Maranhão: triunfalismo perigoso

Nonato Guedes

De políticos experientes como o ex-governador e ex-senador José Maranhão, espera-se, normalmente, que abominem triunfalismo às vésperas de mergulhar em novas disputas, depois de terem sido mal sucedidos em outras. Não é, infelizmente, o que se pode extrair das declarações de JM sobre a campanha para prefeito de João Pessoa, na qual pretende concorrer pelo PMDB. Sua ‘claque’ tem espalhado versões de que ele está revigorado porque além de não ser inquinado de ficha suja, possui um cabedal de serviços prestados e certa identificação com a capital.

Que bom que Maranhão esteja com a saúde em ordem. Não é o caso de dizer, como alegam certos coleguinhas da imprensa, que ele exibe perfil de atleta, nem esse tipo de comparação jamais fez o seu gênero. A perspectiva do poder é afrodisíaca, e o poder propriamente dito opera a consagração plena. Mas…não estaria Maranhão de sapato alto?

É o que dá a entender quando projeta um segundo turno entre ele e Cícero Lucena, desprezando completamente o potencial de Estelizabel Bezerra (PSB) e de Nonato Bandeira (PPS), que gravitam na órbita oficial encarnada pelo governador Ricardo Coutinho.

Talvez Maranhão aposte num plebiscito que seja desfavorável a Ricardo e, por extensão, a quem ele apoiar. O que ele sustenta é que o sentimento oposicionista em João Pessoa é bastante enraizado. Ora, cada eleição tem suas peculiaridades.
Esqueçamos Ricardo: Estela não tem rejeição acentuada e Bandeira não é pato morto. Nunca passaram pelo batismo das urnas, todavia, justamente por isto um ou outro pode surgir como azarão. Só se sabe a tendência do jogo quando ele está sendo jogado, o que não é o caso ainda. Há uma outra contradição resultante de um passo em falso inconsciente dado por Maranhão: ele se vê enfrentando Cícero, político a quem até certo tempo vinha incensando copiosamente e com ele posando para fotografias, como a do Aeroclube, que este repórter testemunhou nos tempos do falecido “O Norte”. Jacta-se o dirigente peemedebista de que o eleitor assistirá a um espetáculo belíssimo: a peleja entre ele e Cícero. É cenário para acrobacia aérea no bairro do Bessa.

Por fim, ao profetizar que já está no segundo turno, e contra Cícero, Maranhão dá um tiro de misericórdia antecipado no adversário cordial. Porque é óbvio que ele se considera mais forte eleitoralmente do que Cícero, e já se vê espanando a cadeira onde senta, hoje, o prefeito Luciano Agra, o ‘renuncista que não deu certo’.

Está tudo muito bem, está tudo muito bom. Mas não estaria faltando combinar direitinho com o eleitor, esse bicho danado que promete e surpreende no escurinho da cabine eletrônica? Note-se que ninguém está questionando a idade de Maranhão, o que lhe desobriga de citar Tancredo Neves quando indagado, no prélio contra Maluf a presidente da República, se não se considerava “adentrado em anos” para governar o país. “Minha filha, redargüiu ele a uma jornalista da “Folha”, isto de idade é relativo: Adenauer, com 94 anos, recuperou a Alemanha. Nero, com 27 anos, tocou fogo em Roma”. O chiste estava sob medida, e era típico do repertório de Tancredo. Infelizmente, ele não governou o país. Pior: sequer teve condições de assumir a presidência, por problemas de saúde.

Atualizando as conjunturas: Maranhão está com seu “check up” positivo, o que significa que tem fôlego para uma maratona restrita aos domínios da Felipeia, sem a necessidade dos deslocamentos ao interior nem o constrangimento de ter que recusar a maionese, que é prato de luxo no meu sertão. O essencial não está esclarecido: o governo estará mesmo ausente da corrida ou do segundo turno, num pleito onde o governador Ricardo faz questão de mostrar pujança inabalável?
Se o parâmetro for o desgaste, Maranhão tem sua quota, Cícero também. Estela ou Nonato pegariam o rescaldo de atos antipáticos da administração ricardista nos primeiros meses de governo.

Há dúvidas, também, se o PMDB irá unido para o palanque de Maranhão, com o deputado federal Manoel Júnior externando abertamente críticas ao que chama de caciquismo familiar no PMDB. Já se disse que Maranhão é cortejado sobretudo por candidatos a vereador, que querem um puxador de votos mais confiável na cabeça de chapa para, com isto, se beneficiarem.

Para além desses interesses e das manifestações otimistas que encobrem tais interesses, convém alertar para o desafio de encontrar um bom marqueteiro, que não desfigure Maranhão ao ponto de apresentá-lo como um jovem nem o estigmatize como superado. Nesse ponto, vale lembrar a campanha de Ulysses Guimarães em 89. Era um político respeitado, tinha o maior tempo de televisão (longuíssimo, por sinal), e era exibido de braços dados com Silvia Poppovic entoando o refrão: “Bote fé no velhinho, o velhinho é demais…” Como se descobriu, “demais” era o dito refrão, que empurrou Ulysses para um dos últimos lugares, abaixo do folclórico Enéias, do Prona.

Maranhão merece respeito, mas deve ter o bom senso para evitar manifestações que descambem para o ridículo. Aí, a vaca vai para o brejo, e o cargo que falta no currículo dele tomará chá de sumiço com uma facilidade, esta sim, impressionante.

Nenhum político gosta de ouvir ou de ler opiniões que exprimem a verdade mas golpeiam seus egos. Pois este repórter está ultrapassando datas e aprendendo com os jovens. Como tem sido na profissão, e, igualmente, na relação com meu filho Daniel, que, a propósito, vai para o Canadá em 2013 com Aline. Ouvir é um dom. Aprender é um privilégio.