O site Antagonista divulgou, na tarde desta quinta-feira (23), diversas páginas do depoimento dado por Marcelo Odebrecht ao ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no processo de cassação da chapa Dilma-Temer nas eleições de 2014.
Segundo os documentos obtidos pelo site, Marcelo Odebrecht afirmou que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) sabia, durante a campanha de 2014, que a empresa era responsável por pagamentos diretos a João Santana, seu marqueteiro.
“A Dilma sabia da dimensão da nossa doação, e sabia que nós éramos quem doá… quem fazia grande parte dos pagamentos via Caixa Dois para João Santana. Isso ela sabia.”
O empresário ainda teria detalhado: “Ela sabia que toda aquela dimensão de pagamentos não estava na prestação do partido.”
A campanha
Segundo o site Antagonista, Odebrecht afirmou que a campanha de reeleição da ex-presidente foi “inventada” por ele.
“A campanha presidencial de 2014, ela foi inventada primeiro por mim, tá? E… eu não me envolvi na maior parte das demais campanhas, mas a… a eleição presidencial foi… eu conheço ela… os valores foram definidos por mim”
Odebrecht ainda teria sido orientado por Guido Mantega, que foi definido como interlocutor das negociações, a concentrar os recursos na campanha da ex-presidente. “Marcelo, a orientação dela (Dilma) é que todos os recursos de vocês vão para a campanha dela. Você não vai mais doar para o PT, você só vai doar para a campanha dela, basicamente paras as necessidades da campanha dela: João Santana, Edinho Silva ou esses partidos da coligação.”
Conta corrente
O PT teria uma conta corrente na Odebrecht, inclusive para os pagamentos a João Santana, primeiro administrada por Antonio Palocci e depois por Guido Mantega, segundo o Antagonista.
Marcelo Odebrecht ressaltou que tratou com Palocci o que foi combinado com Lula. “Palocci era da relação do Lula. Foi indicado por Lula. Eu já herdei essa relação”, diz. “Eu falei com ela (Dilma)… olha, Presidente, em 2010, 2009, em 2010, eu falei: Presidente, tudo eu estou tratando com o Palocci, era o meu combinado com o Lula, tá ok? Ela falou: Tá ok’.”
Quase meio bilhão para Palocci
De acordo com o Antagonista, Odebrecht também contou que, além dos R$ 150 milhões disponibilizados para a campanha de Dilma Rousseff em 2014, ele teria repassado outros R$ 27 milhões para o ex-ministro Guido Mantega e teria acertado com Antonio Palocci o pagamento de outros R$ 300 milhões, entre 2008 e 2014.
Na Planilha Italiano, de Antonio Palocci, segundo o empresário, havia três divisões, uma para “os temas do PT”, outra para a presidência, que passou a ser gerida por Guido Mantega, e ainda uma terceira que ele preferiu manter em sigilo. “Acho que é melhor ficar por enquanto em sigilo, tá?”
Lula
Segundo o site, documentos mostram que Lula, codinome Amigo, movimentava sua conta corrente no departamento de propinas da empreiteira. Além disso, o executivo Hilberto Mascarenhas, chefe do Departamento de Propinas da Odebrecht, teria entregado ao TSE um conjunto de planilhas atualizadas até 31 de março de 2014 em que consta uma “doação” para o Instituto Lula, de R$ 4 milhões.
Temer não tratou de nada
Marcelo Odebrecht afirmou que não tratou de valores para a campanha dos candidatos do Michel Temer (PMDB). O pedido teria sido feito por Eliseu Padilha, que especificou a cifra de R$ 10 milhões de reais. Ele também disse que Paulo Skaf, candidato do PMDB ao governo do Estado de São Paulo em 2014, o colocou ao telefone com Michel Temer. O então vice-presidente afirmou que era importante “apoiar o Paulo”.
Outro lado
A assessoria de imprensa da ex-presidente respondeu as acusações e divulgou uma nota afirmando que “não adianta lançarem novas mentiras contra Dilma Rousseff”.
Leia a nota na íntegra:
Não adianta lançarem novas mentiras contra Dilma Rousseff.
A respeito de informações publicadas nesta quinta-feira, 23, sobre um supostas declarações, avisos e afirmações atribuídas ao empresário Marcelo Odebrecht, a Assessoria de Imprensa de Dilma Rousseff esclarece:
1. A ex-presidenta Dilma Rousseff não tem e nunca teve qualquer relação próxima com o empresário Marcelo Odebrecht, mesmo nos tempos em que ela ocupou a Casa Civil no governo Lula.
2. É preciso deixar claro: Dilma Rousseff sempre manteve uma relação distante do empresário, de quem tinha desconfiança desde o episódio da licitação da Usina de Santo Antônio.
3. Dilma Rousseff jamais pediu recursos para campanha ao empresário em encontros em palácios governamentais, ou mesmo solicitou dinheiro para o Partido dos Trabalhadores.
4. O senhor Marcelo Odebrecht precisa incluir provas e documentos das acusações que levanta contra a ex-presidenta da República, como a defesa de Dilma solicitou – e teve negado os pedidos – à Justiça Eleitoral. Não basta acusar de maneira leviana.
5. É no mínimo estranho que, mais uma vez, delações sejam vazadas seletivamente, de maneira torpe, suspeita e inusual, justamente no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral, órgão responsável pelo processo que analisa a cassação da chapa Dilma-Temer, está prestes a examinar o relatório do ministro Herman Benjamin.
6. Espera-se que autoridades judiciárias, incluindo o presidente do TSE, Gilmar Mendes, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, venham a público cobrar a responsabilidade sobre o vazamento de um processo que corre em segredo de Justiça.
7. Apesar das levianas acusações, suspeitas infundadas e do clima de perseguição, criado pela irresponsável oposição golpista desde novembro de 2014 – e alimentada incessantemente por parcela da imprensa – Dilma Rousseff não foge da luta. Vai até o fim enfrentando as acusações para provar o que tem reiterado desde antes do fraudulento processo de impeachment: sua vida pública é limpa e honrada.”
Créditos: Isto É