou Ricardo tanto quanto ele a inventou.

Lau Siqueira, Alexandre Urquiza, Bira, Sandra Marrocos e Paula Frassinete procuraram explicar o Coletivo. Mas foi Derval Gózio, pensador baseado na comunidade acadêmica, que ofereceu os devidos conceitos. Ele foi fundador do grupo, mas não enxerga, como os outros, os predicados que lhe são atribuídos.

Seria afrontoso desconsiderar os ‘coletivistas’ como militantes e estrategistas políticos, só porque sua organização nada produziu extraído do cérebro humano. Afinal, praticamente todos são agentes sociais qualificados e pensadores importantes na percepção dos fenômenos políticos dos últimos tempos. Eles só se anularam porque abriram de mão do direito de pensar quando RC os agrupou em seu Coletivo e exigiu que eles pensassem pela cabeça dele. Deu no que vem dando. Agora, quando todos estão entendendo que abdicar de pensar é abdicar de viver, muitos já estão morrendo como pessoas capazes. E, antes que haja uma insurreição, RC sabiamente decretou: ‘o Coletivo está morto’. Rossana Honorato, pessoa muito lúcida que abriu os olhos antes de Luciano Agra ter os seus abertos pela imprensa, ferida e traída, foi uma das primeiras a denunciar: o ‘Coletivo não existe mais’. E foi aí que pode recuperar a visão do mundo real.

O COLETIVO VISTO PELO DISSIDENTE E CRÍTICO

‘O Coletivo nunca existiu’, detona Derval, para quem ‘o que existia era o imperativo Ricardo Coutinho’, e esclarece: ‘não se pode deixar de reconhecer que Ricardo sempre teve uma atuação interessante, em face da mediocridade dos parlamentares da Câmara Municipal de João Pessoa. Mas o Coletivo era um aglomerado de pessoas muito mais para dar ânimo as ações de campanha do que para discussão de gestão e ação de governo. Isso não passa pelo Coletivo. O Coletivo serve, simplesmente, como discurso’.

O professor universitário complementa: ‘serviu para alavancar Ricardo, era a força de trabalho, a certeza de que o panfleto ia ser distribuído nos sinais de transito, nos bairros, nos locais de trabalho, para convencer as pessoas a votarem’.

O diagnóstico de Derval Gózio coloca o Coletivo Girassol no lugar onde estiveram os trabalhadores da indústria no projeto político de Lula. E não muito diferente do que fizeram os estivadores do estaleiro de Gdansk na eleição de Lech Walesa na Polônia dos anos 90. Ainda não seriam estes os pensadores políticos da elite acadêmica paraibana contemporânea, porque renunciaram à vida normal para viver uma experiência de aquário em laboratório de águas presas. Estão quase todos vivendo os momentos mais cruciais, pois respiravam com auxilio de oxigênio injetado, e doravante terão de sobreviver com a mangueira de ar cortada. Porque RC decretou o fim do ciclo e do confinamento. Cada um que se vire. Fuba, Derval, Rossana e outros aprenderam antes que o mar foi feito para os peixes, e não os aquários. Respirar é preciso.