Maranhismo rompe a trégua com Cícero

Nonato Guedes

O acirramento da campanha eleitoral em João Pessoa, refletido em pesquisas consecutivas que apontam empate técnico entre os candidatos Cícero Lucena (PSDB) e José Maranhão (PMDB), começa a provocar mudanças de estratégia nos comitês. A última pesquisa, divulgada pelo Ibope e contratada pela Rede Paraíba de Televisão, diagnosticou a tendência de empate entre Lucena e Maranhão, como já vinha sendo mostrado pelas pesquisas realizadas pelo Ipespe para o “Jornal da Paraíba”. Nos bastidores, o comentário generalizado era o de que Maranhão e Cícero vinham fazendo uma campanha de “compadres”, evitando ataques mútuos e até trocando referências elogiosas ou respeitosas, o que tornava difícil a diferenciação de ambos perante o eleitorado da capital.

Coube ao deputado federal Benjamin Maranhão, sobrinho de JM e coordenador da campanha do tio, formalizar o rompimento da trégua ou da política de “boa vizinhança” que até então vinha sendo cultivada. Em nota distribuída nas últimas 48 horas com veículos de comunicação, Benjamin refutou as versões de Cícero de que é o legítimo candidato de oposição ao governo Ricardo Coutinho (PSB) a pretexto de que Maranhão já foi aliado de RC em disputas passadas. Benjamin respondeu que o partido a que Cícero é filiado não pode esconder as ligações com Coutinho, dando como exemplo que o PSDB ocupa oito secretarias na gestão estadual, por intermédio das ligações do senador Cássio Cunha Lima com o governador, a quem apoiou decididamente na eleição de 2010. Acrescentou Benjamin que deputados estaduais tucanos votam sistematicamente a favor de matérias encaminhadas pelo Executivo, inclusive, as de natureza polêmica, que não encontram apoio junto a segmentos da sociedade. “Não procede, portanto, a versão de que o candidato do PSDB seja o legítimo candidato de oposição ao governo estadual”, arrematou Benjamin.

Abalos sísmicos também foram registrados entre o senador Cássio Cunha Lima e o governo Ricardo Coutinho. Cunha Lima não gostou da omissão, em comercial institucional veiculado pela Secom, das ações desenvolvidas em seu governo em favor da capital, a exemplo do projeto e da licitação e das obras para a construção do Centro de Convenções. Utilizando-se do Twitter, o senador tucano deu a entender que a administração atual estaria se apropriando, indevidamente, da paternidade de obras encetadas em gestões que a antecederam. Embora argumentando que não deseja polemizar e que, em certas referências, não põe a carapuça, o ex-governador Cássio Cunha Lima disse ser imprescindível repor a verdade sobre a autoria de alguns empreendimentos, a fim de que não sejam esquecidos o esforço e a atuação que desenvolveu para a consecução de obras de importância estratégica na capital.

Em relação ao fim da trégua entre maranhistas e ciceristas, já era, de certo modo, esperado em setores políticos de João Pessoa e entre aliados ou defensores dos dois postulantes à prefeitura. Maranhão e Cícero mantêm relações cordiais há algum tempo. O peemedebista chegou a insinuar o lançamento de Cícero à sua sucessão à frente do governo do Estado, mas Lucena preferiu manter lealdade ao grupo Cunha Lima, através dos seus principais expoentes, o falecido governador Ronaldo e o senador Cássio. Em 2010, quando Cássio declarou apoio a Ricardo ao Palácio da Redenção como estratégia para evitar o retorno de Maranhão pela terceira vez, Cícero, que pretendia ser candidato, declarou voto em Maranhão no segundo turno. O destino colocou-os frente à frente na campanha eleitoral deste ano na capital, e até então a estratégia de ambos era a de bater forte na administração Coutinho para, com isto, neutralizar a candidata por ele apoiada, a ex-secretária de Planejamento municipal, Estelizabel Bezerra. O recado emitido através de pesquisas, apontando empate persistente entre Maranhão e Cícero, que se alternam na primeira colocação, foi captado como sinal de alerta para modificação de estratégia, e Benjamin foi escalado justamente para atear fogo. A expectativa, agora, é quanto à resposta dos ciceristas. O senador tucano está sendo pressionado a treplicar, como tática para se diferenciar do outrora “êmulo cordial”, o que cria a expectativa de temperatura máxima, tanto no Guia Eleitoral como nos debates que ainda estão programados para acontecer nos meios de comunicação.