Uma das vítimas das chuvas que atingiram a Paraíba no último fim de semana, o menino José Deyvison dos Santos, 10, foi protagonista de um filme sobre preconceito e trabalho infantil.
Ele e sua família, que trabalha em um lixão, aparecem no documentário “Quando Eu Crescer”, dirigido pelo estudante Emmanuel Dias, 22. O documentário foi produzido por alunos do curso de extensão em Produção de Documentário da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba).
O filme foi apresentado pela primeira vez ontem (20), mesmo dia em que o corpo de Deyvison foi encontrado pelos bombeiros. O menino desapareceu quando parte de sua casa foi levada por uma enxurrada, em Campina Grande (121 km de João Pessoa), no domingo. A mãe dele também foi arrastada, mas conseguiu se segurar em uma cerca e sobreviveu.
“O Deyvison era uma criança feliz. Sentei no chão e comecei a chorar quando soube que ele morreu no dia do lançamento do documentário”, disse o diretor Dias.
Segundo Dias, o garoto foi “achado” depois de uma indicação da diretora da escola municipal Paulo Freire, onde ele estudava. “Ficamos dois meses conversando com o Deyvison antes de gravar. Ele foi o ator perfeito, por que tinha muita carisma e queríamos mostrar a história de uma criança que trabalhava no lixão e sofria preconceitos por isso”, disse o diretor do filme.
Dias contou que Deyvison pegava materiais recicláveis com os pais todos os dias no lixão do bairro Mutirão, em Campina Grande. Por causa disso, era chamado pelos colegas de escola de “Zé do Grude”.
O sonho do menino, segundo o diretor, era ser vendedor de sapatos e mudar a vida dos pais. “Ele achava os sapatos muito caros. Por isso, dizia que ia ser vendedor para ganhar muito dinheiro e ajudar os pais e o irmão mais novo [de oito anos].”
O diretor do documentário contou que está planejando realizar um apresentação do filme no colégio onde o menino estudava. “Acho que é uma forma de homenageá-lo junto à comunidade onde ele vivia e mostrar a dificuldade que muita gente enfrenta no lixão”, afirmou.
Além do menino, um bebê de dois meses morreu soterrado por um deslizamento de terra em Puxinanã (120 km de João Pessoa). A Defesa Civil da Paraíba informou que 13.654 pessoas estão desalojadas (em casas de familiares e amigos) e 1.241 desabrigadas (em abrigos públicos) no Estado.