MARINA, A INSOSSA: RETRATO DE UM PAÍS SEM LÍDERES

Gilvan Freire

(Foto: reprodução/internet)
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                        Não será mais o caso de se dizer que o Brasil ainda paga o preço de ter vivido numa ditadura durante duas décadas e por isso não formou lideres políticos. A redemocratização do país já dura três décadas, tempo suficiente para formar lideres.

É bem verdade que esse hiato do regime de exceção abafou os movimentos estudantis, atemorizou as universidades, inibiu todos os movimentos sociais e implantou o terror da tortura e das cassações. Cerceou as liberdades individuais e coletivas, silenciou a imprensa e transformou o Estado num aparato mesmo policialesco a serviço dos ditadores. Mas, apesar disso, a resistência ao regime levou o povo às ruas, fez a abertura e restabeleceu a democracia. Ou seja: os movimentos sociais e os partidos políticos, fortemente apoiados pelos trabalhadores e suas organizações sindicais, se transformaram em grandes escolas de formação de lideres, muitos deles ainda ativos, enquanto outros estão capengando.

 

Nesse período de chumbo da ditadura onde de fato era quase impossível surgir um líder novo, os pré-existentes desafiaram os generais e muitos sobreviveram, embora cassados, ainda com idade para retomarem a atividade política. Mesmo sob regime de opressão, esses líderes até cresceram na adversidade e mereceram imenso apoio da sociedade, pois eram referências do melhor padrão de homens públicos daqueles tempos para cá. Mas envelheceram e quase todos morreram.

 

Agora, o país precisa da nova classe política, aquela que teria sido formada do final da ditadura para a primeira e segunda década da redemocratização, exatamente o período em que surgiu o PT e os lideres sindicais da Nova República, e onde pontificou Lula com seu jeitão de pobre revolucionário e pregador das utopias latino-americanas, logo mortas com a derrubada do muro de Berlim e a desintegração da União Soviética. Sobrou, porém, para Lula a derrubada das elites do poder no Brasil, pois elas estavam ali encasteladas, antes, durante e depois do golpe militar.

 

Lula até que cumpriu bem seu papel, devolvendo aos pobres parte do que eles haviam perdido desde o descobrimento do Brasil, mas envolveu-se com os conservadores no Congresso e deixou que o PT transformasse o Estado num aparelho partidário a serviço de uma cambada de delinquentes de esquerda que, no lugar da ética pregada e da transparência prometida, fundaram um grandioso sindicato de roubalheiras e dilapidação do patrimônio público. Lula e o PT se exauriram moralmente e deixaram o país à deriva e a sociedade sem rumos e sem líderes. E a classe política dominante simplesmente faliu por falta de decência.

 

MARINA É UM BRASIL PERPLEXO

 

A candidatura de Marina é um caos dentro do outro. Ou seja: ela representa o vazio de uma sociedade que quer achar um líder que não é ela e, muito menos, não são os outros – Dilma e Aécio. É um dilema.

 

Marina é aguada e despreparada para governar o Brasil, mas o povo cansou do PT e seu projeto continuista e já não confia mais em ninguém. Até Lula está parecendo anacrônico e repetitivo com suas manias de grandeza de salvador da pátria. Ele inventou Dilma para continuar governando com o PT, mas agora terá de conviver com fantasmas assustadores. É o preço da ambição desmedida e descontrolada.

 

Marina é um fantasma ainda maior do que os fantasmas de Lula porque assusta os concorrentes e os eleitores – ninguém tem certeza que ela sirva para governar bem o país nem para nada, mas certamente para assustar o processo eleitoral serve. E pode ser esse seu papel. Ela é um espantalho que tem a cara de pobre, não tem o corpo da elite e tem o jeito de Madre Tereza de Calcutá. É só esperar por um milagre. Que antes de qualquer coisa, porém, Deus nos salve dos medos. Esse é o primeiro milagre que precisa ser feito. Amém!