MISTÉRIOS E ENIGMAS DESFEITOS

ricardo marcelo

Gilvan Freire

                        Em qualquer lugar do Brasil os candidatos ao Senado já estão sendo lembrados, quase na mesma proporção em que são lembrados os candidatos a governador. Isso ainda não é definitivo, porque as convenções são em junho, daqui a três meses, e muita coisa pode acontecer até lá. Mas, os interessados começam a se mexer, a mostrar a cara, dizer o que pensam e demonstrar como agem – é hora de cada um por no olho da rua o seu retrato político, seu perfil, sua conduta. Um pensador disse apropriadamente que “o comportamento é um espelho no qual refletimos a nossa própria imagem”. Pois é: a conduta mede os homens. Isso não se aplica somente aos candidatos a governador e a senador, se aplica a todos os candidatos a cargos eletivos. É dose o eleitor ter de passá-los na peneira, porque a malha há de ser grossa, senão não passa ninguém. O comportamento político virou uma sujeira em grãos.

  Na Paraíba, pro Senado, já há pretensos candidatos para todos os gostos e desgostos. Uns não representam nada, a não ser seus próprios interesses pessoais. Não falam a setores da opinião pública, a nenhum segmento da sociedade organizada, à alguma linha partidária nacional, ou defendem causas especificas do país e do povo. São os redondos opacos – não têm ideias, não são transparentes e nem têm lado. Transitam entre todas as correntes partidárias do Estado como se fossem apenas neutros, embora essas correntes se digladiem de forma mortal. Querem salvar a pele a custa da briga dos outros. Dante Alighieri dizia que eles têm assento certo é no inferno (lugar dos neutros) – e não no Senado. O que se aplica também à Câmara Federal, às Assembleias e a quase tudo na vida. Fracos, frouxos e neutros são a mesma pessoa.

OS ENIGMAS JÁ SÃO VISÍVEIS

É possível que os candidatos a governador não consigam escolher os melhores candidatos ao Senado. Cássio não escolherá CÍCERO, o candidato mais querido e mais forte do cassismo, o que tem mais identidade partidária com o PSDB e um dos mais autorizados opositores de Ricardo Coutinho. É impensável, nesta conjuntura, duas candidaturas majoritárias pelo mesmo partido, por conta da necessidade de coligação. CÍCERO sobra.

 

WELLINGTON ROBERTO trafega em mão única. Depois de ter sofrido problemas de saúde, arrefeceu e não demonstra maiores interesses no processo. De qualquer forma, não joga em todas as frentes e atua mais próximo a Veneziano. O PT pode tomar-lhe a vaga. Prá nada, pois não tem quadros competitivos.

ZÉ MARANHÃO, candidato do PMDB a deputado federal (provavelmente o mais votado do pleito) é, no imaginário coletivo, o mais forte entre todos para ocupar a única vaga de Senador. Em todas as pesquisas e enquetes até agora realizadas (inclusive a última interna do governo) o nome dele é o favorito, muito distante do mais próximo, Rômulo Gouveia. Pode ser ainda o rescaldo dos últimos confrontos entre o cassismo e o maranhismo, ou um sentimento de reconhecimento do povo a um político longevo que se preza e não desmoraliza a vida pública. Mas, pela mesma razão que afeta Cícero, o PMDB não pode ter dois candidatos na chapa majoritária. RC gostaria de tê-lo em sua companhia, mas não há como. Se o PT fechar com Veneziano, colocando um nome inexpressivo na chapa, só resta a Vené sacar MARANHÃO pro Senado – a forma aconselhável para enfrentar o favoritismo de Cássio e garantir o terceiro lugar a RC no pleito. Eis ai um enigma ligado ao destino dos homens. O destino, sim, é indecifrável.

 

RICARDO MARCELO emerge. Ele é a única revelação da política da Paraíba nos anos recentes. É calado, quase mudo, como quem só sabe ouvir. Não revela seus sonhos e projetos mas nutre os dois com a descrição de um interessado que não confessa a ninguém aonde quer chegar. E é chegador. Tem faro para as oportunidades.

 

Há, neste instante, na Assembleia Legislativa, um movimento silencioso, prestes a eclodir, objetivando usar a força eleitoral que o poder tem para fortalecer uma das candidaturas a governador e decidir as eleições. A Assembleia foi o único poder do Estado que reagiu aos desatinos de RC e impediu o totalitarismo absolutista pleno de seu governo. RICARDO MARCELO armou o poder, protegeu os deputados e liderou a reação. RC quer ir à forra agora. Gosta de encrenca, como se não bastassem as que já tem. Ricardo Marcelo é alvo de sua ira, mas RC está fragilizado. Vai dar errado.

 

A Assembleia, como núcleo de resistência política organizada, quer ter papel no jogo eleitoral. Pretende canalizar a maior parte de suas forças para uma direção só. O PEN está na base dessa estratégia e o nome de RICARDO MARCELO, o silencioso, começa a fazer barulho – pro Senado. Ele não é redondo, nem opaco, nem neutro: tem lado. E seu lado é Cássio.