Melhor impossível

Rubens Nóbrega

João Pessoa, Paraíba, verão de 2019. No ponto de ônibus da Rua da Barreira, pertinho de casa, mesmo sendo domingo, não demorou dois minutos e embarcamos – eu, a mulher e as crianças – no micro refrigerado e ligeirinho que integra o Cabo Branco à Estação Tambaú do Monotrilho. Mais cinco minutos e já estávamos a caminho do centro da cidade, tendo como destino certo a Estação Lagoa.

Maravilha de transporte esse monotrilho. Todo automatizado (dispensa até piloto), aceita bilhete único (e a gente só paga metade do que pagaria de ônibus comum), roda a 80 km por hora sobre a Avenida Epitácio Pessoa (sem perigo algum de acidente) e tira em 12 minutos, no máximo, até a Lagoa. Detalhes: não faz barulho (as rodas do bicho são de borracha) e carrega cerca de 140 passageiros em cada carro.

Graças ao monotrilho e a outras inovadoras modalidades de transporte de passageiros, todas implantadas pela administração municipal da hora, nunca mais ouvimos falar de congestionamentos na Epitácio e noutros grandes corredores viários da Capital. Melhor de tudo: cresceu significativamente o número de carros que ficam nas garagens. Bacana é se deslocar de monotrilho, VLT, BRT e vans super confortáveis. E a qualidade de vida e do ar na cidade? Melhorou 300%, diria o Major Rildo.

Melhor e mais barato que metrô

“A implantação do Monotrilho custou menos de 60% do que um metrô”, disse-me outro dia o prefeito Luciano Cartaxo, durante inauguração do monotrilho Gauchinha-Lagoa, feito para atender ao povo do Costa Silva, Esplanada, Funcionários, Distrito Industrial, Jardim Veneza, Oitizeiro e Cruz das Armas.

“É uma grandeza o que a gente economizou com indenizações, porque não precisou desapropriar coisa alguma nem mexer na estrutura e traçado das ruas”, explicou-me o alcaide, o primeiro na história da PMJP que resolveu diversificar de verdade o sistema de transporte de massa sob controle da Prefeitura, até então restrito aos superlotados, limitados e desconfortáveis ‘coletivos’.

Ainda conversando sobre o novo tempo e as novidades na mobilidade urbana, perguntei também ao prefeito Luciano se Valentina, Geisel, Cristo e Zé Américo também contariam com um monotrilho sobre a BR 230. “Estamos estudando, mas é possível que com o alargamento da rodovia a gente ganhe uma faixa exclusiva para o BRT, que atenderia muito bem àquela região”, adiantou, referindo aos ônibus biarticulados conhecidos pela sigla que vem do inglês (Bus Rapid Transit).

Já em relação à Ilha do Bispo, Alto do Mateus, Varadouro, Trincheiras, Jaguaribe, Torre, Castelo, Cidade Universitária, Bancários e Mangabeira, o prefeito está convencido de que para servir a esses bairros o melhor é manter o VLT (veículo leve sobre trilhos) integrado aos ônibus e vans das empresas que legalizaram os antigos e clandestinos alternativos.

Hidrovia de Bayeux a Cabedelo

Quanto às articulações e interfaces do sistema da Capital com o entorno, ou seja, com as demais cidades da Região Metropolitana liderada por João Pessoa, Luciano lembrou que de dois anos pra cá tudo melhorou muito, graças à extensão da linha do trem que antes ligava Santa Rita a Cabedelo e agora vai até Mussumago (ou será Monsenhor Magno?) sobre os trilhos do novo ramal implantado pela Refesa.

“Além disso, estamos negociando um projeto junto aos Ministérios das Cidades e dos Transportes, com interveniência da Marinha, para dotar a Grande João Pessoa de transporte fluvial, aproveitando o Porto do Capim e ancoradouros e embarcadouros que já estamos construindo em parceria com prefeituras vizinhas, pegando de Bayeux, passando pelo Porto do Capim, até o Porto de Cabedelo. Vamos ter transporte turístico, de lazer, de cargas e passageiros na hidrovia formada pelas águas dos rios Sanhauá e Paraíba”, informou o prefeito.

Domingo: o que fazer na Lagoa?

Alguém aí pode estar curioso para saber por que fui de monotrilho até a Lagoa. Digo agora: levei a família para passar o dia por lá, fazer piquenique e assistir ao concerto da Orquestra Sinfônica no anfiteatro que a Prefeitura construiu aproveitando o espaço e o declive suave entre os monumentos que homenageiam Ariano Suassuna e Augusto dos Anjos.

Para quem ainda não localizou, deixe-me situar: fica na antiga descida pra Lagoa que vem pela Rua Miguel Couto, a partir da saída do túnel do viaduto do Ponto de Cem Réis. O trecho agora é uma das principais entradas do Parque Solon de Lucena, que voltou a ser parque de verdade, digno do nome e da função que tem.

Cercado e protegido por belíssimo gradil de ferro tipo ‘lanças romanas’, todo pintado de verde, a velha Lagoa não existe mais. Argemiro de Figueiredo e Burle Marx até pararam de se revirar no túmulo por conta do que sucessivos governos municipais fizeram ou deixaram de fazer para recuperar o nosso parque mais central e mais bonito.

Hoje, lá dentro, além do lago que teve seu espelho d’água inteiramente reincorporado à paisagem, em vez estacionamentos, carros transitando, asfalto e lixo, nós temos jardins belíssimos, alamedas e árvores a perder de vista. Tudo muito limpo, seguro e bem cuidado, sem contar os quiosques de serviço e de alimentação que funcionam com alto padrão de qualidade e fazem o nosso parque cada vez mais parecido com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro.