Morrendo’ pela boca

Rubens Nóbrega

Por necessidade ou comodidade, faço pelo menos uma refeição por dia fora de casa. Geralmente o almoço, que nos chamados dias úteis me leva às praças de alimentação de shoppings ou, fora deles, aos restaurantes de comida rápida e a quilo do centro da cidade.
Na minha circunstância, para justificar o não ir pra casa almoçar, argumento com a família que sai mais barato fazer assim, embora admita que certamente não seja essa a maneira mais saudável de se alimentar. Que o digam meu estômago e, principalmente, intestinos.
Não raro, feito aconteceu na semana que passou quase inteira, acabo-me em visitas frequentes e prolongadas ao banheiro, secundadas por antidiarreicos, chás de boldo, cidreira e – por sugestão do mano Robson – folhas e galhos da pitangueira. E tudo isso, como se fosse pouco, abstendo-me de comer o que mais gosto.
Tive meus dias de ‘rei’, confesso, mas não usurpei o trono de seu ninguém. Afinal, não dá pra competir com certo alguém que vem ‘obrando’ barbaridade por aí.
De qualquer forma e sorte, é um sofrimento, amigos e amigos, pelo qual vocês já devem ter passado. Afinal, dor de barriga não é privilégio de uns poucos, mas algo bem comum entre consumidores habituais de comida muitas vezes preparada sem maiores cuidados higiênicos, de conservação ou guarda adequada de alimentos.
Esses cuidados, da parte de nossos fornecedores, ou seja, daqueles que comercializam comida pronta para a freguesia, parecem-me que na Paraíba, João Pessoa em particular, são tão precários quanto aqueles dos órgãos públicos que deveriam atuar mais regularmente na fiscalização desses estabelecimentos.


Por que só no verão?

Em condições normais de temperatura e pressão ou em qualquer país que se pretenda civilizado e organizado, não é preciso esperar por uma determinação estação do ano para que sejam deflagradas as abordagens e inspeções das instalações e dos manejos no preparo de comida de bares, lanchonetes e restaurantes.
Adoraria ver as vigilâncias sanitárias do Estado e municípios atuando o tempo todo, o ano todo, fazendo chuva ou sol em nosso território. O serviço, um serviço público de saúde por excelência, não deveria ser exclusivo – como parece ser – do verão.
Digo isso porque esta semana mesmo que passou li notícia sobre uma ‘Operação Verão’ realizada pelo Procon Estadual e pelo Municipal de Cabedelo na orla do Jacaré. Desse trabalho resultou a atuação de dois bares e a interdição de uma cozinha onde – vejam só! – estaria ocorrendo reaproveitamento de comida.
As matérias divulgadas sobre o assunto tiveram o cuidado de omitir os nomes dos estabelecimentos (atitude correta, já que os autuados têm prazo para defesa e recurso), mas me estranhou que a Operação já tenha, inclusive, data para acabar. Segundo os portais da Capital, só vai até o final de janeiro.
Por que só o Procon?
Estranhou-me mais ainda que esse tipo de fiscalização tenha sido efetuada pelo Procon, que até onde sei cuida mais das relações de consumo do que das condições sanitárias do comércio de comes e bebes. Deve ter sido uma denúncia específica, imagino, porque as notas publicadas sobre a operação nada trazem sobre o exatamente que levou o Procon a iniciá-la nos bares do Jacaré.
Bem, não importa tanto… O importante é aproveitar o mote para chamar a atenção das autoridades do ramo e pedir-lhes que se dediquem regularmente, não sazonalmente, à fiscalização dos estabelecimentos que diariamente preparam e servem milhões de refeições sem acompanhamento algum do poder público.
Agora, se o problema for de pessoal, ou seja, gente habilitada para o ofício, que o Governo do Estado e prefeituras cuidem urgentemente de repor e expandir a força de trabalho necessária a um serviço, como já disse, fundamental para a saúde de milhões de consumidores paraibanos e seus visitantes.
Não é tão difícil assim. Basta ter consciência do problema, reconhecer a carência e, sobretudo, a necessidade de resolver. O mais é montar um concurso, abrir inscrições, selecionar, oferecer salários dignos, condições de trabalho razoáveis, treinar e botar na rua (no bom sentido) os novos guerreiros defensores da salubridade geral.

Qualificando o serviço
Se os governos fizerem assim, estarão agindo em favor também para qualificar o serviço prestado por bares, lanchonetes e restaurantes. Para efeito interno e já pensando no crescimento da Paraíba como destino turístico, esse zelo bem poderia se transformar num diferencial nosso em relação à concorrência, sobretudo dos vizinhos.
Em Pernambuco e Rio Grande do Norte, por exemplo, apesar da banca que eles botam, não se iludam: reaproveitar sobras de comida servida (e não é só pra fazer sopa) não é exclusividade de algum bar do nosso Jacaré. Se pesquisarmos direitinho, vamos descobrir que o consumo deles de imosec, tiorfan e outros remédios da mesma linha empata ou até supera o da gente.