Uma mãe de 36 anos, que prefere não se identificar, resolveu pedir ajuda nas redes sociais. Ela conta que a filha de 5 anos vive com as mãozinhas nas partes íntimas, inclusive em público. Veja o que dizem especialistas
Uma mãe de 36 anos, de Amparo, interior de São Paulo — que prefere não se identificar — ficou tão aflita que resolveu pedir ajuda nas redes sociais. Ela contou que a filha de 5 anos começou a se masturbar aos 3 anos. No entanto, o que mais incomodava era o fato de a menina se tocar, inclusive, em público. “Começou na cadeirinha do carro e no cadeirão de alimentação. Ela se esfregava no cinto. Na época, conversei com o pediatra e ele explicou que era natural, um momento de descoberta. Mas conforme ela crescia, foi aumentando a frequência. Por exemplo, deixei de colocar até calça apertadadinha nela, pois entendi que estimula mais. Tentamos conversar e teve até momentos em que até acabei ficando brava, pois ela fazia na frente de outras pessoas. No ano passado, ela passou a fazer na escola”, contou a mãe, em entrevista à CRESCER.
NÃO É CEDO DEMAIS?
Apesar de parecer muito cedo, a neuropsicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento (USP), Deborah Moss, explica que é absolutamente normal. “Nessa idade, normalmente a criança desfralda e os genitais se tornam mais acessíveis. Ela descobre que o toque é prazeroso. Antes, ela tinha o prazer da sucção, de colocar a mão na boca, agora, ela vai percebendo novas partes do corpo. No entanto, é fundamental que os pais não confundam esse toque com algo erótico ou sexual. A criança está apenas explorando e conhecendo o próprio corpo”, explica.
Quanto a fazer em público, segundo a especialista, nessa fase, a criança ainda não tem a crítica, juízo moral ou constrangimento. “Isso acontece na área frontal do cérebro e essa parte só termina de se formar por volta dos 11 anos. Então, crianças menores não costumam ficar envergonhadas por fazerem isso em público”, diz. “Também é difícil para elas conterem a vontade. Os pequenos têm essa questão do imediatismo muito forte. É como se fosse um comportamento involuntário, inconsciente”, completa.
COMO OS PAIS DEVEM AGIR?
A orientação é que os pais intervenham, mas não no sentido de boicotar o prazer, mas para introduzir a noção de privacidade. “Os pais devem explicar aos filhos que algumas coisas eles podem fazer, mas não na frente de outras pessoas. Tudo isso com muita calma, sem alarde ou estresse e sem esperar dos pequenos um senso crítico”, diz. “Não castigue ou envergonhe a criança, pois o constrangimento está nos pais e não nas crianças. Se for necessário, use de recursos lúdicos, como bonecos ou livros, para tirar o foco do corpo do seu filho. Dê exemplos, explique que você não fica sem roupa na frente de outras pessoas”, orienta.
Para a psicóloga Ana Canosa, da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, quando um adulto reage mal, a criança pode entender o prazer sexual como proibitivo e sujo. “Devemos mostrar que há hora e lugar para tudo”, afirma. Os pequenos não assimilam o conceito de privacidade, basta distraí-los quando se estimularem em público. A partir dessa idade, Ana recomenda dizer com calma: “Sei que é gostoso mexer no pênis/vulva [ou apelido], mas só faça isso quando estiver sozinho no quarto ou banheiro, tudo bem?”.
“Nessa fase, a criança também começa a reconhecer o gênero ao qual pertence e a reparar nas diferenças anatômicas entre meninos e meninas. Então, em vez de repetir o clichê ‘Tira a mão daí’, entenda que não tem conotação erótica e que a criança apenas percebe que friccionar a região é gostoso”, afirma a psiquiatra Carmita Abdo, da USP. Ainda segundo ela, aproveite o momento para abordar questões relacionadas a prevenção do assédio. Explique que os genitais são especiais e ninguém deve tocá-los – a não ser pais, avós ou outros cuidadores durante o banho ou limpeza. E que, caso aconteça, ele deve contar e você não vai ficar bravo.
DE OLHO NO EXAGERO
Por outro lado, a especialista alerta para que os pais fiquem atentos à frequência desse toque. “É preciso diferenciar o toque em situações de tédio daquele que passa do limite esperado para a idade. O exagero pode estar ligado a questões de ansiedade; a criança pode estar usando isso como uma ‘válvula de escape’. Se esse comportamento estiver tomando um espaço muito grande no dia a dia, pode ser sinal de que algo esteja acontecendo. Os pequenos podem se comportar dessa maneira para fugir de determinadas situações inconscientemente”, completa.
Nesse caso, é importante buscar orientação para investigar a rotina do seu filho. “Eu atendi uma criança de 9 anos que era a mais nova da classe dela. A escola estava exigindo muito dela, então, a forma de ela extravazar era se tocando em sala de aula. Mas ela não se dava conta de que era algo constrangedor. Então, avaliamos e chegamos a conclusão de que o melhor era ‘atrasá-la’ em um ano. Portanto, era apenas um sintoma de um problema que ela estava enfrentando”, exemplificou.
DESFECHO POSITIVO
Sobre a nossa personagem, alguns meses depois, a mãe contou à que a filha diminuiu muito a frequência do toque. “Quando publiquei nas redes sociais foi até um alívio. Muitas mães comentaram, se solidarizaram, disseram ter passado pela mesma situação e deram dicas. Eu conversei de novo com a minha filha, não proibi mais, acabei dizendo que ela podia fazer, mas precisava lavar a mãozinha antes e fazer só no quarto dela. Expliquei que na frente das pessoas não era legal. Aconteceu até de a gente estar passeando e ela querer ir embora rápido para fazer, mas eu tentava mudar o foco. Então, tem ajudado muito”, finalizou.
Fonte: Crescer
Créditos: Crescer