Monumentos ao Sol

Rubens Nóbrega

Na Venezuela tem um Estado chamado Lara que tem uma capital chamada Barquisimeto que é exaltada pelos nativos como a Cidade dos Crepúsculos, por conta dos seus belos entardeceres, tal e qual temos em nossa praia do Jacaré.
Mas os venezualanos não se resumiram a um músico, um sax e um barquinho para dar significado mais do que poético, além de turístico, ao por-do-sol em Barquisimeto. Lá, eles montaram um majestoso Monumento ao Sol, algo como a Porta do Sol que sonho ver um dia construída em nossa Ponta do Seixas.
O monumento de Barquisimeto, um relógio do sol, foi criado pelo artista plástico venezuelano Carlos Cruz Diez e erigido em uma das entradas da cidade que é conhecida ainda, vejam só, como a Capital da Música da Venezuela. A música de Ravel também deve tocar por lá, presumo.
A propósito de relógios do sol (um poderia compor a nossa Porta do Sol – por que não?), tem um muito bonito em Balneário de Camboriú, Santa Catarina, próximo à famosa Cascata das Sereias. Foi construído por Felix Carbajal, artista uruguaio, “em agradecimento à hospitalidade recebida”.
Falando em Santa Catarina, na viagem que fiz ontem pelo Google à procura de monumentos ao sol encontrei outro em Florianópolis, e do mesmo modo nucleado por um relógio de sol. Foi inaugurado em 2004 para comemorar os 256 anos da chegada dos açorianos à ilha.
Rodando um pouco mais por Floripa, o visitante pode se deparar ainda com o Monumento ao Povoamento Açoriano. Esse foi inaugurado em 1996 e nasceu de um concurso nacional (tal como proponho pra cá, para a nossa Porta do Sol). Quem ganhou o concurso catarinense foi o artista plástico Guido Heuer.
Ah, e quem promoveu o concurso foi gente muito boa do Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal (UFSC), da Prefeitura Municipal de Florianópolis e do Governo Regional de Açores. Já pensou, que bacana, fazer a mesma coisa aqui?
Mas o que me impressionou mesmo foi descobrir que podemos fazer da Porta do Sol muito mais do que um monumento turístico.
Podemos fazer dela o portal de um novo tempo de verdade para a nossa gente, para a nossa terra. Podemos fazer dela a inspiração de uma usina de energia solar que poderia ser vital para um desenvolvimento ambientalmente mais saudável da Paraíba.
Exemplo espanhol
A Porta do Sol poderia ser uma réplica – em sentido funcional e estético – da torre da Usina de Energia Solar PS10 (Planta Solar 10) de Sevilla, sul da Espanha. Dei com essa maravilha no YouTube, onde é possível reproduzir reportagem sobre aquela usina exibida em edição do Jornal Nacional no começo de agosto de 2008, matéria assinada pelos competentíssimos Marcos Losekan e Paulo Pimentel. Que diz assim:
– No meio do terreno árido, a usina se destaca pela magnitude. Quanto mais perto, mais imponente, mais impressionante. Do chão brotam os raios (de espelhos refletores) que se convergem no topo da torre de 160 metros, mais alta que um prédio de 50 andares. É radiação solar em estado puro, concentrada num único ponto. O calor natural para aquecer a água que corre por dentro da torre até virar vapor a 400 graus centígrados, pra mover as turbinas que produzem energia elétrica. Sem poluir o meio ambiente. São 1.900 espelhos gigantes que se movem lentamente como os girassóis (Epa! Tá lá no texto do Losekan, juro).
O repórter conta ainda que “nem dá pra perceber a mudança de posição, mas eles estão sempre alinhados com o sol, pra refletir o máximo de luz direto pra torre de captação”. E prossegue: “Essa é a maior usina de energia solar, em escala comercial, do mundo. Daqui sai eletricidade suficiente para abastecer 180 mil casas ou uma cidade do tamanho de Sevilla, que fica a 20 km da usina. A construção ocupa uma área do tamanho de 60 campos de futebol. Custou o equivalente a meio bilhão de reais. Cada centavo saiu da iniciativa privada, um consórcio de empresas espanholas que planeja recuperar o investimento em apenas dois anos (ou seja, já recuperou, considerando que a matéria foi feita em 2008)”.
Nesse ponto, entra em cena o engenheiro responsável pela produção de energia (infelizmente, esqueceram de botar o nome, o crédito, do rapaz), mas o que ele diz é muito importante. Vejam se não é: “Trocamos o gás, o carvão e o petróleo pelo sol, que brilha 240 dias por ano na região sul da Espanha e é de graça”. A partir daí, enquanto a câmera de Pimentel passeia pela usina e mostra a beleza que é, a voz de Losekan volta para fechar e informar que uma segunda usina, ainda maior, está em construção.
– Outras sete completarão a plataforma solar de Sevilla até 2014. O plano é fornecer eletricidade para todo o sul da Espanha. E o melhor de tudo: evitar que sejam despejadas 600 mil toneladas de dióxido de carbono por ano na atmosfera. É uma tecnologia que pode servir em qualquer parte do planeta, inclusive no Nordeste do Brasil (Olh’aí!.. Olh’aí!… como diria o filósofo Tony Show), onde o que não falta é sol. Trata-se da fonte energética mais antiga do mundo, mas ainda considerada por muita gente um negócio do futuro. Não na Espanha, onde já é, claramente, um sucesso – arremata o iluminado e brilhante Marcos Losekan.
Que venha, então, a Portal do Sol e no rastro de sua luz várias usinas de energia solar para fornecer eletricidade mais barata para o povo da Terra do Sol, que somos nós.