A dupla Marina Silva e Eduardo Campos, que almeja ser a terceira via da sucessão presidencial de 2014, negou ontem traição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e rejeitou ser oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff.
“Não me considero, jamais, uma traidora do ex-presidente Lula (…) Não somos oposição ou situação. Nós queremos assumir uma posição”, afirmou a ex-ministra do Meio Ambiente, em entrevista à TV Estadão, em São Paulo. “Não é ruptura. Só estamos pensando diferente do PT”, disse ontem o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, que participou de encontro do partido em Mossoró (RN).
Marina e Campos começam a criar um anteparo às ações do PT. Ex-ministros de Lula, ambos sabem que um discurso frontal de oposição pode trazer danos se for associado a um rompimento com Lula. Os dois enfatizaram a lealdade ao petista no passado. Marina lembrou o tempo de ex-ministra e disse que deixou o governo em 2008 pacificamente ao perceber que não havia ali mais espaço para defender suas ideias. Campos lembrou a eleição de 2010: “Retiramos uma candidatura própria que tinha pontos na pesquisa (de Ciro Gomes) para fechar, já no primeiro turno, com a presidente Dilma”.
O ex-presidente, segundo petistas, considera o abrigo de Marina no PSB de Campos e a união dos dois para disputar contra Dilma em 2014 uma dura traição e vê na nova “chapa” o mais forte adversário do PT.
Em reunião realizada na quinta-feira no Planalto, com a presença de Dilma e ministros, Lula orientou o PT e o governo a fazerem todo tipo de articulação para evitar que os aliados migrem para a coalizão Campos-Marina. Isso significa ampliar espaços no governo e, principalmente, ceder para os aliados nos Estados, ampliando os palanques para Dilma.
Questionado sobre uma eventual ação hostil do PT e de Lula nos Estados em palanques que estão sendo construídos com o PSB, o governador afirmou que “compreende qualquer reação que qualquer partido venha a ter”. “Não estou preocupado com essas questões de quem deve ou não ficar de fora de alianças. A nossa rede será de alianças para o bem do Brasil”, emendou. “Temos uma relação em muitos Estados do PSB com o PT. Disputei a eleição em 2006 com o PT e o PT está no meu governo até o dia de hoje. Tenho situações onde isto não acontece. Na Paraíba, o companheiro Ricardo Coutinho, do PSB, foi fundador do PT mas lá o PT não está com ele (mais informações na pág. A6).
Marina aproveitou a orientação do Planalto para alfinetar o governo sobre o loteamento político. “Só o gesto que eu e Eduardo fizemos já fez com que uma parte da base começasse a chantagear a presidente.”
Terremoto. Para o presidente do PSB, a aliança com Marina, selada com a entrada dela no partido, no sábado passado, provocou um “verdadeiro terremoto”. A ex-ministra, a 2.800 quilômetros de Campos, corroborou a tese de que seu apoio transformou o agora correligionário num forte adversário: “A candidatura dele ganha um adensamento maior”.
Marina demonstrou cansaço com o debate sobre a composição da chapa. Enfatizou que em nenhum momento colocou o próprio nome como a opção de vice para Campos. Voltou a dizer que o importante, agora, não é definir se ela ou ele estarão na cabeça de chapa. “Não sei por que as pessoas que criticam tanto a lógica do poder pelo poder, que criticam os que fazem alianças que não têm nada a ver, agora nos cobram de manhã, de tarde e de noite para fazermos, para cairmos na armadilha do eleitoral. Deixem a gente fazer o programático! Porque esta é a minha disposição e a do Eduardo.”
Essa “nova política”, alegam os dois, não propõem confronto direto com Dilma. “A candidatura da Dilma dará sua contribuição, a do Aécio (Neves, senador e presidente do PSDB) dará sua contribuição, e a nossa vai dar sua contribuição e eu acho que é a mais importante, que é a quebra da polarização.”
Afinadíssimo com a parceira, Campos pediu o sepultamento da “velha política” e disse que o PSB quer “oferecer uma proposta para o Brasil sem destruir ou atacar ninguém”. A ex-ministra de Lula disse torcer “profundamente” para que o governo Dilma “deixe uma marca”, e provocou: “Talvez uma grande contribuição que a presidente Dilma esteja dando é a denúncia contundente de que este modelo de governabilidade baseada na negociação de cargos já se esgotou. Isso porque no atual governo não é mais apenas uma percepção. Está transformado em ato.”