Manifestantes contra pesquisa com animais fecham Raposo Tavares e entram em confronto com a polícia

  • Pelos menos dois carros da imprensa e um da polícia foram incendiados por um grupo de mascarados
  • Duas pessoas foram detidas por dano ao patrimônio público
Carros da polícia e da imprensa foram incendiados durante o protesto Foto: Eliaria Andrade / Agência O Globo
Carros da polícia e da imprensa foram incendiados durante o protesto Eliaria Andrade / Agência O Globo

SÃO PAULO – Protesto organizado por ativistas contrários ao uso de animais em pesquisas científicas, que teve a participação de integrantes mascarados do Black Bloc, acabou ontem em confronto com a Polícia Militar. O conflito aconteceu próximo ao Instituto Royal, em São Roque (interior paulista), invadido na véspera por um grupo de ativistas que resgatou do local 178 cães da raça beagle por supostos maus-tratos.

A Polícia Civil de São Roque confirmou a detenção de quatro pessoas, acusadas de danos ao patrimônio público. Duas delas pagaram fiança e foram liberadas; as outras duas permaneciam no distrito policial até o final da tarde de sábado.

Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas, entre elas a repórter do GLOBO Tatiana Farah, atingida por duas balas de borracha e também por golpes de cassetetes, mesmo depois de se identificar como jornalista. Os tiros foram disparados por policiais da Tropa de Choque da PM a uma distância de três a cinco metros. Ainda durante o conflito, três carros foram incendiados (dois da TV TEM, afiliada da Rede Globo, e um da própria PM) e outro (da Rede Bandeirantes), apedrejado pelos mascarados.

Grupo bloqueou rodovia; PM cercou instituto

Convocada pela internet, a manifestação contou com cerca de 500 pessoas, segundo avaliação da PM. Dessas, entre 40 e 50, alguns com os rostos cobertos, identificavam-se como sendo do Black Bloc. Parte dos manifestantes se concentrou no acesso à cidade pela rodovia Raposo Tavares, interrompendo o fluxo de veículos nos dois sentidos; um grupo menor se colocou próximo do instituto, que amanheceu cercado por policiais.

Ainda na noite de sexta-feira, depois da ação de resgate dos animais, o juiz Fabio Calheiros do Nascimento, da 1ª Vara Cível de São Roque, concedeu liminar aos proprietários do laboratório — usado em pesquisas para medicamentos — com o argumento de que era necessário garantir a integridade do prédio contra o risco de invasões.

No confronto, a Tropa de Choque usou balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que revidaram com pedras. Placas metálicas de sinalização foram usadas como escudo. Com luvas especiais e máscaras, integrantes do Black Bloc conseguiam pegar com as mãos as bombas de gás e arremessá-las de volta para o lado dos policiais. Os ativistas reclamaram tanto do trabalho da PM, que teria perdido o controle da situação, quanto da ação dos Black Blocs, quando se negociava autorização para que uma comissão protestasse em frente ao Instituto Royal.

Situação controlada no início da tarde

A PM realizou uma espécie de “arrastão” para liberar a rodovia e dispersar a multidão. A situação só foi contornada no início da tarde, quase quatro horas depois do início do protesto.

Segundo o promotor Wilson Velasco Júnior, do Ministério Público, o Instituto Royal era investigado desde o fim do ano passado, após denúncias de abusos contra os animais. Os proprietários do laboratórios negam as acusações, e dizem que seguem todos os procedimentos determinados em lei para uso de cães em pesquisas.

— Não é feito nenhum tipo de teste com crueldade. Seguimos todas as normas da Comissão de Ética no Uso de Animais, além de termos a supervisão do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal — afirmou o diretor científico do instituto, João Antônio Pegas Henrique.

O deputado estadual Feliciano Filho (PEN), um dos autores do projeto de lei que restringe a utilização de animais em testes de laboratórios, também foi atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo quando tentava negociar com o comandante da PM . Segundo o parlamentar, que prestou depoimento no Distrito Policial de São Roque, duas senhoras e um rapaz registraram Boletim de Ocorrência (BO) contra os policiais militares por conta de ferimentos causados por balas de borracha. (*Enviada especial)

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