VOTAÇÃO

Maioria do STF decide tirar de Sérgio Moro investigações sobre Lula

Moro feriu a competência do STF ao divulgar ligações de Lula

Maioria do STF decide tirar de Sérgio Moro investigações sobre Lula

Teori ZavasckiA maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avalizou nesta quinta-feira (31) a decisão da semana passada do ministro Teori Zavascki – relator dos processos da Lava Jato na Corte – de retirar do juiz federal Sérgio Moro as investigações sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O magistrado também havia determinado o sigilo sobre gravações do ex-presidente com diversas autoridades, incluindo a presidente Dilma Rousseff.

Teori explicou que o julgamento desta quinta visa somente trazer os autos ao STF, que depois vai analisar, no mérito do caso, o que deve permanecer sob investigação da Corte e o que deverá ser remetido de volta para a primeira instância, por envolvimento de pessoas sem prerrogativa de foro.

Com a decisão, as investigações sobre Lula saem da alçada da Justiça Federal do Paraná. As apurações tratavam, por exemplo, da suspeita de que construtoras envolvidas em corrupção na Petrobras prestaram favores ao ex-presidente na reforma de um sítio em Atibaia (SP) e de um tríplex em Guarujá (SP).

Até a última atualização desta reportagem, já haviam votado favoravelmente à decisão liminar (provisória) de Teori Zavascki os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Marco Aurélio Mello.

Somente o ministro Luiz Fux votou a favor de separar, de imediato, as investigações, para trazer ao STF somente elementos relacionados a autoridades com o chamado foro privilegiado. Fux disse que discordava do “sobrestamento de tudo”, em referência à determinação de suspender todo o caso de Lula.

“Entendo que não se deve sobrestar as ações em relação a imputados que não têm prerrogativa de foro, porque as ações não são conexas, os fatos são complemente diferentes e não gerarão um processo simultâneo”, explicou.

Foro privilegiado
A decisão do Supremo não significa que Lula ganhou foro privilegiado. Ao determinar que Sérgio Moro mande as investigações sobre Lula para Brasília, o ministro Teori seguiu a jurisprudência do tribunal superior, já que durante a investigação do crime de uma pessoa sem foro privilegiado surgiram conversas com autoridades com foro, como Dilma e o ministro Jacques Wagner.

Nada foi decidido sobre a posse do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil. No dia 18, o ministro Gilmar Mendes, do STF, suspendeu a nomeação de Lula no cargo de chefe da Casa Civil. Se a nomeação do ex-presidente for validada, aí sim ele ganha foro privilegiado automaticamente.

Na decisão da última semana, Teori Zavascki atendeu a um pedido do governo, que apontou ilegalidade na divulgação, autorizada por Moro, de conversas telefônicas interceptadas por ordem judicial, entre Lula e a presidente da República e ministros. As investigações subiram ao STF por causa do envolvimento de outras autoridades que só podem ser investigadas pela Suprema Corte.

Depois que o juiz federal do Paraná enviar a documentação sobre as investigações ao Supremo, o material será remetido à Procuradoria Geral da República, que vai analisar se houve crime de Dilma e de outras autoridades. Caberá ao STF, posteriormente, analisar o que ficará sob investigação da Corte e o que poderá ser reencaminhado para a primeira instância.

Na prática, como os áudios das escutas já foram divulgados, se o Supremo considerar que Moro agiu de modo indevido, o conteúdo poderá ser desconsiderado como prova.

Competência do STF
Ao defender no plenário sua liminar, Teori Zavascki argumentou que a decisão de Sérgio Moro de divulgar as conversas interceptadas de Lula “feriu a competência” do STF”.

“O magistrado, ao constatar a presença de autoridades com prerrogativa de foro, deveria encaminhar conversas interceptadas para o Supremo Tribunal Federal. A decisão de divulgar as conversas da presidente, ainda que encontradas fortuitamente, não poderia ter sigilo retirado por juiz de primeira instância”, enfatizou.

Mais cedo na sessão, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, alegou que a decisão do juiz federal do Paraná foi uma “usurpação” de competência do STF e também invocou o direito à privacidade ao contestar a divulgação das conversas.

“No caso específico da senhora presidenta da República, houve, sim, violação às regras de segurança nacional. Não porque o conteúdo da fala afete a segurança nacional. Mas porque o sigilo telefônico da chefia do Executivo, da chefe de governo e da chefe de Estado, é questão de segurança nacional”, complementou Cardozo.

Fonte: G1