O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, considerou nessa segunda-feira, 20, que os efeitos do embargo à exportação de carne brasileira podem ser desastrosos para a economia do País. Hoje, Chile, China, Coreia do Sul e países da Europa anunciaram a suspensão da compra de carnes brasileiras após a Operação Carne Fraca da Polícia Federal encontrar irregularidades em produtos de 21 frigoríficos. “Se todos os países interromperem a importação, será um desastre”, disse o ministro que, no entanto, minimizou os efeitos da operação em relação ao consumo no Brasil. Maggi anunciou um esquema especial de fiscalização para produtores de carne.
O ministro disse que os frigoríficos investigados não poderão exportar, mas continuam autorizados a vender ao mercado doméstico sob um regime especial de fiscalização. Mesmo com os problemas mencionados pela investigação, o ministro reafirma a confiança na carne brasileira e lembra que o sistema de fiscalização do Brasil não foi quebrado e o problema foram algumas pessoas.
Maggi disse ainda que teve autorização do presidente Michel Temer para que, se for necessário, endureça na reação aos países que vierem a bloquear as importações de carne brasileira. “Comércio é assim, às vezes tem cotovelada”, comentou, em entrevista concedida no Ministério da Agricultura. “Se tiver de ter uma reação mais forte, farei com toda tranquilidade.” Ele acrescentou que, mais cedo, havia pedido permissão a Temer para endurecer se for o caso.
Blairo fez esse comentário ao falar sobre uma hipótese de embargo da carne brasileira pelo Chile (o país fez um comunicado ao Brasil, mas não está claro ainda sua extensão). O ministro lembrou que o Brasil é grande importador de produtos chilenos também.
No balanço apresentado, ele disse que a China suspendeu o desembaraço de produtos brasileiros até ter informações adicionais e confirmou que será feita uma teleconferência hoje às 21 horas para prestar esclarecimentos às autoridades chinesas.
A União Europeia, disse ele, não tomará medidas adicionais à suspensão da compra de carne dos 21 estabelecimentos alvos da operação Carne Fraca. Desses, 4 exportam para o bloco. A lista divulgada mais cedo pela Agricultura mostra que, nos últimos 60 dias, BRF e JBS exportaram para lá. Os outros dois não foram informados.
O Egito também teria informado sobre a possibilidade de restringir a compra do produto brasileiro.
Potencialmente, todos os 33 países que compraram carne dos 21 estabelecimentos alvos da Carne Fraca podem pedir informações, admitiu o ministro. Seria algo natural, comentou. A concretização de uma suspensão total por esses países e blocos econômicos seria um “desastre”. “Eu torço, rezo, penso trabalho para isso não acontecer”, afirmou. As reações até o momento têm mostrado que os países têm buscado informações técnicas antes de reagir. “Ontem eu estava preocupadíssimo; hoje estou preocupado”, comentou o ministro.
Consumo interno. Ao lembrar que a investigação levou dois anos e casos reportados no caso se referem muito provavelmente a produtos que não estão mais no mercado, Maggi explicou que os frigoríficos investigados estão passando por um processo especial de investigação e poderão continuar vendendo ao mercado doméstico, o que deve prevalecer por pelo menos três semanas. “O consumidor pode consumir com tranquilidade o produto brasileiro”, disse em entrevista na portaria do Ministério.
Para o ministro, não há qualquer preocupação para o consumidor brasileiro que continua sendo protegido pelo Sistema de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura. “O SIF não está sob suspeita. O que está sob suspeita são as pessoas”, disse o ministro. “Espero deixar o assunto circunscrito aos 21 frigoríficos citados na investigação.”
Quando há problema, frigoríficos podem fazer um recall da carne – com a retirada do produto do mercado. Essa solução foi adotada pela BRF que está retirando lotes com o selo de inspeção “SIF 1010”. Maggi disse ainda que o Ministério está colhendo amostras de carne nos supermercados e, caso encontre problemas, vai recomendar a retirada das mercadorias.
Maggi fez questão de frisar que toda a preocupação do Ministério da Agricultura diz respeito à sanidade dos produtos brasileiros. “A corrupção é uma questão da Polícia Federal”, disse Maggi. “Não vamos nos contrapor à ação da Polícia Federal”, disse.
Fonte: Estadão