POR RUBENS NÓBREGA

download (84)

Flávio Cavalcanti (1923-1986), o mais polêmico apresentador da televisão brasileira nos anos 60 e 70, celebrizou-se também por quebrar diante das câmeras os discos de vinil que tinha na conta de ruins, muito ruins ou péssimos, em razão de melodias pobres e letras medíocres que conteriam. Reza a lenda, certa vez ele foi desafiado por uma vítima: “Com que moral você esculacha a obra dos outros se só fez uma música em toda a sua vida?”. No revide, o desafiante foi nocauteado sem contemplação por este duro golpe do mais puro cabotinismo: “Não precisei fazer mais de uma para fazer melhor que todas as que você já fez ou venha a fazer”.

‘Manias’ seria a única ou, pelo menos, a mais famosa canção de autoria de Flávio Cavalcanti, tendo o irmão Celso como parceiro. É realmente um clássico, beleza de canção gravada por Nelson Gonçalves e Dolores Duran, entre outros monstros sagrados da Música Popular Brasileira. Para quem não lembra, lembro dela um verso magistral dizendo assim: “Entre as manias que eu tenho/uma é gostar de você”. Só por esse pedacinho merece subir ao patamar das obras-primas que por serem únicas bastariam para consagrar o seu criador, dispensando-o da feitura de outras.

Tal e qual a gente poderia dizer da criação magnífica de um outro Flávio, o Flávio Eduardo Maroja Ribeiro, o Mestre Fuba, que se dependesse deste colunista poderia resumir sua produção musical à magnífica ‘Porta do Sol’.Mas, entre as manias de Fuba, uma das melhores certamente é a de compor músicas de muita qualidade poética e melódica. Tanto que não parou em uma, mesmo uma linda feito aquele hino ao nosso Extremo Oriental ou aquele outro, o frevo-enredo d’As Muriçocas de Miramar, trilha sonora da folia que toma conta da Aldeia das Neves em semana pré-carnavalesca.

Mesmo assim, mesmo tendo cometido duas peças que lhe garantem cadeira cativa na ala dos nossos melhores compositores, anteontem pela manhã, graças à colega Edileide Vilaça, apresentadora da CBN João Pessoa, ouvi nos estúdios da emissora um trelelê, um zunzunzun zumbindo. Zumbindo e me dizendo que Fuba não é apenas um fazedor de frevo ou maracatu. Tanto que já tem pronto o primeiro CD de uma série na qual ficará gravada toda a versatilidade do artista que não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz samba também. Com a mesma criatividade e competência com que faz rock, reggae, forró, baladas… Um talento assim, sinceramente, é coisa do outro mundo. E, por favor, não entendam isso como trocadilho desrespeitoso a alguém que acredita em outras vidas, antes ou após a de agora, dando crédito ainda às manifestações imateriais e por vezes inexplicáveis de quem já passou por aqui.

Não fosse assim, não repartiria com vocês uma história extraordinária, literalmente extraordinária, que Edileide me contou e o protagonista me confirmou. É sobre a canção ‘Luz do Amor’, que dá título a esta coluna e deve ser o ‘carro-chefe’ do novo disco de Fuba. Uma canção que esperou dez anos ou mais por uma letra. Nesse período, várias foram tentadas, mas nenhuma casou com as notas. Até que…Coisa de seis ou sete meses atrás, Guta, ex-mulher de Fuba, trouxe-lhes uns versos.

Diretamente do Centro Espírita Luz do Amor, de Amparo (SP).

Quem botou no papel (ou psicografou, se preferem) explicou que se tratava de criação da mesma pessoa, só que em vida passada. Ou seja, o próprio Fuba fizera a letra em outra encarnação e somente nesta em curso tinha a oportunidade de resgatá-la. E o resgate se consumou quando ele pegou o violão e foi lendo e cantando e percebendo que sílaba por sílaba as palavras se encaixavam com perfeição na música.
 

A LETRA

E o que é o palco para o artista/ Um lugar onde tudo é diferente/ Onde gente é bicho, bicho é gente/ O palhaço é rei ou folião/ E o artista, tal qual malabarista/ Incorpora a luz do personagem/ Fantasia e cria nova imagem/ Efetua-se a transformação/ E aos poucos tudo está mudado/ O mundo ficando encantado/ E nesse cenário de ilusão, a criação/ Que mundo envolvente e transparente/ Onde a inveja, a cobiça e a dor/ Diante da arte o ódio não vence /A luz do amor.

 

QUAKEBOT

Levei dois sustos semana que passou. Ao abrir a correspondência eletrônica, deparei-me com matéria do Portal Comunique-se informando e mostrando que não demora muito e nossos conteúdos informativos serão escritos por máquinas. Dia seguinte, peguei a correspondência em papel na portaria do prédio onde moro e no exemplar da revista Imprensa de junho último encontrei reportagem intitulada ‘Você, robô’. Assinada por Gabriela Ferigato, a matéria conta que o Los Angeles Times já usa um robô jornalista para escrever matérias sobre terremotos. A exemplo daquele de 17 de março deste ano, data em que um tremor de 4,7 graus de magnitude tirou os moradores de LA de suas camas às 6h25. Três minutos após, o jornal trazia em seu sítio na Internet notícia completa sobre o ocorrido. “Primeiro veículo a reproduzir o fato, a matéria foi assinada pelo repórter Ken Schwencke. Na realidade, ele só apertou o botão Publicar, pois o texto havia sido escrito por Quakebot, um robô jornalista”. Trata-se, na verdade, de um algoritmo planejado para extrair elementos relevantes do Serviço Geológico dos Estados Unidos. “Assim que o serviço emite um alerta, o algoritmo captura os dados da notificação e os insere automaticamente em um modelo de texto pré-escrito. Logo após, carrega o artigo para o sistema de gerenciamento de conteúdo do jornal e envia uma notificação por e-mail para os editores, que apenas têm o trabalho de ler a matéria por segurança e publicá-la”, completa a colega aqui do Brasil.