O presidente do Magazine Luiza, Frederico Trajano, publicou um artigo com firme defesa da decisão no site Brazil Journal. Segundo ele, a empresa não tem a pretensão de corrigir mazelas históricas do país, mas tem sim obrigação de corrigir os problemas da própria companhia, como a falta de representatividade na direção.
A rede Magazine Luiza anunciou na sexta-feira, 18, a abertura de inscrições para seu programa de trainee 2021, que aceitará apenas candidatos negros. A iniciativa causou uma onda de protestos a favor e contra a empresa nas redes sociais, gerando discussões sobre racismo e políticas de inclusão.
Na manhã deste domingo, 20, a hastag #branco era um dos assuntos mais comentados do Twitter. Muitos internautas acusavam o Magalu de “racismo reverso” com brancos. Já outros saíram em defesa da empresa comandada por Luiza Trajano.
Um deles foi o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Nascimento de Camargo, que chegou a dizer a decisão da empresa é “racismo” contra brancos. Ele que é negro e se identifica como de direita, já defendeu que não existe racismo “estrutural” no Brasil.
Já o deputado Carlos Jordy, vice-líder do governo na Câmara, afirmou nas redes sociais que está entrando com representação no Ministério Público contra a empresa para que seja apurado crime de racismo.
O Magazine Luiza respondeu ao deputado dizendo que a empresa estava tranquila da legalidade do programa. “Inclusive, ações afirmativas e de inclusão no mercado profissional, de pessoas discriminadas há gerações fazem parte de uma nota técnica de 2018 do Ministério Público do Trabalho”, escreveu a empresa em seu perfil oficial.
A juíza do trabalho Ana Luiza Fischer Teixeira de Souza Mendonça foi outra que criticou a iniciativa da Magalu. A magistrada considera que a proposta fere o artigo 5º da Constituição Federal. “Na minha Constituição isso ainda é proibido”, disse ela.
A deputada federal Benedita da Silva (PT) rebateu a juíza Ana Luiza Fischer. “É inadmissível que uma juíza não saiba distinguir discriminação e racismo de política afirmativa e de inclusão. Em um país com tanta dívida histórica com os negros e negras, é fundamental ter ações afirmativas. Novamente, parabéns @magazineluiza!”, escreveu ela.
O youtuber Felipe Neto também se posicionou favor da iniciativa do Magazine Luiza. ““Se a empresa falasse que só ia contratar gente branca, seria racismo?” Sim. “E só gente negra, não é racismo?” Não. “Nunca vou entender isso” É que ao invés de estudar e falar com pessoas negras, vc prefere ficar vendo vídeo de Terra plana e teoria da conspiração”, escreveu.
O programa de trainee do Magazine Luiza
Em e-mail enviado à impressa, o Magalu diz que o” objetivo com o programa é trazer mais diversidade racial para os cargos de liderança da companhia, recrutando universitários e recém-formados de todo Brasil, no início da vida profissional”.
Serão aceitos candidatos formados entre dezembro de 2017 e dezembro de 2020, em qualquer curso superior. O conhecimento em língua inglesa e experiência profissional anterior não fazem parte dos pré-requisitos para a seleção.
Podem participar candidatos de todo o Brasil, desde que tenham disponibilidade para se mudar para São Paulo. Caso o selecionado seja de fora da cidade, receberá um auxílio mudança.
O processo seletivo será dividido em seis etapas. A seleção começará com testes online, em seguida, eles passarão pela etapa que consiste na gravação de um vídeo de apresentação profissional e por entrevistas com o departamento de recursos humanos.
Aqueles que seguirem no processo, serão entrevistados por diretores de área e, depois, pela Diretoria Executiva. Os finalistas participarão de uma conversa com Frederico Trajano, CEO da empresa.
Os selecionados irão receber salário R$ 6.600, bônus de contratação de um salário entre outros benefícios.
As inscrições podem ser realizadas pelo site carreiras.magazineluiza.com.br.
Confira abaixo as reações sobre o programa de trainee do Magazine Luiza exclusivo para negros:
Estou representando ao Ministério Público a loja @magazineluiza para que seja apurado crime de racismo no caso do programa de Trainee só para negros. A lei 7.716/89 tipifica a conduta daquele que nega ou obsta emprego por motivo de raça.
— Carlos Jordy (@carlosjordy) September 19, 2020
https://twitter.com/felipeneto/status/1307406356304089089
É inadmissível que uma juíza não saiba distinguir discriminação e racismo de política afirmativa e de inclusão. Em um país com tanta dívida histórica com os negros e negras, é fundamental ter ações afirmativas. Novamente, parabéns @magazineluiza! #VidasNegrasImportam https://t.co/Fmp7QWqygr
— Benedita da Silva (@dasilvabenedita) September 19, 2020
Magalu abre trainee para negros. Os brancos, espumando nas mentions do tweet, criticam um suposto"racismo reverso" na decisão, pois se dizem à favor da igualdade. Engraçado que não notei essa sede de justiça quando o Itaú fez progama de trainee e os aprovados foram estes aqui: https://t.co/a5xuYWzcnU pic.twitter.com/OWcA5lrOEz
— Bia Ferreira (@iglesbiteriana) September 19, 2020
O povo indignado com a iniciativa da Magazine Luiza, se vocês soubessem o racismo nos processos seletivos. Imagina entrar em um ambiente/empresa onde menos de 5% do local é negro em um país onde mais de 50% é negra. Da licença né!
— Jonathan Vicente (@jonathanvicent) September 19, 2020
Como criar e alimentar o racismo? O Magazine Luiza te ensina.
Da série "Dividir para enfraquecer, enfraquecer para conquistar. pic.twitter.com/zIqil4ynuq— Daniel Silveira (@danielPMERJ) September 19, 2020
https://twitter.com/felipeneto/status/1307406356304089089
Fonte: Catraca Livre
Créditos: Catraca Livre