Mesquinharia política

Rubens Nóbrega

Mesmo requentado em muitos de seus itens, o que de modo algum tira o mérito do conjunto da obra, o anúncio de investimentos feito anteontem pelo governador Ricardo Coutinho poderia ter sido aproveitado para ele mostrar-se enfim o estadista que todos esperam de um governante eleito com margem tão espetacular quanto aquela que o elegeu em 2010.

Mas, em vez de magnânimo, Sua Majestade mostrou-se mesquinho e ingrato ao tratar Campina Grande como uma cidade menor.Mesquinho porque destinou ao segundo município mais importante do Estado menos da metade do que decidiu alocar para outros que não chegam nem perto da metade da importância, dos problemas e das responsabilidades de Campina.

A mesquinharia política, nesse caso, assume clarividência solar quando se sabe que Veneziano Vital, prefeito de Campina Grande, vem subindo o tom nas críticas ao Ricardus I e se qualificando cada vez mais como o principal obstáculo à reentronização do monarca estadual em 2015. Quanto à ingratidão, basta lembrar o tanto de votos que os campinenses deram a Ricardo há um ano e meio.

Nesse contexto, afigura-se como ostensiva discriminação os R$ 10 milhões destinados a Campina, ainda mais quando comparados aos mais de R$ 100 milhões reservados a João Pessoa ou aos R$ 22 milhões consignados para Cajazeiras. Não que a Capital e a querida cidade sertaneja não mereçam. Sim que Campina merecia mais, bem mais. Tanto em verbas quanto em consideração, respeito e retribuição da parte do governador.

Além do mais, em matéria de esgotamento sanitário o Ricardus I nada vai fazer além de retomar obras do saudoso Programa Boa Nova dos Cássio I e II, paralisadas há mais de quatro anos por desacertos daquele governo com o consórcio liderado pela Queiroz Galvão.
Não se trata de nenhuma obra nova, portanto. Junto a isso a escolha dos bairros a serem beneficiados e ver-se-á que ela não atende, em tese, às reais prioridades do município nessa área. Digo isso baseado na conversa que tive ontem com o secretário de Planejamento de Campina, Ricardo Pedrosa, para quem o Jardim Continental e a Ramadinha, ao lado de outros bairros periféricos, teriam que ser priorizados na atual investida imperial.

“A equipe técnica da PMCG, se fosse solicitada a tanto, teria todas as condições de indicar as prioridades, inclusive porque o atual governo municipal, em parceria com o federal, investiu mais de R$ 15 milhões em esgotamento sanitário nos últimos oito anos, ou seja, bem mais do que o Estado”, ressaltou o secretário.
Terceiro anúncio da mesma obra

Quanto à abertura da Avenida Almeida Barreto, a outra obra prometida a Campina, Pedrosa me confessou seu espanto de ver tal iniciativa no pacote anunciado com tanta pompa e circunstância. Afinal, seria essa a terceira vez que o governador diz que vai realizar essa obra.

A primeira aconteceu no aniversário da cidade, em 11 de outubro de 2011; a segunda, em dezembro do ano passado, por ocasião de uma dessas visitas do soberano para assinar ordens de serviço deixadas prontas pelo antecessor. Nessa sequência, a terceira vez de uma mesma promessa dá razão a quem suspeita de que muita coisa foi requentada para fazer volume e o governo mostrar-se realizador, operoso.

Outro detalhe que chama a atenção é a absoluta falta de comunicação entre os dois governos na definição de obras. Temo que tal tenha ocorrido em relação aos demais municípios listados. Mas o fato é que o governo estadual, pelo menos no caso de Campina, não consultou o municipal, que por óbvio conhece melhor as necessidades, carências e insuficiências da infra de sua comuna.

“Pelo que me lembro, em relação à possível obra na Almeida Barreto houve apenas uma reunião ano passado com a presença do Doutor Ademilson, ex-Suplan e hoje no DER, como representante do governo estadual. Ele ficou de apresentar o projeto executivo, sem o qual a Prefeitura não pode licenciar essa ou qualquer outra obra que intervenha em nossa configuração urbana”, revelou Pedrosa.
Anísio vê obra de cooptação

O deputado Anísio Maia, que faz dupla com o seu colega Aníbal Marcolino no exercício da oposição mais incisiva e vigilante que se pode ver e ter na Assembléia, identifica nas intenções do Ricardus I uma obra de cooptação de prefeitos oposicionistas supostamente obrigados a aderir ao governo em troca de obras em seus municípios.

Emprestam verossimilhança às ilações do parlamentar o fato de estarmos em ano eleitoral, a escolha dos municípios a serem beneficiados e o perfil de muitas das obras a serem executadas, somado à exclusão de áreas fundamentais para o desenvolvimento do Estado na lista dos investimentos.

Como bem observado pelo deputado, dos R$ 500 milhões trombeteados pelo absoluto não há nenhum centavo para a agricultura familiar, mineração, microempresas ou Porto de Cabedelo. Juntando todos esses elementos, Anísio forma e afirma a sua convicção de que “o foco é conseguir apoios dos prefeitos”. E por essas e outras, ele arremata: “Campina Grande foi abandonada, Cabedelo foi abandonada e a Paraíba está abandonada”.