A MASSA, O BOLO E O SPUTNIK DE CÁSSIO

Gilvan Freire

senador-cassio

O melhor momento de Cássio Cunha Lima é seu mais delicado instante. Ele tem menos de trinta dias para fechar sua chapa que, agora, tem excesso de contingente. Tá chegando a hora de cerrar a porta do Sputnik que tem viagem marcada para o Céu mas só carrega quatro tripulantes, incluindo o comandante. Há, fora este, assento para um vice, um Senador e um suplente, mas existe uma fila enorme de candidatos para as mesmas vagas.

O comandante é sábio e sabe que até a hora da partida a lotação não deve ser preenchida, porque em redor da nave cabe mais gente do que dentro, e a impressão que fica é a de que qualquer um pode ingressar nela até a última chamada. Por isso, é bom ganhar tempo.

Cássio nem precisa ser tão sabido para despertar tanto interesse de tanta gente. Ele tem o melhor atrativo para esse coletivo de postulantes a um lugar próximo de seu assento: a expectativa de poder. E o poder tem tudo quanto a gula política gosta: empregos, prestígio, recursos e negócios, sem os quais a maior parte da classe política definha em pouco tempo, especialmente os fisiológicos e oportunistas, e aqueles mais compulsivos na arte de mamar nas tetas públicas.

 

JÁ HÁ TANTO EMPURRA-EMPURRA EM TORNO DO SPUTNIK DE CÁSSIO que alguns estão desistindo. Outros foram pisoteados, como Cícero, e alguns estão desconfiados que não vão caber na nave. Há até quem pense que está sendo enganado, ou que procurou a nave errada. Mas quem não quer mesmo ir com Cássio para o Céu, a terra prometida que Deus teria reservado a ele contanto que expulsasse RC do paraíso?

 

Pois bem. A expectativa de poder de Cássio, que funciona como um poder real em face das ilusões desfeitas com o poder de Ricardo Coutinho, agrega muitas pessoas, muito acima da capacidade de carga de seu Sputnik. Imagina-se que será muito difícil até mesmo a nave decolar com gente amorcegada, dependurada, desesperada, revoltada, tendo de refazer contas e projetos e contabilizar os prejuízos. Vai ser rolo.

 

PARA ENGROSSAR A SOPA, CÁSSIO TEM SEGREDADO ALTO QUE PREFERE RUY CARNEIRO COMO VICE. É faca de “dois legumes”, como diria um expert em teorias futebolísticas. Ou Cássio usa Ruy para evitar corrida antecipada ao cargo, ou usa para afastar Cícero da outra vaga no Sputnik. Se depender de Ruy e Cássio, Cícero voa do lado de fora da espaçonave. Ou, como tem ocorrido com alguns aventureiros e fugitivos pelo mundo, aloja-se no esconderijo do trem de pouso. A outra hipótese é de Ruy está escolhido mesmo, tanto para afugentar Cícero da chapa cassista, quanto para escantear outros pretendentes não desejáveis, ou inconfiáveis, embora eleitoralmente interessantes.

 

Dizem que se Ruy for para a chapa seus votos de federal serão distribuídos entre os candidatos que querem apoiar Cássio mas precisam de parte desses votos. Isso é outro Sputnik, porque Ruy não transfere os votos que quer nem tem muitos votos de graça. Ou seja: Ruy transferirá votos e a conta, o que, convenha-se, não é uma viagem tranquila ao Céu.

 

PROVAVELMENTE, ATÉ O DIA 15, O CLIMA EM VOLTA DO SPUTNIK DE CÁSSIO VAI SE ALTERAR E A TEMPERATURA AMBIENTAL VAI FICAR QUENTE. O outro legume da faca é o fato de, sendo Ruy o escolhido, o Sputnik ficar quase lotado com os tripulantes do PSDB, situação de que Cássio não cogitava quando era para afastar a candidatura de Cícero. Ou seja: o Sputnik de Cássio está mais carregado de problemas, por enquanto, do que de gente, e isso é um obstáculo para decolar tranquilo e chegar ao Céu sem turbulências.

 

O que há hoje em torno de Cássio é uma massa volumosa capaz de alimentar uma padaria inteira, mas quando o Sputnik partir sobrará em terra retraços da massa não aproveitada que dará para produzir pelo menos um bolo. Só não se sabe o tamanho – e nem o sabor.