Mordomia chapa-branca

Rubens Nóbrega

Eleito governador em 2014, meu primeiro ato será acabar com todos os usos e abusos do dinheiro do contribuinte para bancar mordomias oficiais do Poder Executivo no Estado da Paraíba (e os outros poderes vão ter que aderir, tenho certeza).

Farei de um modo que qualquer outro sucessor jamais ousará fazer com que o povo volte minimamente a financiar o luxo, a ostentação, as comodidades, desperdícios e sinecuras do governante e de seus auxiliares mais próximos.

Já pensou o quanto vamos economizar, por exemplo, com o fim da Granja Santana, símbolo mais expressivo do absurdo que é a gente pagar do palito de dente ao sabonete, da gasolina dos inúmeros carros às passagens de avião e hospedagens de altíssimo padrão para o governador e familiares?

Pretendo dar utilidade pública à Granja de Miramar. Uma escola, um hotel-escola, um centro de recuperação de drogados, um hospital, uma creche… Qualquer coisa nessa linha, enfim.

Garanto como jamais vou fazer daquilo a minha casa ou escritório para receber os ‘sócios’ do poder e com eles tramar as mais ‘tenebrosas transações’ contra os interesses e os cofres públicos.

A propósito, além desses prejuízos que nos dão, vocês aí, caríssimas, têm pelo menos a mais vaga ideia do quanto custa sustentar a família real da vez? Dá nem pra estimar, muito menos calcular com precisão. Essas despesas são muito difíceis de levantar, de rastrear. Andam dispersas pelas mais diversas rubricas do orçamento.

Ou seja, os recursos são públicos, lógico, mas sua disponibilidade e proveito são inteiramente privados. Mesmo assim, vou atrás. Vou pesquisar, perguntar, assuntar, botar na balança e na peneira; o que passar, trago depois pr’ocês.

Movido pela indignação

Por enquanto, eis um primeiro registro da indignação que vez por outra me ferve por dentro e transborda quando vejo tanta gente sofrendo, passando toda sorte de privações, enquanto os caras que elegemos pra resolver – ou pelo menos tentar – comportam-se como se estivessem nem aí!

A julgar pela pose, eles estão mesmo ‘se lixando’, caríssimos. Pois, enquanto a imensa maioria da população pena de fome, sede e dívidas, principalmente em ano de seca, os bacanas refestelam-se cada vez mais do bom e do melhor que o erário lhes patrocina.
Só para vocês terem uma ideia, de 1º de janeiro de 2011 a fevereiro deste ano a gente pagou mais de R$ 18 milhões em viagens dos nossos ‘agentes públicos’. E é claro que eles vão dizer que tudo isso foi de viagens ‘a serviço’.

Por falar em Claro, essa telefônica embolsou R$ 62.811,39 no mesmo período apenas pelo que consumiram dos seus serviços a Companhia Docas, A União, Tabajara, Suplan , Secretaria da Saúde e CDRM.

Por sua vez, pela linha da Vivo trafegaram R$ 57.060,03 retirados da bolsa da Viúva para custear as ligações de quem fica com um celular por ‘conta do cão’ em secretarias como a de Segurança, Comunicação e Casa Civil do Governador.

Já a Tim… Ah, a Tim… Não à toa essa empresa tem nome que lembra brinde, festa, farra, o som de copos e taças saudando uns aos outros. Tintim! Saúde aos R$ 525.086,30 que a Tim recebeu da posse do Ricardus I ao primeiro trimestre deste ano.

Haja dinheiro, minha gente!
É mais de meio milhão de reais, minha gente, pra essa galera usar e abusar de celular por nossa conta. É dinheiro! E dinheiro da população, empregado para cobrir gastos – pelo visto – sem o menor controle.

Agora pergunto: vocês, que fazem parte dessa massa, concordam em continuar mantendo indefinidamente essa sangria desatada que consome nossas receitas para o desfrute de uns poucos, quando essa grana poderia resolver os problemas de milhares?

Se ainda concordam, somem, por favor, o que já disse até aqui ao que vocês imaginam de gastos com seguranças, motoristas, mordomos, governantas, cozinheiras, arrumadeiras, camareiras, jardineiros etc. da residência oficial do governador.

Não esqueçam de incluir, além dos salários que esses servidores recebem honesta e merecidamente (eles fazem seu trabalho e não têm culpa alguma), os encargos sociais, diárias, horas extras etc. para mantê-los a serviço da Corte.

Essa conta sobe ainda mais se a ela agregarmos as cifras extraordinárias que representam as diárias pagas ao governador e aos seus secretários, assessores e mais chegados que se deslocam para os frequentes eventos girassolaicos.

Evidente que não tenho ainda os números exatos, mas vou dando logo pistas para que alguém – mais apetrechado intelectualmente ou de conhecimento abalizado na matéria – possa me ajudar a responder à seguinte questão: quanto custa toda a mordomia diretamente ligada à pessoa do governador?

Pra fechar: se alguém aí acha que estou cuidando disso porque no governo está o Doutor Ricardo Coutinho, garanto-lhes que não é nada disso. Embora não dê pra esconder que ele, do jeito que vai, mesmo de graça sai muito caro pra muita gente.

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Aguardem, em colunas próximas, novas medidas de um governo verdadeiramente austero e econômico para o povo. Começando pelo fim – também – dos carros de representação e alugados para serviços não essenciais.